quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Galanteando uma nova história

uma nova vida, pode ser; mas no sentido bem figurado, porque essa eu já andei gastando bastante... primeira noite em uma casa que mesmo que me mantenha confortável, ainda gera uma insegurança, um medo, uma cerimônia. É como conversar por longas horas com um recém-conhecido: se cuida a maneira de andar, falar, portar-se. Aos poucos tornamo-nos íntimos e já abrimos a geladeira sem preocupações, andamos semi-nus e nem nos preocupamos tanto com a limpeza e boa aparêcia do local. Seria um comodismo? Eu prefiro acreditar que é apenas um encaixe. Essa palavra me traz uma sensação incrível, esplêndida. Encaixe, é como colocar o carro na baliza com perfeição. Ele simplesmente cabe ali, é perfeito para aquele local. Pois bem, com o tempo me torno perfeita para minha nova casa.

Pensava hoje em como as coisas perdem e ganham sentido facilmente. Basta acrescentá-la ao seu leque de possibilidades e pimba, agora o cenário é outro. A plaquinha com meu nome que ficava na porta do meu quarto quando morava com meus pais hoje não tem sentido ao ser colocada na única porta da casa, quando inicio minha experiência de morar sozinha. Ora bolas, quem mais dormiria naquele quarto?
E as organizações, que dependem de mim e de ninguém mais? Se eu perco algo ou reclamo de qualquer coisa, a culpa é necessariamente minha. Vida dura...

E falar sozinha? hahahaha, confesso que hoje essa postagem está excepcionalmente pessoal. Não resisto e hoje serei pura. Como eu falo sozinha.. acho que se é verdade essa história de que os mortos nos assistem lá de cima, eu garanto boas risadas que substituem perfeitamente uma "Sessão da Tarde" qualquer.

Até agora as coisas tem sido gostosas, considerando a minha prodigiosa transformação de miojo em macarrão tailandês e a liberdade nua e crua de andar vestida ou não em casa. Não vou me gabar... daqui a pouco a noite chega e não tem TV no quarto: sorte, só quero sorte de ter um corpo cansado e uma mente tranquila pra dormir pesado e só levantar com o sol.

Desejo um bom recomeço diário à vocês, caros colegas. E desejo que amanhã, mais do que em qualquer outro dia, o meu recomeço seja, no mínimo, promissor.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

live high... and fall

Hoje escrevo para quem tem problemas de amor. Se você tem outros problemas, tente se encaixar, pois quando estamos com um martelo prestes à cair sob nossas vistas, o que vier é lucro; o problema enunciado sempre se encaixa, é só uma questão de força de vontade. No final, todos temos os mesmos problemas, sofremos do mesmo mal.
Para a euforia dos psicanalistas, hoje eu critico os sintomas; mas não apenas critico, como ataco o x da questão.
Estamos de olhos fechados! Metaforicamente e literalmente, cagamos e andamos para o que acontece em volta. Não é de primeira que eu critico a indiferença das pessoas, mas hoje a coisa saiu dos trilhos.
Você acha que faz o bem? Está envolvido com alguma política pública? Você acha que beneficia alguém? Pois então, te proponho um desafio.
Pense no quanto você conhece o objeto da sua ação. Se você faz caridade, pense no quão amigo você é das pessoas; pense nos seus pacientes, pense no x da questão. Para fazer algo à alguém, é bom conhecer este alguém. É bom entender este alguém. Fazer as coisas de olhos fechados é, dentre tantas ignorâncias que não me ocupo em preencher aqui estas linhas vazias, uma hipocrisia.
A política é pública porque pressupõe uma ação voltada ao público. Quem praticará esta ação? Quem atingirá o público? Quem se arriscará a se meter num mundo de subjetividade desconhecida e imprevisível? Você.
É mesmo?
Isto é um problema de amor. Veja bem, se você quer estar com alguém, precisa fazer algo para que isto aconteça. Se você já sabe quem é este alguém, meio caminho está traçado. Tra-ça-do, não andado. Na parte da ação, garanto que metade dos que lêem aqui empacam. Eu, por exemplo, empaco no amor.
Me envergonho, e me orgulho em dizer que me envergonho. Mas eu não cruzo os braços e fico parada só repetindo que não faço. Cotidianamente eu luto para ser o melhor pra mim.
Você não empaca? Ora, caros colegas..temos aqui um aparente valentão.
Para se fazer algo à alguém, precisa-se atingir o alguém, chegar frente a frente, sentir o "ventinho da boca" desse alguém e aí sim fazer o que se propõe.

Aconteceram coisas que em si não me provocaram tanta tristeza ou pena. A reação dos outros frente aos acontecimentos é que me chocam. Melhor dizendo: a não-reação. A população está anestesiada! Ninguém se preocupa com o sentimento alheio?
Olhem, seus individualistas, pode ser influência do Pinchonzinho, mas eu tô fula com essa visão estreita cavalar que vocês nutrem.
Se você pensa fazer política pública, saia da sua sala, deixe o seu café esfriar, tire estes óculos de meio grau de astigmatismo da cara e vá até a esquina. Observe não só o que você está acostumado a diagnosticar como problema da sociedade. Vá até o dito problema e desmistifique.
FAÇA a política ser pública. Caso contrário, ela não passa da fronteira do privado; não se engane por a Universidade ser Instituição pública. Ali dentro tem mais falcatrua do que se pensa.

Olhe para o lado, olhe para o lado, olhe para os lados, olhe para o mundo.
Não se canse de olhar. Quando seus olhos não filtrarem mais as imagens, faça alguma coisa, fala qualquer coisa, faça coisas. Não canse de fazer, e se cansar, desista. Mas não volte mais. Seja mais um engravatado que diz se importar com o povo, fazendo orgia com o alheio.

Hoje escrevo para quem tem problemas de amor. Todos temos...qualquer problema. Não morra indiferente, você tem a capacidade de pensar e de fazer, por que desperdiçar? Se tornar autômato. Seja humano e mostre o que é ser humano. Evolua, por favor, evolua.

Quem te viu, quem te vê, ele disse algo bom:

"Quando um homem assume uma função pública, deve considerar-se propriedade do público" (Thomas Jefferson)


Você.. é propriedade de(o) quem(quê)?

terça-feira, 20 de outubro de 2009

chão de areia

Tenho algo com expectativas. Hoje escutei no rádio uma imitação da chamada que escutamos tão insistentemente em aeroportos. Este som me tráz algo gostoso de sentir. É uma sensação confortável, uma sinestesia que me cobre os fios de cabelo de entusiasmo e euforia. Partir e chegar são dois verbos que me acompanham desde o primeiro mês de vida.. talvez seja por isso que tenho em mim algo tão mutante. Na personalidade, na geografia, na aparência, nos sentimentos..não gosto de ser parada, não gosto de ficar parada. Outro dia li que devemos refletir sobre o início da vida...quando foi mesmo que comecei a viver? Será que ao mesmo tempo que comecei a existir? Existem frases em sites aos montes sobre isto, e a mais famosa, eu aposto que seja : ' tem gente que existe.. eu vivo'. Parando pra pensar, até que isso faz um sentido bem filosófico. Decartes nos deixou um legado extenso sobre a existência, pensamento, consciência. Se estou aqui agora digitando este texto, tenho garantia de que existo. É?
Mas existo em que mundo? No mesmo que o seu, que lê?
Não sei se todos vivemos em mundinhos diferentes; assim como todas as manhãs vejo cada passageiro no ônibus em seu mundinho ouvindo música, não tenho tanta certeza em dizer que estamos assim tão separados física e emocionalmente.
Resumidamente a psicose se instala de forma a psicólogos, psiquiatras e psicanalistas diagnosticarem um distanciamento da realidade por parte destes "loucos".
Foraclusão é o termo que a Psicanálise utiliza para definir- ou de alguma forma, elucidar- a condição que um portador de esquizofrenia, por exemplo, se encontra.
"bem fazem eles que sabem qual é o seu lugar, vivem em sua bolha e defendem isso! saem pelas ruas gritando, batendo o pé e lutando para que sejam respeitados e, em muitos casos, levados à razão"

Escutei isso de uma querida que sempre me encontra quando quero me soltar... às vezes, devo confessar, minha Consciência é liberal e diz uma coisa dessas. Quando isto acontece, corro para registrar: nunca se sabe.

Vivendo em mundinhos diferentes as pessoas não se comunicariam...se isto for verdade, já sabemos que vivemos em um só mundo. Cada um com seu jeito, deve-se admitir, mas ocupamos um espaço em comum. Viver aqui e acolá me remete à minha vida e isto cansa.. pensar sobre a própria vida como um todo, tentando resumí-la e encontrar respostas para as perguntas que fazem doer o crânio não é experiência tão acessível assim para quem não chegou à metade de um curso de Psicologia. Outro questionamento ( não cesso nunca, socorro!): precisamos passar por um processo de aprendizagem acadêmico para sabermos o que fazer da vida? Cara, sei lá.
Com um diploma numa mão, a coleção de obras completas do Freud na outra e o cartão do TRI no bolso eu não tenho certificação de que serei uma boa psicóloga. O que raios é ser uma boa psicóloga? mas que droga, já mudei de assunto de novo!

