domingo, 26 de dezembro de 2010

“...será que um acontecimento não se torna mais importante e carregado de significados quando depende de um número maior de circunstâncias fortuitas?”


tenho pensado; seria o destino, Deus, livre arbítrio ou inconsciente? tudo junto, nada disso?

sábado, 25 de dezembro de 2010

concebendo conflitos

Hoje ele a cortou de todas as formas. Repreensão, olhares opressores, palavras secas e brincadeiras que declaravam explicitamente quem mandava ali. Obviamente, espera-se postura e autoridade de um pai, mas quando a ruptura é tão gritante há espaço para lágrimas e sensação de abandono. Marcel Rufo tanto me explica nesses últimos dias.. me diz que esta sensação é tida como natural, uma vez que toda separação machuca, porque estamos saindo de uma situação que até então nos proporcionava certo conforto. Pichón Riviere, quando elucida sua teoria acerca da técnica grupal, conta que o medo da perda é sentido pelos integrantes do grupo frente a resistência à mudança; este movimento representa o medo que temos de sair de situações em que já conseguimos estabelecer estratégias para lidar com o que nos angustia. Autores a mais e a menos, Carla se sentiu podada durante o dia, mas procurou aliviar, distrair, relevar. Não veio só de um lado.. parece que estar com pessoas em volta nos traz a sensação de acomodação, alianças, afetividade; em contraponto, perdemos nossa privacidade em sentidos amplos e importantes. Se digitamos rápido no computador, isso é irritante; se dormimos demais, somos preguiçosos; se dormimos de menos, somos ansiosos crônicos; se não comemos gordura, somos neuróticos; se comemos demais, somos sem noção. Sempre há uma falha, disso todos sabemos.. mas até que ponto o outro pode apontá-la incessantemente?

Tadeu foi muito claro nesta última cena: Carla brincava com o cachorro que corria pela casa. Outras pessoas assistiam a um programa na televisão. Carla não grita nem corre, só vai atrás do cachorro, mas parece que isso já provoca a incomodação de Tadeu. Ele cerra ela com os olhos e fala palavras secas, como se ordenasse algo. Ela sai de perto e sente o extremo oposto do que seria sentir-se acolhida. Começa a pensar e nisso se recorda que a idealização que criamos das pessoas que se relacionam conosco é em parte constitutiva, em parte prejudicial. Sabemos que sonhar é saudável e que muitas vezes alimentar um sonho exercita nossa capacidade imaginativa, desenvolvendo a habilidade de resolver problemas hipotéticos e a criar diferentes formas de se lidar com alguma situação.

Pausa. Retorno.

Construir a imagem de uma mãe suficientemente boa e um pai protetor requer uma idealização quase romântica para que criemos uma suposta proteção e segurança, um apego seguro. Falhas enxergamos no caminho, essas imagens ideais vão se tornando transparentes e fissuradas, até que saibamos adaptar a idealização à realidade. Pergunto-me como isso acontece, mas não de filho pra pai, e sim de homem para mulher. Me ocorre que Carla nutre um sentimento de idealização forte pelo pai, e que aos poucos enxerga que ele não corresponde à imagem que ela criara em seu universo particular. Cada pequena ruptura a machuca um pouco, é como se sofresse de uma desilusão amorosa; porém, de cura mais rápida e consciente. É como se cada luto fosse facilmente elaborado. Entretanto, quando se trata de Hugo, Carla percebe que nunca montou uma imagem bonita sua, algo que realmente a fizesse admirar sua presença, tampouco sua ausência. Era como uma forma de bolo vazia, ali caberia qualquer coisa, havia disponibilidade para isso. Opa, calma aí, Nem tanta disponibilidade assim.. ele já tinha cortado os naipes dela desde o início e ela continuou, por vontade de experimentar-se. Desde então, ela falava e repetia que ele tinha defeitos e que ela enxergava finitude naquele envolvimento. O que nos leva, então, à agonia de separação mesmo quando não criamos a tal sensação do apego seguro? Se com ele Carla não estava "segura", tampouco acolhida, por que sentiu-se abandonada?

Talvez a suposta resposta para esta pergunta resida no fato de que Carla não localizava em Hugo o homem que a preencheria, simbolicamente. Talvez tenha ficado tão restrito ao corpo que na alma nada se inscreveu dele. Talvez do que ele representara naquele momento, daí a sensação de abandono, por alguém ter abandonado, mas não especificamente Hugo.

Mudando de foco, uma vez que há desejo de sobra para que este assunto seja encerrado, Marisa se percebe repetindo os comportamentos de Carla em outras situações. Ela conheceu um rapaz que a atrai, de alguma forma misteriosa e divertida de se explorar. Ela sabia da idealização inicial; a pessoa não possui defeitos, ou pelo menos não os escancara. Ela até enumera algumas coisas que não gosta nele para que não caia de amores logo ( e aí recorro à paixão pelo que é perfeito. Se um homem é perfeito demais no início nos apaixonamos? por que muitas procuram defeitos? queremos destruir a possibilidade de que ele ocupe a posição do pai que até então era o perfeito? isso é freudiano demais? estou enlouquecendo?). Penso novamente que Carla e Marisa tem esta caractéristica em comum: querem ver defeitos para que a realidade seja posta na mesa. Mas.. será que não vale a pena nutrir a fantasia por um tempo?
E este novo rapaz, que - em sintonia - faz Marisa repensar em muitas coisas, tem a intenção de passar a imagem da perfeição?

Muitas perguntas, muitas divagações.. não quero encontrar respostas, isso limitaria e traria à tona justamente o que a minha natureza neurótica nao suporta sem sessões contínuas de análise. De férias, haja mencanismos de defesa!

A pausa se deu porque Tadeu pediu desculpas à Carla, disse - entre outras coisas - que quando estamos com outras pessoas devemos respeitar as vontades alheias também, muitas vezes abafando as nossas. Mais? Mais, Tadeu?
Ele disse que ela não o desapontasse, que não fosse grosseira e que ele a amava. Novamente, constrói-se uma ponte de idealizações e promessas divinas, laços que parecem inquebráveis.
É tudo lindo, saudável pelo perdão e consciência, mas será que Carla consegue continuar nutrindo esta imagem que tem de Tadeu? Será que de todas essas pontes, laços e imagens, nada foi quebrado ao ponto de não haver possibilidade de remendo?

E se não há como remendar.. como atravessar a ponte? Se atravessa a ponte?

Preciso de filmes, livros e tudo o mais que enriquecer esta discussão transposta da família ao mundo sem proteções e escudos.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

tecendo na folga

No estudo referente à clínica das psicoses, um conceito salta de imediato para compreender a realidade dos ditos loucos. A foraclusão, descrita literalmente como exclusão e prisão fora do território é entendida na Psicanálise como análoga à condição dos acometidos pela patologia que fez Freud se conter no estudo das neuroses. Os verdadeiros presos do lado de fora nos fazem pensar em sua intensa espontaneidade que por vezes nos assusta e resulta em camisas de força, sedações e estereótipos. Solal Rabinovitch conta que os psicóticos estão presos em seu inconsciente, não conseguem articular três elementos básicos para o compartilhamento da realidade neurótica. Três elementos esses que formam o nó borromeano (Real, Simbólico e Imaginário). Quando o nó é solto, não há correspondência possível que considere o psicótico inserido, inscrito. Diz-se, então, que sem a inscrição no nome-do-pai, o psicótico não simboliza e fala, faz, vive, ao pé da letra. Sua capacidade de metaforização é ínfima, senão inexistente. Ainda prefiro imaginar que há uma brecha.