O que eu dizia é que escutei no rádio o barulhinho do aeroporto e me senti bem. Remeti esta sensação ao fato de gostar de mudança, de não gostar realmente de estacionar e assim estagnar. Gosto do movimento, dessa dinâmica:
Quando vou embarcar, tenho expectativas quanto ao que vou encontrar. Quando vou desembarcar, tenho expectativas quanto ao que vou encontrar também. Ou seja, expectativas eu crio o tempo todo e nestas duas situações especificamente. Gosto de expectativas, quando elas não me iludem. Existe isso?

peço licença para reler o livro sobre existencialismo da coleção pocket. a coisa vai ficando séria.

domingo, 18 de outubro de 2009

O que faremos de nós*

Sabina sentou para descansar as pernas. Em frente aos seus cabelos mal arrumados, mas cheirosos, sentiu a imensidão. Livros, livros, livros. Todos com capas coloridas, tamanhos e grossuras atraentes e cheiros que, segundo ela, não diziam muito sobre a história. Para mim o usado serve. Prefiro o que já foi lido, perpassado por outras mentes inquietas e folheado por dedos que compõe um corpo, algo real.

Fechou os olhos, numa tentativa vã de apaziguar as diversas vozes que gritavam de dentro daqueles livros mal amados, nunca apreciados em sua verdadeira essência. Aos poucos, a imagem de seus conhecidos - que no cômodo ao lado tomavam café e falavam de podres do passado - desapareciam como a cena em que Joel vê os objetos à sua volta sumir (pluft) como mágica, em Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças. Sabina apagava as pessoas, sons e objetos que a rodeavam e tentava se concentrar no escuro que seus olhos fechados a deixavam ver. Deparou-se com uma lentidão em sua corrente sanguínea, um deslocamento breve de ar para os pulmões e algumas partes de seu corpo latejando. E só. A paz espiritual que ela esperava sentir ficou suspensa, como a cenoura que o cavalo nunca pega, como o objeto descrito por Lacan, como aquilo que se quer, mas não se alcança.

Olhava para cada título com a esperança de que lhe dissessem algo. Eles diziam, ela que não escutava. Refletindo, Sabina esboçou um movimento para pegar um livro laranja, com título "1968: o que fizemos de nós"*, mas pensou e logo disse em voz alta: Você não merece que eu te pegue e te leia. Este momento implica numa reflexão acerca de um livro que possa ser interessante, e você pode não me dizer nada.

Um espanto tomou conta de seu corpo e ela repassou as palavras. Ela não falava apenas de livros. Sabina falava de pessoas. Não era novidade que ela considerasse os livros suas melhores companhias, mas atribuir à eles a humanização seria demais. Ela falava exatamente do que pensa sobre si: passa muito tempo da vida observando, analisando, esperando. Encontra uma opção. Esboça um movimento para pegá-lo, e às vezes pega! às vezes Sabina se envolve! Se deixa levar e por incrível que pareça, gosta disso.
Ela gosta disso até perceber aonde está e, por algum motivo que ainda não consegui entender, ela solta o livro, desdém e se desvencilha. Não quer mais se prender e pensa que está certa, pois reduzir sua presença ( e leitura) à um único livro seria muita perda de tempo. Sua vida está passando e ela quer saber de tudo.
Esta, caros colegas, é a armadilha em que ela cai sempre. Sabina quer saber de tudo e, sabendo que isto não é possível, fica inerte e não se esforça para saber de nada.
Faz um tempo consideravelmente longo que Sabina evita relações melindrosas. Ela sabe o que deve fazer, sabe que fará bem para si mergulhar na piscina de gelinhos com refresco de limão, mas ela não vai. E, taxativa, ela permanece fincada à terra, pousando sobre sonhos mal dormidos seus desejos que explicitam as relações de poder.

Sabina..Sabina.. escute-me, aqui quem escreve é sua consciência.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

We were fated to pretend

"(...)não existe demanda espontânea e natural, nem universal, nem eterna, mas pelo contrário, ela é produzida pela oferta". Pg 95.

Eu tenho pensado em escrever sobre isto há alguns dias, mas tenho também pensado em fazer outras diversas coisas que, juntas, não me deixam fazer nada. É tanto compromisso que eu me sufoco e me inutilizo. E digo que eu faço isto porque eu me ponho em uma posição de manter a relação com tudo e todos que, reciprocamente, assumem um compromisso. Fica prolixo demais? É apenas a tentativa de mostrar que se algo nos incomoda, parte da culpa é nossa, por deixar isto nos incomodar e mais: por ter criado isto. Não vou dizer que o aquecimento global foi criado só por mim, porque ele me incomoda, mas afirmo que parte da culpa é minha. A crise da economia também foi, em parte, culpa minha. Indiretamente, tudo o que acontece no Universo foi culpa minha. E haja senso autocrítico para entender isto e não se deprimir com mais um urso polar que morre por não ter o que comer.
Voltando ao que reconheço como tarefa (e não excluindo a possibilidade de que falar sobre as incomodações faça parte da tarefa), penso constantemente na MINHA demanda. Sei lá se o Lacan ou se o Guatarri criaram a demanda como sua ou minha, mas o fato é que eu estou falando disso agora com propriedade, então.. sim, é a minha demanda que me faz pensar agora.
Imaginem esta cena: um rapaz de estatura mediana, com os cabelos ondulados e claros e razoavelmente curtos, na atura das orelhas, vestido com um jeans e um moletom olha para o nada. Uns colegas chegam perto dele e um sorriso em sua face agora nós percebemos. É um sorriso leve, daqueles bem bobões, na categoria dos apaixonados até os chapados. Começam uma conversa e logo o rapaz se perde meio a gargalhadas.
Agora vejamos outra cena: um outro rapaz, alto e magro, de cabelos pretos e em pé em frente à um aparelho de som que toca, intencionalmente, Wraith Pined to the Mist. Ele se balança um pouco, bate um pé no chão e segura uma cerveja geladérrima ora com a ponta dos dedos da mão direita, ora repassa para a outra. Olha atentamente em volta as pessoas que estão curtindo o mesmo som e de repente avista uma colega que não vê há algumas horas. Em direção à ela, ele se mostra intencionado a conversar.

Não é querendo fazer uma análise de duas possibilidades -que são mais realidades, mas isto fica pra outra hora-, mas já fazendo isto, dá pra notar que o primeiro rapaz, que chamo de Paulo, estava mais na dele, mais 'neutro', e foi encontrado para que, em sua tábula rasa as pessoas depositassem seus blábláblá's. Não desconsidero, de forma alguma, que Paulo pensasse em algo importante antes de ser abordado, mas vamos visualizar este momento da chegada de seus colegas como o momento da ação. Antes da ação, tínhamos a inércia, o vazio, uma tábula rasa. Generalizo, claro, para tornar mais clara a minha análise.

No segundo caso, Frederico vai em direção à Roberta para travarem uma conversa e nele já visualizamos a intenção, a ação e a demanda. BINGO! Aqui eu vejo o oposto daquela tábula rasa que agora enrola uma seda do outro lado do pátio. Percebam, Frederico demandou e Paulo não.

Agora que cheguei aonde precisava, torno a vestir a capa de protagonista e penso que na real mesmo eu não sei é de nada. Eu só sinto. Aliás, eu nem sei se posso dizer que sinto.. quem sou eu pra entender toda a abstração de um sorriso, por exemplo? Sem mais firulas, eu abSINTO, pode ser?
E aqui trago mais uma metáfora psicanalíticalcoólica para que enxerguemos bem a minha capacidade (e a sua também, não adianta colocar o corpo fora) de dominar as coisas. Eu demando, como eu dizia, assim como Frederico. Não sei ser tábula rasa, não sei não pensar em nada, não sei como enxergar alguém e não ir em sua direção. Belchior(e aqui parece que eu mudo de saco pra mala, mas no fim vemos que todos falam da mesma coisa) bem disse: "O meu lugar é onde você quer que ele seja; não quero o que a cabeça pensa, eu quero o que a alma deseja; arco-íris, anjo rebelde, eu quero o corpo; tenho pressa de viver".

Ok, já admito que demando e o entendimento por trás disso é muito extenso, não tenho substrato suficiente ainda.. porém, pensando no primeiro verso, em que a demanda é gerada pela oferta, me pergunto: e de quem parte a oferta? é tão determinante assim: vem de alguém para alguém pretendendo algo? E o acaso, existe?
aaaaaaaah, raios. uma fatia de queijo minas e um copo de leite me tiraram dos trilhos, recomeço em outra primavera, colega.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

"e agora, o que eu faço com tudo isso que eu sei?"

Caros colegas, antes de iniciarmos a reflexão de hoje, digo que o dia está bom e que o episódio anterior foi puro desabafo digno de uma tentativa de visibilidade. Para confirmar e reforçar o que tentei esboçar, recorto um trecho do texto 'a libido do psicanalista', de Daniel Kupermann. Ao esboçar a introdução ao que se diz Diário Clínico, o autor traz a perspectiva de Sándor Ferenczi, psicanalista húngaro que, segundo a Wikipédia, foi um dos colaboradores mais íntimos de Freud, então, pshiuuu, ele merece um tiquinho de respeito. Sobre o psicanalista, há a questão da distância que se tem, na prática da análise, do analisando. Traduzindo em suas próprias palavras: "(...) a insensibilidade do analista entendida como uma forma de hipocrisia, uma recusa, por parte do psicanalista, dos próprios afetos de amor e, sobretudo, de ódio, suscitados nas análises. Convém notar que a noção de sensibilidade, oriunda do campo da estética, é empregada por Ferenczi no seu sentido rigoroso como a capacidade de afetar e de ser afetado pelo outro, e não no sentido coloquial, que poderia nos remeter às idéias de plácida benevolência ou de compreensão ilimitada e passiva etc., que foram apressadamente associadas a sua figura. A insensibilidade ou a hipocrisia é, assim, a principal figura do álibi passível de ser empregado pelos analistas para escapar das duras conseqüências do ato analítico."