Teorias à parte, o autor me traz um questionamento muito válido. Meio ao caos do shopping em compras de Natal, pensei em reler uns trechos do livro que acabara de ser adquirido pra que o tempo passasse mais rápido. Aí vem a ideia de que eles estão presos no mundo exterior, em um estranho exterior. Ora, se há então uma divisão que corresponde ao compartilhamento da realidade entre neuróticos e psicóticos, consideraria-se que internamente está a neurose e excluída a psicose, sem possibilidade de adentrar no outro mundo. Por que então condenar a psicose como taxada de loucura se na neurose também há uma realidade ímpar?
Tanto em Don Juan de Marco quanto em K-pax, nos deparamos com a dúvida acerca de quem fala o que é real, se considerarmos que existe uma verdade absoluta sobre todos os seres humanos. O paciente delira ou tenta nos convencer de que há vida para além do que até então compreendemos?

Se eles estão presos do lado de lá, não estaríamos nós, presos do lado de cá? Será que o conhecimento humano pode ser pensado como objeto bitolado então? Estamos plenamente confortáveis com o que sabemos e controlamos? E se não controlamos, internamos? Diz ele:

"Porque os loucos são externados em seu confinamento fora, nós os internamos; é a nossa única maneira de reconhecer, no louco, o estranho ou o excluído que é o outro para cada um de nós, no clarão súbito de uma liberdade que nós lhe invejamos porque ela nos ofusca".

Somos tão egocêntricos assim? O que não é gual à nós e nos ameaça a integridade intelectual é julgado e separado? Há medo de contágio? Que realidade neurótica é essa que mostra-se tão frágil, então? Seria, a meu ver, uma fragilidade inerente à condição humana. Algo da ordem do desequilíbrio, algo insustentável, que o homem nunca conseguirá conter, deter, controlar. Na realidade psicótica existe uma exatidão e rigidez nas coisas que não é possível uma brecha ou uma curva que abra espaço para dúvida. Daí, o psicótico não duvida, ele crê.
Assumimos a nossa falta, a nossa dúvida, o nosso ciclo vicioso que é a vida e por isso o que não é nosso é tido como invasor. Parece natural se pensarmos na ordem da justiça e estabelecimento de leis em nossa sociedade. Prot, personagem que diz ter nascido em um planeta diferente da Terra, conta que em sua casa não há leis pois eles sabem, internamente, o que é certo e errado.
Quero ir além de questionamentos acerca da ausência da lei na psicose;
Ele diz que não é necessário que uma legislação e um bocado de homens se ocupem de algo que é de cada um.
Deveria ser assim? Olhando pra perfeição alheia é claro que tentaremos cobrir nossas fissuras, é o eterno vir-a-ser. Queremos tanto o desejo do outro que é imprescindível buscar sempre a perfeição para que estejamos sempre, desta forma, desejáveis. E é aí que mora o mistério, é uma busca incessante, e nós sabemos disso.

Estando em outra dimensão, outro planeta ou até em outra realidade, estamos isentos dos problemas alheios? Se a minha estrutura prega que sou desta forma e não posso mudar, será que isso me conforta? Penso no caso de Vera, que é problemática no sentido de ter problemas, criar problemas, gostar deles, ver estes problemas nos outros e ficar indignada dos outros não lidarem com seus próprios problemas como ela lida. É um labirinto que cansa ser percorrido. Por ela então, nem se fala. Vera sabe que é doente, seus companheiros de vida também o sabem e tentam confortá-la na vida cotidiana sem que maiores recursos pudessem vir a apaziguar seu sofrimento. Desta forma, ela evita entrar em contato com o cerne do problema e cria uma estratégia de vitimização, pois explicita que é doente e utiliza essa desculpa para conseguir o que quer. É uma espécie de apego à fragilidade que nos coloca na posição de afetados e portanto, dignos de receber afeto. Típico. Todos o fazemos, em graus diferentes. O fato é que Vera se protege em uma redoma criada e não quer nem saber de se tratar, pois isso a tiraria da posição de vítima e a colocaria na posição ativa de quem é autônomo e pode se virar bem sozinho.

Somos assim tão dependentes ou soltos de tudo? É sempre um radicalismo, um extremismo, um determinismo? E se estivermos errados e houver algo entre ser vítima e ser independente? E se de fato nossa realidade não for a única e assim, questionável em suas leis e determinações?
Podemos mesmo nos dar o benefício da dúvida?