Firulas à parte, posso começar o que desejo hoje.
Meio à um almoço gastronomicamente aceitável para quem paga tão pouco dinheiro, escutei as seguintes palavras: 'a ignorância tem um porquê'.
Pensei.. pensei.. pensei e constatei que não sou ignorante quanto à isso. E que pena, às vezes gostaria de ser. Pra quem sabe, o cuidado é mais do que necessário, uma vez que se tem instrumentos nas mãos para driblar os obstáculos, bem como para se enforcar.
Repensando alguns anos atrás, eu andava na rua e meu universo era puramente local, focal. Aqui e agora. No máximo, pensava nos próximos minutos.
Hoje, penso no ontem, no agora como reprodução do ontem e no amanhã como dependente (ou não) do agora. À isso acrescentamos uma xícara de psicologia social com suas bagagens subjetivadoras, duas colheres de desenvolvimento humano e as incógnitas filosóficas da tábula rasa e do inatismo, alternando pinceladas da teoria construtivista. Quando a mistura borbulhar, leve ao fogo e acrescente uma pitada de psicanálise, pra mudar todo o gosto da gororoba. Uma pitada, eu ressalto, pois este tempero é forte e mesmo que se queira uma receita autêntica, é necessário dosar o quanto quer se queimar.
Depois de pronto, recalque, ops, digo, congele e sirva em muitas e intermináveis porções dos nossos atos falhos.

Imagina se colocássemos no liquidificador! Pois é bem assim que uma mente funciona. O que já tive, o que tenho e o que posso ter. Steven Pinker à parte, mas do que é feito o pensamento eu já descobri há tempos.. o problema é saber o que fazer com tudo isso que sei.

Castração, perversão, mediação simbólica, representações sociais, ética, niilismo, impostura, medos básicos, melancolia e instituição. Eu dava tudo isso aí e mais um kit de Obras Completas por um minuto de 'limpeza mental'. Sem Psicologia, sem ciência, sem essas coisas todas que me tiram da alienação.
Aham, é, peço ser ignorante por um minuto e respirar um pouco. Como não estamos no setting de Crônicas de Nárnia nem de Click, me conformo com 'a libido do psicanalista', ou 'álibi do psicanalista' e completo meu diário de campo.

é, senhores.. o que seria de nossos rabiscos vividos se não tivéssemos tantas estruturas pensantes?
cansei, durmo porque quando estou no inconsciente: [mode on], não sou responsável pelo que acontece. ufa, e eu achando que o impasse era em saber o que se faz com a tarefa do grupo quando se entende porque o medo aparece sempre e a procrastinação toma conta da galera.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

yeah, all you do is take.

Bosta de vida, merda de dia, saco de faculdade. Peço licença para iniciar um post de maneira agressiva. Licença.
Que droga! Mais uma vez eu caio na armadilha que eu mesma invento!
Reproduzo aqui o que faz com que eu pense que determinadas atitudes devem ser tomadas imediatamente e com prazo interminável.

Sandra me pergunta aonde estou. Digo minha cidade, minha faculdade, a sala aonde estou e ao lado de quem estou sentada. Ela me pergunta o que eu estou fazendo e eu digo que estou assistindo à uma aula. Se estou feliz? não, não sei.. o que é estar feliz? é estar de bem com tudo e com todos, ter a auto estima elevada, sentir-se confiante e pronta para encarar o mundo e ser grata pela família e amigos que tem? é isso? então não, não estou muito feliz não..
Por que você está aonde está? Porque gosto de desafios... eu acho. Esta disciplina me desperta algo, ainda não sei nomear o que sinto.
Você entende o porquê de não de sentir feliz? Acho que entendo. Eu não me sinto à vontade, de novo. Eu sei que você já escutou isso milhares de vezes saindo da minha boca, mas eu acho que estou descabida aqui. Sinto que não faço a menor diferença aonde estou.. mas calma, não é generalizado. Eu ando me enturmando bastante e confesso que estou me sentindo bem "querida" pelos outros. O problema é o Cacau. Ele foge de mim e parece que a conversa não engrena, parece que ele e eu percebemos que estamos nos entendendo pelo olhar, mas não queremos assumir isso. Entende o que eu digo?
Você diz que o Cacau foge de você. Você o procura? Óbvio, pra ele fugir de mim eu preciso procurá-lo.. (pra que fazer terapia, meu Deus?) Nas conversas, nas danças, nos olhares, nas presenças e até nas risadas. Eu acho que ele foge porque eu sou intensa demais, Sandra. Eu olho nos olhos, eu falo o que eu acho sem ser arrogante, mas falo, eu rio alto, eu opino.. e ele parece ser tão 'em cima do muro'. Sabe aquelas pessoas que não falam mal da fulana, nem no ciclano, nem dizem sequer o que acharam de um livro que leram?! Parece que você precisa implorar pra que ele diga o que acha sem se interromper e dizer "ah, sei lá..".
Poxa, eu quero saber!
O que você quer saber? tudo. eu quero saber se ele tá feliz, porque ele tá triste, se ele gosta de torta de limão. quero saber se o dia dele foi bom, quero saber tudo de todos. é tão difícil que as pessoas entendam que eu quero saber da vida delas?


Meliza reclama tanto, Alfredo. Ela fala o tempo todo que não é querida... é afoita e precisa crescer.
Sandra, ela é uma criança! Tem apenas 24 anos, não sabe nada da vida!
Mas ela já deveria saber como se portar quando um rapaz não a quer.
Ora bolas! como se existisse uma idade para se conformar com o amor não correspondido.. de onde você tira estas ideias?
Não me venha com essas suas abstrações de que não existe idade para as coisas. A vida deve ser mais pontual, Alfredo.. veja nós dois: se você tivesse um ano a mais eu não me casaria com você. Veja que absurdo estar com alguém de outra geração!
Às vezes me espanto com você, Sandra. Como você se formou em Psicologia com esta cabecinha de vento? Devíamos ter um daqueles detectores de metal como nos aeroportos nas faculdades. Mas ao invés de metais, os aparelhos iriam barrar as pessoas que portassem ignorância.

Doutora, acho que sofro de Impostura.
Como assim?
Impostura é não ter postura, é não se posicionar, certo? pois bem, acho que não assumo posturas em lugar algum.
Você está falando de qual lugar, especificamente?
Especificamente nenhum. Digo que em nenhum lugar eu me encaixo.
Por que você acha isso?
Ninguém faz questão da minha presença.. todos me odeiam e na verdade fingem que gostam de mim. O que eles querem, na verdade, é ter alguém inferior por perto para sentirem-se bem. é isso o que a sociedade quer hoje: desigualdades!
Meliza, acalme-se. Tome aqui um lenço, enxugue estas lágrimas. Você precisa pensar mais nas suas qualidades. Você é uma moça bonita, pra começar. Tem cabelos lindos, olhos lindos, um corpo lindo e um sorriso que encanta à primeira vista. Olhe o seu senso de humor, você sabe contar piadas, sabe ser engraçada.. use disto! Não pense em quem não gosta de você. Foque suas energias n....
O que foi, Sandra?
Nada, acho que você pode completar o que eu dizia..
Hã?
Continue o que você dizia.
Não entendo, você estava me elogiando.. continue, eu estou me sentindo melhor.
Por que você se sente melhor?
Ah, não! Pare com isto! Você me elogiava e agora me pergunta o porquê de tudo de novo?
Vocês, da psicologia, da psicanálise, tem isso: não se doam. Tem medo. Vocês só perguntam, só escutam.. e eu? Dá pra falar comigo? Aposto que este seu momento foi uma fuga.. você quer falar, mas não pode, com aquele retrato daquele velho com um charuto que tanto te intimida.
Ande, doutora, você pode falar mais.
Sandra, fale sobre a sua angústia.
Que nada! Eu vou embora, falar com o porteiro, que me dá conselhos..vocês, quando doam muito, já interrompem e vão pro outro lado. Aí eu acho que estão sendo atenciosos e me iludo achando que gostam de mim. Vocês fazem a merda e eu que me ferro!
Você, doutora, é igual ao Cacau... é, é sim! Você não é dinâmica comigo, só pergunta o que lhe convém e nem me conforta quando eu preciso.. Olhe, o dinheiro da sessão está com a secretária, eu não venho mais.
Meliza..

x

E foi assim, lendo este caso, que eu percebi o quanto as pessoas não se comprometem mais. Todos tem ocupações e princípios e ninguém parece querer abrir mão para fazer um agrado ou apenas pra mudar a rotina. O individualismo está se tornando coletivo, cuidado.

domingo, 27 de setembro de 2009

I've been long.. a long way from here.

Os últimos acontecimentos andaram surrupiando a minha leveza vital de uma maneira cruel. Quando eu tinha grandes preocupações e compromissos à curto prazo, sabia que eu precisava organizar o meu tempo e fazer tudo dando o máximo de mim. Parar algo concreto pela metade pra pensar em algo que angustia e se mostra tão abstrato ao ponto de ser insustentável era loucura - e entenda este momento como pleno de sanidade.
Acontece que quando a gente se desocupa e se propõe a "pegar pesado" pra "ficar leve", as coisas mudam de figura. Radicalmente.

Quando entramos em um quarto escuro, não enxergamos nada. Se houver uma fresta de luz, conseguimos nos localizar, mas os objetos estão completamente invisíveis aos nossos olhos. Eles estão ali, mas se camuflam e nos emprestam um pouco de paz.
À medida que o tempo passa, neste quarto escuro os objetos voltam de sua condição flutuante e se mostram novamente, já denunciando um intuito de nos equilibrar e localizar.
Há quem ache que isso é bom e ver as coisas no claro é melhor que viver na incerteza.
Eu discordo... tem muita coisa que não precisa vir à tona. Como pensadora e em constante contato com a psicologia e todo o seu kit de viagem para outras galáxias peculiares eu devo defender que cutucar a ferida faz ela ela cicatrizar mais cedo. E isso contradiz a minha opção (se isso fosse opção...) de preferir a camuflagem. Porém, existem certos assuntos e significações que são violentos demais, e muitas vezes nós não estamos preparados para lidar.
Minutinhos estão passando e o quarto já está estruturado com o básico: uma cama, uma janela, cômoda, armário...todos os pedaços, objetos separados por suas dimensões e cada um desempenhando uma função. O sentimento de unidade que o escuro me dava agora se esvai.

Eu me sinto segura agora, fechada no escuro, coisa que à noite não acontece. E só é assim porque eu sei quem tem alguém lá fora que está acordado e que de alguma forma, me cuida. Eu sei que tem luz lá fora e que se eu quiser fugir do medo, é só abrir a janela. Eu sei, eu tenho segurança e agora sim, uma opção.
No claro, as coisas reais te dão tapas para acordar e fixam seus pés no chão só pra você sentir que não pode sair dali.
Não me impressiona que alguns casais gostem de fazer amor às escuras... se passamos grande parte dos relacionamentos calcados no que nos parece real, por que deixar um momento de tanta imensidão ser regido por toda a moralidade e visível aos nossos olhos e mentes julgadores?
Apagar a luz é deixar-se levar pelo seu lado mais livre e espontâneo. Apagar a luz é uma metáfora que nos tenta dia após dia e nos serve de escape.
Não há como não pensar que no momento de maior espontaneidade os atos intrínsecos apareçam e nos denunciem, mas a grande diferença entre este estado de vigília ( e já explico o porquê de sentir-se em uma vigília ) e o estado de estar, de ser, é que no primeiro você se permite, o meio te permite. Nesse estado, você pode tudo. No escuro, você pode fazer caretas sem repercussão. No claro, sempre há consequências mais duras.

É um estado de vigília porque mesmo com toda a liberdade e abstração permitidas ainda existe uma brecha de censura ou realidade, como quiserem, que nos localiza, que nos orienta. Não perdemos completamente os sentidos quando apagamos as luzes. Sabemos como andar, quem somos e aonde estamos. O fim é o mesmo, o que muda são os meios que nos colocamos. Em que estrada eu sigo? Eu sei aonde vou parar, eu sei qual é o destino da viagem, isto eu não posso mudar. Mas a maneira com que eu vou me deslocar e me desenvolver até lá cabe a mim escolher. C'est la vie?

Se acender a luz facilita cutucar a ferida e a ajuda cicatrizar, então temos aqui uma solução parcial de todos os problemas. Temos mesmo?
Solução ou método paliativo, o que importa é o que te faz bem. E por ora, estar no escuro parece "mais tranquilo".

'If it makes you happy, then why the hell are you so sad?'

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

illusion never changed

I wonder how, I wonder why. Yesterday you told me about the blue blue sky and all that I can see, is just another lemon tree. (!!!!!)

não é à toa que isolamos ou loucos. colocamos todos os nossos defeitos debaixo do tapete quando condenamos alguém por falar coisas absurdas e desagradáveis. coisas que nós não queremos ouvir. pois bem, Paulo Coelho ilustra em Veronika Decide Morrer um trecho de uma lenda que ajuda a pensar no quanto estamos deturpando valores:

{(...)"Um poderoso feiticeiro, querendo destruir um reino, colocou uma poção mágica no poço onde todos os seus habitantes bebiam. Quem tomasse aquela água, ficaria louco.
Na manhã seguinte, a população inteira bebeu, e todos enlouqueceram, menos o rei - que tinha um poço só para si e sua sua família, onde o feitiçeiro não conseguira entrar. Preocupado, ele tentou controlar a população, baixando uma série de medidas de segurança e saúde pública: mas os policiais e inspetores haviam bebido a água envenenada, e acharam um absurdo as decisões do rei, resolvendo não respeitá-las de jeito nenhum.
Quando os habitantes daquele reino tomaram conhecimento dos decretos, ficaram convencidos de que o soberano elouquecera, e agora estava escrevendo coisas sem sentido. Aos gritos, foram até o castelo e exigiram que renunciasse.
Desesperado, o rei prontificou-se a deixar o trono, mas a rainha o impediu, dizendo: 'vamos agora até a fonte, e beberemos também. Assim, ficaremos iguais à eles'.
E assim foi feito: o rei e a rainha beberam a água da loucura, e começaram imediatamente a dizer coisas sem sentido. Na mesma hora, os seus súditos se arrependeram: agora que o rei estava mostrando tanta sabedoria, por que não deixá-lo governando o país?
O país continuou em calma, embora seus habitantes se comportassem muito diferente de seus vizinhos. E o rei pôde governar até o final dos seus dias" (...)

Veronika riu.
- Você não parece louca - disse.
- Mas sou, embora esteja sendo curada, porque o meu caso é simples: basta recolocar no organismo uma determinada substância química. Entretanto, espero que estea substância resolva apenas o meu problema de depressão crônica; quero continuar louca, vivendo minha vida da maneira que sonho, e não da maneira que os outros desejam. Sabe o que existe lá fora, além dos muros de Villete?
- Gente que bebeu do mesmo poço.
- Exatamente - disse Zedka. - Acham que são normais, porquem todos fazem a mesma coisa. Vou fingir qu também bebi daquela água.}

Seriam os loucos então os que nos falam a verdade e nós, por estarmos tão acovardados e prepotentes os excluímos e tampamos o sol com a peneira? Mas não faz sentido.. por que o homem não quer mais a verdade? Será o mal estar da atualidade? (Freud se remexeu agora no túmulo, deu pra sentir). O fato é que estamos cada dia mais acomodados na posição de não sentirmos desconforto. Não queremos incomodação, então não ouvimos a verdade: nos conformamos com a mentira. A doce mentira.

Louco, paranóico, com sintomas persecutórios, narcísicos, esquizóides e sociopatas. Podemos tachá-lo de 'antissocial' ou nós é que somos inadequados?

Se dizemos o que sentimos, somos idiotas, sem noção, neuróticos absolutos e completamente descabidos. Se omitimos a verdade, ficamos angustiados e fingimos que está tudo bem então somos 'normais' e aceitáveis? Então leva o prêmio quem mais fingir?

Pois não, às vezes me aparece aquele fio de loucura intrínseco e me sobe a vontade de falar com todas as letras o que sinto naquele momento, por mais impertinente que esta fala soe. O álcool, não nego, ajuda este processo a se concretizar. Mas o mais legal dessa brincadeirinha de criança supimpa é que mesmo sóbria a vontade bate na porta e muitas vezes - analiso ou não? - eu não a deixo entrar. Eu resisto e finjo. Que feio.. hipócrita!

Aí eu não deixo a sinceridade falar mais alto que a censura e tranco. Logo alguns fatos sucedem e eu passo a pensar que se tivesse dito tal coisa teria sido diferente. Aí fantasio também (porque vem sempre no pacote de BRINDE) que o que o dito cujo faz ou fala tem a ver comigo e com a minha não-fala. Como ele poderia ter adivinhado que eu queria dizer aquilo? Será mesmo que ele falou aquilo de brincadeira ou teve fundo de verdade?

Essa vigilância cansa, mas seria tão errado eu pensar que tudo o que acontece em volta tem relação com a minha existência? Se dizemos que por si só o ser humano é egocêntrico, por que espantar-se com a auto promoção através de fatos alheios?

E não sei.
mesmo
mas esse post foi pra você sim, não é paranóia.

domingo, 6 de setembro de 2009

quebrando o bloco do eu sozinho

Deparei com Sandra, depois de muitos anos distante de suas piadas sem graça e seu hálito nada agradável, e ouvi, logo de início, esta enchurrada existencial:

"Me incomoda pensar que sou tão dispensável assim. Ou algo aconteceu de repente e fez você pular fora, me evitando de todas as formas possíveis, ou estou me transformando em um monstro que afasta pessoas e enoja quem chega perto. Fico com a segunda opção, e não é por baixa auto estima. Tenho sentido um afastamento e uma não aproximação (pois são distintos, beem distintos) de todas as pessoas que costumava estimar. Tento muito identificar algum erro, percalço, escorregada, vacilo, seja lá do queiramos denominar algum acontecimento que tenha partido de mim que possa ter decepcionado assim os corações alheios.

Acho que a pior ofensa que podemos dirigir à alguém é o nosso silêncio, que tenta se passar por indiferente, mas que revela uma imensa ignorância dos altos e baixos de qualquer relação, seja ela de amizade ou afetiva. Confesso que estou exausta de correr atrás de ditos amigos, nem que seja pra saber qual é o problema do dia, anulando os meus, e não ter nenhum retorno. NENHUM. É da minha personalidade mesmo me prestar à isto, mas chega uma hora que a generosidade te entope até a guela e você precisa respirar um ar seu, com seu nome, seus problemas. Se não tiver ninguém que possa te acompanhar nessa nova respirada, então que você a faça sozinha, tentando não remoer a mágoa/raiva por tanto tempo, digamos assim, desviado. Digo desviado e não perdido porque mais uma vez a batida na cabeça foi substrato pra minha tào venerada aprendizagem de não ser tão tola e dedicada.

É bonito receber elogios quando as pessoas reconhecem a sua presença em todos os lugares aos quais você é requisitada, é muito gratificante saber que as pessoas gostam de contar com você e te apóiam quando você precisa.. muito bom mesmo. Mas quando as pessoas cansam de tudo e resolvem descontar os problemas em qualquer parte, pessoa, animal ou motivo, você tem que deixar.. deixa o coitadinho desabafar, ele precisa, você compreende.

Até quando isso, ô banana?

Cansei, mesmo. Dá vontade de jogar tudo pro alto e ser uma pessoa mais chata, pra ver se assim alguma coisa muda. Tomar na cabeça sempre, naquela imagem de eterna compreensiva dos problemas alheios tem um limite, e o meu parece ter passado há muito tempo. O que não aconteceu ainda foi a fiscalização ter visto esta ridícula ultrapassagem dos limites da descência humana.
Deu, não desabafei tudo o que eu queria, mas por ora é o que eu posso fazer".


E eu nem respondi se estava tudo bem...

sábado, 5 de setembro de 2009

apego

Precisava vê-lo devorando a carne, para que seus mínimos detalhes, aqueles mais comuns à todos, fossem à mim revelados. A paixão pela proximidade entre o tenebroso e a exposição a agradavam, assim como seu interesse pelas suas aventuras menos heróicas aumentava sua excitação. Saber se ele fora viajar, o que descobriu, quem conheceu; ouví-lo falar de suas teorias mais abrangentes e revolucionárias e dos maiores acontecimentos de sua vida não a apeteciam. Ela satisfazía-se apenas em saber o que ele costuma tomar no café da manhã e finalmente, enxergar seus pés. Thereza tinha regras neuróticas que não a deixavam manter qualquer relacionamento se não as cumprisse. Ver os pés de alguém era uma revelação da alma que nunca a traía. Ver o pés de Andrew é seu objetivo até que seu interesse por ele suma, assim como fez com os outros casos primaveris.

Via-o comendo e confessa que seu mastigar não é nada sutil, o que dá um ar primitivo à necessidade básica humana: comer. Ela gosta de ser romântica e sonha, mas é oposta ao romantismo de um encontro ( sim, não chama mais este envolvimento de relação, pois daria uma conotação promissora demais à alguns desejos que surgem e logo vão embora) que prometeria à ela sorrisos melosos e abraços sufocantes. Thereza queria o acalento apenas da curva que os braços dele faziam ao envolver seu corpo pela manhã. Quanto ao ato, seja ele do diálogo, sexo ou demais, ela preferia a submissão de seu corpo e alma para que não tivesse tempo, oportunidade e espaço para pensar. Thereza sabia que se pensasse além, desistiria e correria dos braços de Andrew.

Os pés seriam um retrato da personalidade e dos cuidados que cada um tem consigo. Pablo Neruda traz alguns versos que metaforizam esta fixação que Thereza tem pelos pés alheios:

"Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.
Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.
Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso
sobre eles se ergue.

Mas se amo os teus pés
é só porque andaram
sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem."

Ver os outros em seus pormenores diários e humanos me faz pensar que não devemos nos apegar ao kitsch carnal. Palavra alemã, kitsch apareceu em meados do sentimental século XIX e que em seguida se espalhou por todas as línguas: o kitsch, em essência, é a negação absoluta da merda; tanto no sentido literal como no sentido figurado: o kitsch exclui de seu campo visual tudo o que a existência humana tem de essencialmente inaceitável.

Vê-lo bem vestido, "nos padrões" e sem mistérios exalados de sua forma, com um olho emprestado, é não vê-lo. Esta imagem é apenas um esboço de Andrew. O verdadeiro, a sua essência, o seu corpo e a sua alma, estas estão pairando sob a cabeça de Thereza, demonstrando um eterno paradoxo que a incomoda. As partículas da subjetividade de Andrew estavam alcançáveis metaforicamente, mas é tão perto, tão possível, que Thereza não sabe como aproximar-se.

Dada a insustentável condescendência que me acomete hoje, introduzo Andrew no repertório de meus delírios adaptados.

domingo, 23 de agosto de 2009

apenas um alívio frente à opressão

Ele as desejava, mas tinha medo delas. Entre o medo e o desejo, era preciso encontrar um acordo; era o que ele chamava de 'amizade erótica'. Afirmava a suas amantes: só uma relação isenta de sentimentalismo, em que nenhum dos parceiros se arrogue direitos sobre a vida e a liberdade do outro, pode trazer felicidade para ambos.
Para ter certeza de que a amizade erótica jamais cede à agressividade do amor, só se encontrava com as amantes permanentes após longos intervalos. Achava esse método perfeito e elogiava aos amigos: 'É preciso observar a regra dos três. Pode-se ver a mesma mulher a intervalos bem próximos, mas nunca mais de três vezes. Ou então pode-se vê-la durante longos anos, mas com a condição de deixar passar pelo menos três semanas entre cada encontro".
Esse sistema dava a Tomas a possibilidade de nao romper com as amantes permanentes e ter ao mesmo tempo muitas amantes efêmeras. Nem sempre era compreendido. De todas as suas amigas, era Sabina a que o compreendia melhor. Ela era pintora. Dizia: 'Gosto muito de você, porque você é o contrário do kitsch. No reino do kitsch, você seria um monstro. Não existe roteiro de filme americano ou russo em que você pudesse ser algo além de um caso repugnante'.


Tomas não tinha Sabina, da mesma forma que Sabina nunca teve e nem nunca teria Tomas. Eles acharam-se. Neste mundo em que compromissos são formas de expressão e apresentação de ideias, os dois, malfeitosos e insatisfeitos com o padrão estabelecido, acharam-se e desta forma aproveitam - cada um à sua forma, mas seguindo o mesmo princípio -, um ao outro, sem que o peso do livre arbítrio e da culpa os impedissem de dormir.

Como um soco no estômago, acabo de ler, precipitadamente:

"Gostaria de fazer amor com você no meu ateliê, como se fosse no palco de um teatro. Haveria pessoas em torno e elas não teriam o direito de se aproximar, mas não poderiam tirar os olhos de nós..."
À medida que o tempo passava, essa imagem perdia a crueldade inicial e começava a excitá-la. Muitas vezes, enquanto faziam amor, evocava essa situação baixinho ao ouvido de Tomas.
Ela dizia consigo mesma que havia um meio de escapar à condenação que lia nas infidelidades dele: que a levasse consigo! que a levasse para a casa das amantes! Com esse expediente, talvez seu corpo se tornasse de novo único e o primeiro entre todos. Seu corpo seria o alter ego de Tomas, seu braço direito e seu assistente.


Créditos à Milan Kundera, que me presenteia com esta paródia da vida real: 'A insustentável leveza do ser'.

Ausência Presente

Mostrava à ele os meus projetos como se fosse meu pai, pedindo-lhe autorização e eperando que sua mão pousasse sobre minha cabeça. Sutilmente sinto a ironia me fazer cócegas, daquelas que dóem tanto que não sabemos se rimos ou choramos mais. O livro era sobre algo possivelmente comparável à esta situação. Pai e filha, após anos sem contato, firmam uma relação incestuosa.

"É um segredo nosso", me disse ao mostrar a prévia de nossos encontros semanais, mas digo com propriedade agora que serão quase diários. Estarei junto contigo mais uma vez, mas não grudarei em tua sombra, pois eu tenho o poder de manter uma distância reveladora entre nós.

( e aí , Foucault, explica essa? )

Não grudarei...

"Não acharás", disse ele. Será esta a fórmula para que alguém acalente o meu coração? Diante das últimas tentativas, devo admitir que prefiro estar submissa às forças que me são mostradas, as quais gosto de ser submetida. Em vão... não acharei a fórmula ou nunca te acharei?
Pois bem, acabo de descobrir meu objeto A.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

somos quem podemos ser

Ganthal gostava das pequenezas, dos detalhes sórdidos, das distrações minuciosas, que ocupavam suas mãos, sua boca, seus olhos, seu tudo.


São nesses detalhes em que ela se apoia. Pobre Ganthal, se soubesse que muito na vida é feito e percebido no âmbito da Gestalt da coisa. Após suas sucessivas desilusões amorosas, Ganthal precisava mesmo era de alguém que a entendesse, sem recriminações, cerimônias e mentiras. Há tempos que ela se questiona qual o verdadeiro significado de sua personalidade, se assim Freud a permitir explorar.. o que a incomoda é saber que não há meios nem fins de se chegar à uma verdade plena, o que a frustra; mesmo que saiba que este encontro poderia lhe causar sérios impactos desagradáveis. Ela quer a verdade, ela quer a transparência. De si, dos outros, do que mais? Saber quem se é e assumir com defeitos e furos é uma virtude admirável, devemos admitir. Mas, caros colegas, digam-me por favor: seria natural sentir-se mais desconfortável diante da verdade dolorosa ao invés de mentir e esconder o que nós achamos ser insignificante?

Sábio foi quem proclamou que a verdade dói. Pois dói, mesmo. Gostaria de poder encontrar argumentos que constrastassem com essas afirmações e que me aliviassem da culpa, mas eu já entendo, nesse meu pedaço de vida, que o processo do crescimento é análogo à transformação da largarta em borboleta. Pode demorar um tempo, do geral eu entendo, eu sei que em suma as coisas ficarão bem (assim espero). Mas não sei como fazer, não me sinto apta a progredir nos pormenores. É, Ganthal, sinto que estou contagiada. Eu também gosto dos detalhes, pois neles é que eu não sei agir.

domingo, 16 de agosto de 2009

O que eu faço dentro de mim?

Nenhum comentário. Mas isso não me deixa triste, nem aliviada em achar que isto não é frequentado. Existem muitas formas de se inteirar dos fatos sem dar a cara a tapa. Com sutileza e jogo de cintura a boa esperteza toma lugar dos meios tradicionais de comunicação e fala por alguém que não tem coragem de mostrar-se. Não é uma ofensa, mas se fosse, não seria problema. Eu também sou uma dessas. Depois de estudar os casos de alguns doentes mentais e consequentemente f'ísicos, percebe-se a aceitação do obscuro, do feio, até que se chegue na adoração camuflada dos sentimentos perversos e comportamentos 'antissociais'. Camuflados sim, doutores. Quando fazemos algo de errado, é notório o alívio ao sabermos que alguém fez o mesmo, de modo que sentimo-nos acompanhados na desgraça. Ficar sozinho não é um ponto forte dos humanos.
Vemos que aqui já se encaixa o velho dizer de que o homem não é uma ilha. Huxley, querido, obrigada pelas contribuições de suas obras, mas acho que neste momento desejo reverter meus comentários para outro aspecto.
Sentir-se aliviado pelo infortúnio alheio só porque sabemos que não somos os únicos é normal (deixemos as discussões de {a}normalidade para a Psicologia Social). Porém, arranjarmos a justificativa para tudo, admitindo que o mal faz parte da sociedade e portanto do homem e sua subjetividade pode ser nocivo. Deixe-me expressar melhor.

Susy se relaciona bem com as pessoas. Gosta de fazer novas amizades e é simpática, divertida. De uns tempos pra cá Susy vem se sentindo sozinha, como se o mundo andasse e a deixasse para trás. Depois de passar por uma crise financeira em seu orçamento e saber, por telefone, que um parente muito querido falecera, Susy entrou em depressão. Não apenas por isso, ela não conseguia se relacionar com rapazes, pois era muito insegura e não conseguia comprometer-se com nada. Após dois anos de análise, Susy parece ter melhorado sua percepção sobre o mundo e, principalmente, sobre si mesma. Ela tem problemas, tem frustrações e às vezes recai ao sofrimento por ter perdido pessoas que amava. Porém, seu luto é reforçado por sua força de vontade, conquistada e descoberta no decorrer destes dois anos, o que a faz sentir-se mais feliz e querida pelos que a cercam. O problema neste caso, colegas, é que Susy ainda sente-se solitária e não segue as 'recomendações' de seu analista: sair mais de casa, procurar conhecer pessoas em lugares novos, aventurar-se. Susy acha cômodo ficar em casa e não gosta de experenciar mais, pois sente medo de fracassar e sofrer novamente. Podemos diagnosticá-la facilmente e encaminhá-la à terapia, mas há um impasse comum neste quadro: Susy acha que está tudo bem. Ela admite que a condição humana é repleta de prazeres, pois somos programados para isto. Porém, devemos experimentar os dissabores de nossos próprios atos e aceitar que temos limitações, que podemos sim sofrer em casa, pois isto pode ser útil no futuro.

As observações finais podem ser usadas pelo terapeuta para que ele diga que ela deve experimentar os dissabores de seus atos, aventurando-se mais, mas Susy não o dá ouvidos e continua acreditando que ficar reclusa em sua redoma é mais confortável. O circo fechou quando ela reencontrou uma prima que não via há anos, numa festa de inauguração da galeria de arte perto de sua casa. Cátia, sua prima, disse-lhe que aprendeu a conviver com a tristeza depois que o marido a deixou. Em uma visão onisciente, Cátia vive com alguns gatos e só sai de casa para trabalhar como atendente de uma loja no shopping. Assim como Susy, ela não tem muitos amigos e não costuma frequentar lugares que a façam ter contatos demais, pois isto significaria um risco de ser deixada mais uma vez.
Enfim, Susy reforçou suas crenças de que não precisa procurar ajuda nem em si, nem nos outros, visto que Cátia vive 'bem', então ela poderia viver da mesma forma. Encerrou a terapia e toda a sua vida voltou-se para a adoração de sua condição de miséria emocional.

Pode ter sido um exemplo extenso para uma simples explicação, mas acho necessário que se coloque em vias prolixas, para que o resultado seja mais recheado.
Estou gorda? o que há demais? eu gosto de comer, há tantas pessoas gordas..
Estou sozinha? o que há demais? eu gosto de ficar sozinha, há tantas pessoas sozinhas..
e assim seguimos nos espelhando nos outros, nos seus infortúnios e perdendo a coragem para mudar a nossa condição.
É bom acomodar-se? Quem deve medir em uma balança um tanto subjetiva é quem se faz esta pergunta. Comodismo é diferente de Conformismo. Há uma tênue linha entre estas duas instâncias.

Perpassando os conhecimentos existencialistas e fenomenológicos, o que chamamos de destino pode sim ser um ingrediente a mais na receita de aceitar-se em sua condição e não fazer tanta questão de mudar por conta própria. Afinal de contas, quem rege o meu futuro? O locus de controle, neste caso, é externo, interno? Há de se pensar se o homem tem mesmo a condenação suposta de que é livre, de que pode responder pelos próprios atos e ser 'alvo' das consequências destes.
Então, colegas que permaneceram aqui até este presente momento, o que vocês me dizem? Somos livres e desempedidos para mudarmos nossas vidas, independente do que aconteça? Ou temos uma força que rege por nós, permitindo que, mesmo que mudemos nossas atitudes, nossa história já está traçada?

Carrasco de Mim

Já acreditei no destino
porque era cômodo para mim.
Saber que se não consegui ser capaz
não foi culpa minha, era pra ser assim.
Hoje que o destino não me banca
sou o sujeito das minhas escolhas
e responsável pelos meus fracassos.

Mas o destino me condenou
a ser meu próprio Carrasco.

( artista desconhecido )

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

a culpa é sua

Ele foi embora. Deu Adeus e partiu, subitamente, assim como mostrou-se de início nesta história confusa e difusa. Nós dois sabíamos disso, sabíamos das dificuldades, sabíamos de tudo, poderíamos ter dito isso e muito mais, mas o sentimento calado, velado e atropelado tomou conta dos nossos momentos e assim, continuamos passando por cima de tudo, como se aquilo fosse algo trivial. Não sei ainda se devo iniciar esta ideia com um pedido de desculpas, por isso te peço compreensão. Foi algo trivial. Foi belo, foi divertido, inovador, uma experiência de aprendizagem.. mas todas são. Eu entendo que o seu pedido tenha sido justamente que isto não acontecesse, mas eu não posso engolir esta onda de franqueza guela abaixo e sorrir, iludindo cada dia mais alguém que estimo tanto. Pode ter sido este o problema.. a estima.
Não é de hoje que eu percebo a minha inquietante admiração por pessoas que não estão no hall das mais queridas. Para alguém que nada na piscina rasa: "Ela gosta é dos cafajestes". Mas eu não nado na piscina rasa. Eu nem nado. Eu me afundo no alto mar escuro e gelado, nas profundezas de qualquer coisa que pareça natural e ...trivial para alguns. Eu fui, sim, bem a fundo no que vivemos. Talvez tenha sido este o outro problema. O ideal era que eu me desligasse dessas análises apontadas para tudo e para todos. Freud, levanta deste túmulo e me salva da Psicanálise! Está incontrolável.. será um prenúncio de uma formação?

Bueno, deixando o acadêmico de lado - já (não)suportando o reinício das aulas tão brevemente -, voltemos, caros colegas, aos problemas da questão. É possível se desligar? A intenção era ao menos dar um Pause nas ligações neuronais incomodativas, mesmo que eu saiba que aonde quer que eu vá, eu vou achar defeito em algo. Ô imperfeição, para que fostes apresentada a mim? Eu gostava de ser Narcisa...

Pois bem, eu até dei a pausa necessária.. mas afundei fundo (permita-me a redundância, estou sensível) em outros mares que, vejo agora, não deveria ter-me afundado. 'tudo é válido na vida.. as experiências servem de aprendizado.. prefira arrepender-se por não ter feito..' é tudo muito fofo no discurso alheio. De fato, aprende-se vivendo, mas será que não podemos ser poupados ( ou, neste caso, pouparmos alguém ) do sofrimento? Eu não sou má, só me descobri... digamos assim.. desapegada.

A questão é que você não me deu chances de dar Adeus. A sua despedida não foi escancarada, como a sua chegada. Foi um seco 'boa noite' que selou a carta enviada para a Finlândia, sem previsão de retorno.


Interrompo a narrativa para finalizar com um pensamento que me impede de fazer qualquer outra coisa.
O dito cujo está bem acomodado, sentado no pudim, seguindo os referenciais psicanalíticos que o cercam. Ousadia, é uma palavrinha que estampou-se em sua testa quando reparei na presença de alguém notório e ao mesmo tempo discreto. No entanto, parece-me que tens medo de ousar, mesmo que não queiras, eu compreendo, seguir a estória. Rasgue as cortinas que te separam da vida real.. e pare de se esconder nos Seminários.

Retornando, não gosto de deixar inacabado. Eu não me despedi, mas com razão. Não me despedi de algo que eu não entrei. Não aprofundamos, nadamos no raso. E foi aprendizado, sabemos o que se passa nesses Km de distância.., então, deixemos assim.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

falar é dispersar

Tenho tanto ódio hoje do conformismo que foi tachado como apaziguador das mais diversas colisões de ideias. Muita gente fica quieta diante do que é fato, só pra evitar mais discussão e algazarra. Qual o problema de se discutir sobre algo que não agrada à todos? E mais, precisa-se de algo que agrade à todos? É partir da discordância que as opiniões mais valiosas emergem e trançam-se, enfileiradas ou debruçadas sobre os propósitos alheios, eu e você, caro colega, estamos aqui, no mundo, na vida, para discordar. Estamos aqui para fazermos algo, para executarmos a evolução. Quem a criou pode mudar o rumo da história, mas quem está atuando como fantoche e se acha no maior direito de sentar e esperar é você: humano preguiçoso e deprimente (significado correto da palavra deprimente: aquele que transmite sensações desagradáveis e agoniantes; provoca náuseas; deprime).


Temos boca para uma série de prazeres que a psicanálise já antecipa, mas dentre os que não relacionamos à alimentação - no amplo sentido da coisa -, encontra-se a arte do discurso. Cícero, dê o exemplo e nos mostre porque você é lembrado!

Agora que estou deveras satisfeita com o resultado subjetivo de minha apelação, torno a ser controversa e a pensar que às vezes é melhor calar-se a falar abobrinha. Ou boas verdades.
Devemos sim olhar-mo-nos no espelho para descobrirmos aos poucos do que somos feitos.. mas quando o nosso sino não toca e o cemancol não entra em ação, é quase que notório que algo sai de nós e é transmitido aos próximos:

"Por favor, me fale boas franquezas face a face, eu estou me iludindo".

Irrita saber que existem pessoas que são assim. Sim, caro colega, pessoas assim como eu e você, que tem pontos fracos e também não sabem o quanto escondem dentro de si próprios. Já dizia Nietzsche que é difícil conviver com os outros, visto que calar, isto sim, é muito mais difícil.

Chico, obrigada por traduzir em música meus extensos pensamentos..

"Quero lançar/Um grito desumano/Que é uma maneira/De ser escutado/Esse silêncio todo/Me atordoa/Atordoado/Eu permaneço atento/Na arquibancada/Prá a qualquer momento/Ver emergir/O monstro da lagoa..."

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Histórias que se mesclam são apenas relações de um mesmo contexto

E assim ele a deixou, em um dia negro com lágrimas pesadas caindo do céu, quando o vento nem soprava a seu favor, tampouco contra. Há dias que ela nota a decência de sua postura frente à uma simpatia que apareceu, podemos dizer, de repente. Pode ser que esta tenha sido intimidada devido a presença de uma sombra possessiva, que sem muitas palavras, tratava de afastar quem fosse que se aproximasse. Ou não. A desenvoltura de suas conversas pode ter se expandido por várias outras razões..que tolice atribuir à isto toda a mudança.


Há de se perguntar porque Sarah insiste em procurar parceiros comprometidos..é evidente que em algum momento eles irão deixá-la. Caso aconteça o oposto, e o marido separar-se da esposa e assumir seu relacionamento com ela, eventualmente Sarah seria feliz por alguns anos. Tempo depois, ela sentiria-se traída, deixada, esquecida. É assim que ela 'funciona': sua máquina emocional, se me permite esta antítese, é programada, desde o nascimento, para ser o centro da vida de alguém. Quando veio ao mundo, sua mãe a olhava como a flor mais bela do jardim, aquela que brilhava e ofuscava a beleza e graciosidade de todas as outras. Era a criança mais saudável do berçário, a mais comportada entre as irmãs, a que melhores notas tirava e enfim, a primogênita. Quando Sarah viu-se em segundo plano, tendo que dividir a atenção e os presentes que antes recebia inteiramente, surtou. Entrou em revolta e melancolia profundas, recusando-se a brincar, comer e conversar. Quem a tirou do escuro foi Bob, um bombeiro que por sorte teve a sensibilidade de procurar dentro do armário por crianças que poderiam ficar para trás na casa que pegava fogo seis meses depois do nascimento de Jena, irmã de Sarah. A casa ficou aos pedaços, como estava antes o coração de Sarah. Quando foi resgatada, sentiu o frescor de respirar ar puro e rever seus pais. Voltou a ser a menina doce e inquieta que era meses antes. Quem escuta este episódio por ora acredita que Sarah não teve problemas com seu posicionamento em suas relações, fossem elas de trabalho ou afetivas. Enganam-se, colegas. Ela encobriu seu lado possessivo e narcísico, deixando que se estabelecesse em sua personalidade aparente os traços de uma jovem absolutamente equilibrada.


Apenas após namoros longos, Sarah tomou-se conta de que aquelas sensações que a atormentavam quando tinha 7 anos de idade voltavam como ondas que após arrebentadas, parecem misturar-se às demais águas, mas que voltam acrescidas de mais volume para uma onda mais forte e arrebatadora. Quando terminou com Charles, seu primeiro namorado de longa data, Sarah viu-se sozinha na sala, sentada no sofá frente a lembranças que não queria mais ter.


Demorou a se apaixonar novamente, mas quando isto aconteceu, foi comedida e se entregou aos poucos, conseguindo a atenção do parceiro até a primeira discussão. Ela era misteriosa, envolvente, completamente duas caras. Meio a sopas instantâneas e barras de cereais, Ruth pergunta-a quem era o rapaz que interfonara de manhã perguntando por ela.



Devia ser o fruteiro, da banca da esquina.

Você encomendou alguma coisa?

Não, acho que não.

E por que ele interfonou, então?

Eu vou lá saber, Ruth? Por que você não o perguntou, hã? Seria mais fácil, ao invés de ficar me questionando.

Não estou... ah, hahahaha. Você acha que eu estou com ciúmes? Do fruteiro?




Desta vez, Ruth vestiu sua capa narcísica e berrou no corredor, quase vazio, como se precisasse fazer ecoar sua voz. Sarah deixou transparecer seu espanto frente à reação de Ruth, o que o fez 'baixar a guarda' e tentar consertar o que fez.


Desculpe, amor, mas eu não estou com ciúmes.. apenas quero saber o que ele queria, já que você não fez encomendas.

Sarah sentiu uma punhalada por saber que não presenciaria uma única fala de Ruth demonstrando ciúmes que ele mesmo poderia admitir. Ele era discreto, eventualmente pedia que Sarah colocasse roupas menos decotadas e gostava de abraçá-la quando homens passavam por eles, mas nunca dizia que sentia ciúmes; e, quando questionado sobre isto, ele desconversava. Seria uma dificuldade em assumir, tranquilamente, como qualquer pessoa sã e mortal que sentia ciúmes de sua parceira?
Segundo ele, ciúmes nós sentimos quando há reciprocidade no adultério, seja ele nem mesmo cometido no plano carnal, ou seja, mesmo quando um homem olhava para Sarah descaradamente, Ruth não sentia ciúmes, pois sabia que Sarah não retribuiria. Isto a deixava possessa.

Huhum..

Amor, não faz assim. Eu só perguntei se..

É Ruth, você só perguntou, como sempre. Só pergunta.

Você queria que eu pulasse no cara sem saber do que se tratava?

Ai, pára de ser criança.. você por acaso já sentiu ciúmes de mim?

Amor..esse papo de novo? Eu confio em você.

Sarah chora, e, como se tivessem tido uma longa discussão sobre, ela solta:

Acabou aqui, chega! Você vive a sua vida, e eu a minha.. se é pra eu ser apenas uma parte da sua vida, que você sequer se importa em não perder e demonstrar isso, então deu pra mim.

Amor..?

Sarah solta a cesta delicadamente no chão e sai, sem deixar rolar uma lágrima, dirigindo-se ao ponto de táxi.


Pra que ficar mordida de curiosidade em saber se ele foi ou não? Criatura, não seja tão instável.. qualquer um que te disser palavras ambíguas ou que mesmo queira ser seu amigo agora vai ser promovido à 'um cara que eu conheço, muito querido.. quem sabe rola' ?

Aprenda a dividir, little honey. Aprenda a dividir.

Completando a minha complexa contradição característica, trecho do livro mais bem escrito por MM.:

"(...)agora entendo que nunca estarei pronta, e que tudo o que preciso é conviver bem com meu desalinho e inconstância, que enfim aceito. Bom trabalho, doutor.".

domingo, 12 de julho de 2009

interpessoalmente limítrofe

Alfie, preparei muffins airados com pingos de calda de amora e recheio de chocolate, como você disse amar na infância. Aposto que eles ficaram melhores do que os que a sua avó fazia, se bem que, sua avó é um amor. Aquele dia na casa de campo da sua família ela me contou várias histórias sobre...

E ela insistia. Como conseguiu entrar tão profundamente na minha vida? Duas semanas de transas satisfatórias, alguns almoços convenientes quando minhas noites eram cheias demais para que eu me desse ao trabalho de telefoná-la, uma foto que (por descuido - e desta vez eu envergonho a minha classe de cafajestes) colocou tudo a perder:



Não, eu não me refiro ao dinheiro, ele não teria culpa da doçura exacerbada de Lilly no café da manhã. A minha foto, pequenino lindinho e fofinho, saudável, praticando esportes me transformou no novo... alvo dela.

Enquanto relembrava o episódio catastrófico de um almoço em FAMÍLIA (e ressalto, caro leitor, que Lilly, caso meramente sexual, não é parte da família) em que minha avó contava à ela como eu gostava de muffins, eu tentava despistar as primas que hoje já eram grandinhas e que insistiam em me seduzir.

Ah, perdoe-me pela desatenção, sou Alfie, um cafajeste incurável.

...ahahah como ela é adorável, não é Alfie? Alfie..querido? A l f i e ... A l f i e . . .

QUERIDO?

Alfie..

Lilly, vem cá, precisamos ter uma conversinha.

Sim, temos aqui um diminutivo saindo de minha boca. Contrariamente ao que um homem de verdade diria, com Lilly devo ser delicado nesta parte do diálogo, que logo tornar-se-á um monólogo (dela, evidente) autodestrutivo e..digamos assim, borderline.

Alfie.. eu sei, eu tenho agido como uma louca ultimamente..

Ela balançava a cabeça debochando de si própria e rindo quase que freneticamente, até notar a minha seriedade e voltar ao estado normal.

Eu prometo que vou tomar meus remédios religiosamente e ser uma mulher melhor pra você. Nós vamos ficar bem, eu cuido bem da casa..uma vez e outra, quando alguma agência de chama, eu vou lá, fotografo, e volto logo pra te esperar em casa. Meu amor..

E ela se aproximou, com as mãos pretendendo tocar em meu rosto. Segurei-a. Confesso ter sentido vontade de jogar o cigarro pela janela e tomá-la naquele instante, mas a imagem de minha avó criando expectativas de casamento e filhos me deixou contente com meu cigarro, sem sexo hoje.

Alfie, o que há? Eu estou aqui, suplicando o seu amor, mudando por você, o que tem de errado?

Lilly era perfeita fisicamente. Tinha cabelos loiros com mechas escuras que davam-lhe um ar de perigosa, mas seus olhos amendoados emprestavam inocência - que, cá entre nós, sumia meio à lençóis - . Lembro-me de um passeio que fiz na 6ª série do colegial ao museu de Manhattan, em que vimos esculturas gregas para a prova de história. Eu sempre odiei mitologia, quanto mais história algo tivesse, menos interesse obtinha de mim. Eis que miro uma escultura, em destaque numa sala vazia. Grandiosa e inspiradora, era a Afr..Afre..Afrot..Afrodite. Linda, a mulher mais bonita que eu já vi. Tinha um corpo escultural, perfeito, com curvas e nada a ser alterado. Seus cabelos, descoloridos visto ao gesso, pareciam em movimento, mas bem assentados em seu colo, mostrando, misteriosamente, seus belos seios. Éramos crianças, a professora não queria ninguém andando sozinho, então adiei o meu prazer de vê-la de perto. Alguns minutos depois, deparo-me com Afrodite de perto, tão perto que sentia seu odor imaginário e um sorriso que eu jurei ter captado da escultura de gesso feita há milhares de anos. Quanto mais eu me aproximava, a surpresa: mais a decepção entrava em minha mente e tomava conta de mim: Afrodite tinha rachaduras, era encardida, e não tinha traços tão bem definidos assim.

É como Lilly. Tem um corpo fenomenal, um sorriso e uma desenvoltura que qualquer homem desejaria. Mas possui hábitos detestáveis, doentios. Preciso afastar-me dela, já.

São os muffins?

Não, não são os muffins, eles parecem ótimos. Esta situação está chata, embaraçosa, eu ando me sentindo..

... distante? frio? entediado?

Não sei. Eu acho você marav...

Pode parar por aí. Eu sou bem crescidinha pra saber que quando um homem começa uma frase elogiando a mulher, é porque ele vai terminar o relacionamento.

Relacionamento... sinto arrepios.

Pode ficar tranquilo, eu já não estou mais aqui.

Assim, com estas palavras, ela pegou sua mala (sim, ela tinha levado uma mala com o tempo) e saiu, meio à lágrimas, em um fino e sensual vestido rendado; bege e preto, com um colar de pérolas que salpicavam um ar conservador em seu visual com as pernas de fora. Pude escutar ela descendo as escadas e, como um tornado que devasta kilômetros à fora, o sentimento de alívio tomou conta de mim, e eu traguei mais uma vez.

Táxi.. táxi! Droga!

Chovia.

Táxi...

Pela janela, eu via a rua vazia, alguns carros estacionados sendo contemplados com a chuva pesada e fria do outono. Havia indícios de neve nesta época do ano, mas o aquecimento global tem amenizado o sofrimento matinal de escovar os dentes e lavar o rosto com água fria. O frio de Nova York não entra em casa. Fora dela, você mantém o estilo de quem adora o clima gélido. Dentro dela, uma camiseta de manga comprida fina basta. Lilly, e suas pernas de fora.. fora.. pernas de fora.. pernas, oh pernas.. LILLY!

Apaguei o cigarro e corri desesperadamente, na esperança de encontrá-la acenando em vão para um táxi. Ao passar pela cozinha, a mesa decorada com um prato de cristal irlandês, ganhado pela empresa e surrupiado por mim, com os muffins airados com calda de amora e recheio de chocolate que só minha avó sabia fazer. Pelo visto, a conversa dela com Lilly rendeu bons frutos. Provei um e antes de sentir o gosto, lembrei-me de Lilly na chuva, prestes à sumir da minha vida. Abri a porta, desci as escadas. Sem casaco.

Ela precisa estar lá, ela precisa estar lá, ela prec...CACETE, QUE MUFFIN BOM! Lilly, esteja lá.

No último lance de escadas, saltei e me joguei na porta. Ela abriu para fora e Lilly espantou-se. Lá estava ela: com uma bolsa na mão e uma mala junto aos seus pés, que calçavam delicadas botas terracota de camurça, iguais às que ela usava na primeira vez que tínhamos nos visto. Molhada, já com o vestido colado em seu corpo, sua maquiagem borrada e seus cabelos escorridos na face, me olhou com desprezo, surpresa e...esperança. Sua fisionomia era semelhante à de um cachorro que espera ser perdoado e trazido de volta pra casa.

Lilly.. saia da chuva, vem cá.

Não, eu vou embora!

Mas..

Um táxi parou. Ela abriu a porta, jogou a mala, colocou um pé dentro do veículo, virou para o lado e.. me olhou. Era o que eu precisava! Um olhar! Saltei de meu lugar cômodo embaixo da cobertura do prédio e me molhei um pouco até entrar no táxi com ela. Ainda sentia o gosto da amora em meus lábios e Lilly não parecia contente.

Sai, Alfie!

Vamos conversar, eu me precipitei..suba, vamos! Taxista, pare! Ela vai descer!

Não, não vou, siga para East Village.

Não, pare!

Olha, decidam-se ou desçam os dois!

Pois sim, desceremos.

Peguei Lilly pelo braço e abri a porta. Saí, puxei-a, peguei sua mala e o táxi se foi. Lilly não se esforçou para ficar dentro do táxi, o que, até aqui, não me parece uma surpresa.

Lilly..

Olha aqui, Alfie. Eu nunca mais quero entrar na sua casa, da mesma forma que você nunca mais vai entrar na minha. Não me telefone, não me procure. EU dou as cartas agora.

Ela - discretamente, mas não tanto, de modo que eu pude perceber - sorriu no canto da boca e me olhou furtivamente.

Vamos para um hotel quando eu quiser que nos encontremos. Acabou o noss vínculo emocional: para você, nada mais do que o meu corpo.

Lilly, você realmente tem certeza disto?

Nunca estive tão certa. Anda, chame um táxi, preciso voltar antes que as minhas roupas na mala molhem todas.

Táxi!...Por favor, nos leve para o Milford Plaza.

Seguimos, eu como estava antes; e ela.. ah! caro amigo, ela nunca esteve tão segura de si.

" É difícil acreditar que um homem está a dizer a verdade quando você sabe que mentiria se estivesse no lugar dele"

Henry Mencken

sexta-feira, 3 de julho de 2009

as palavras e as coisas

a expressão se traduz literalmente como 'feia bonita', mas poderia ser mais caridosamente traduzida como 'estranhamente bela'. Jolie Laide representa uma ideia de beleza na qual uma pequena imperfeição realça a aparência de uma mulher e a torna mais interessante de olhar... No fim ela é mais sedutora e cativante do que alguém com uma beleza convencional.

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Pega por um pseudo ato falho? quase.. mas eu ainda quero saber de onde saiu aquele maldito Geraldo! A mente apronta, faz uma armadilha, ela sabe disso e cai como pata! incrível como o princípio do prazer explica as coisas, em suas palavras: "é como alcançar aquele objeto desejado e quando a satisfação deu-se como fogos em noite de ano novo, o interesse se esvai e nasce um novo desejo.. mas por outro objeto".
Te liga guria, estudar Psicanálise é uma auto análise sem custo monetário. Não, minto. Os livros da Roudinesco e a coleção do Lacan me custaram caro.
Vê só se ela vai conseguir se aventurar deste jeito justo com quem ela não pode! Parece que tem gente que não pensa, ou que pensa tanto que se afoga.. aí depois quer ser salva, bufando pelos cantos e tomado cuidado pra não ser reconhecida.


"A palavra ainda está desprovida de uma eficácia própria, desta
vez porque é apenas o signo exterior de um reconhecimento
interior, que poderia se fazer sem ela e para o qual ela não
contribui. A palavra não é desprovida de sentido, já que atrás
dela existe uma operação categorial, mas ela não tem esse
sentido, não o possui, é o pensamento que tem um sentido, e a
palavra continua a ser um invólucro vazio (...), a linguagem é
apenas um acompanhamento exterior do pensamento
" ( Ponty, M.)

E ela querendo entender o que sente.. hã, deita no divã, querida.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

tempo tempo mano velho.

meus neurônios fantasiados de relatórios gritam, berram:

love is all you need.

preciso de outdoor, ou de acelerador de tempo?

domingo, 29 de março de 2009

o que é querer?

sem relógios, o tempo não para e é bom que seja assim.

O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há e do que não há em mim