Hoje pensei se o esqueci. Fiquei em dúvida; balancei a cabeça e me distraí.
De fato, duvidar revela, e revelar demanda compromisso na análise. E nem sempre é agradável. Como posso eu condenar Vera se eu também fujo do cerne? É preciso encará-lo? E agora, e agora?

sábado, 18 de dezembro de 2010

ínterim (?)

nada mais sobrou, então não vou fugir de nada, vou apenas dar um tempo pra que as coisas voltem a aparecer na minha vida como se fossem frescas, puras, quase virgens. assim, é bom se enganar um pouco achando que num novo ano vai ser como nas boas épocas de Malhação: tudo novo, com cheirinho de velho. ou seria o contrário?

O Freud sempre vem à minha mente quando penso nisso e não é à toa, pois ele tanto me ensinou sobre a repetição. A gente conhece pessoas novas e se envolve em relações que parecem únicas, cheias de aventuras e novidades. Engano nosso se pensarmos que seremos completamente diferentes.. no fundo a nossa intenção é a mesma, só está sendo revelada de uma forma diferente.
Pensa, com seus pais, tios, primos, irmãos, professores, namorados, amigos, conhecidos, nós sempre encenamos da mesma forma quando se chega a uma situação-limite. Fugimos? encaramos? ficamos bravas e travadas? Choramos? Rimos? Um roteiro bem escrito daqui pra frente seria quase o mesmo do que tecer uma retrospectiva. Nós continuamos os mesmos, só não sabemos o que há por vir, e é aí que reside a diferença entre passado e futuro.
Diz ela, muito sábia, que tornando as coisas conscientes, dizíveis, elaboramos uma forma de não continuar repetindo comportamentos que nos fazem mal. De fato, e daí eu bato palmas de pé para a psicanálise. Porém.. será que sempre vale tirar o pano e mostrar a sujeira? Saber dos pormenores de cada relação que estabelecemos é necessário? Se ela quiser construir uma barsa de como é com cada um que encontra, pode ser que o esforço valha à pena.

Falo muito e às vezes sinto que não digo nada. Andando em círculos, voltando pro mesmo ponto, parece que não houve avanço.. talvez esta seja a época para que não haja avanços. Talvez seja a hora de armazenar, aquietar, sentir, reservar. Se fevereiro e março estão agitados, assim como o resto do ano, o melhor é colocar janeiro em banho maria.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

when the roof came in, the truth came out

but if you can make through the first weeks and months ..
if you believe that healing is possible ..
then you can get your life back
but that's a big "if "

E é um grande abismo, uma grande condição, um grande compromisso consigo próprio, com os valores e princípios que foram estebelecidos naquele momento em que a confiança quase alcançava o céu. "Enviar", e a sentença está lançada. Não há arrependimentos, o que tinha que ser foi mesmo... mas quanto tempo demora pra cicatrizar? E depois que cicatriza, os pensamentos ainda assombram, os sonhos ainda incomodam, os elementos que nos fazem recordar e reviver certas coisas ainda dão enjôo?
E o que dizer dos ditos sinais que trazem pro presente coisas e pessoas que deveriam estar no passado, ou mesmo nem deveriam estar? Seria uma tentativa esperta de alguma força que eu costumo chamar de destino querendo resignificar alguma coisa?
E por que enjoa tanto e dá tanto medo e por que é tão custoso?
Retomo a minha infantilidade fresca da vida e me dá vontade de pegar uma borracha gigante e apagar os erros do passado. Aí vem minha psicóloga mirim e diz " mas se tu apagasse o passado será que tu teria aprendido o que tu aprendeu?"
pimba.
eu sei que serviu pra alguma coisa, e de fato não foram erros, foram momentos, foram acertos se eu considerar que o objetivo era aprender.
mas e se o objetivo não era só aprender, mas também se apaixonar? e se o ponto crucial foi tampado e agora eu tenha que convivver com a aprendizagem útil e a dor desnecessária?

e se?



terça-feira, 14 de dezembro de 2010

save yourself if you can

pois é né, porque o outro lá parecia um bambi inofensivo que depois se mostrou um lobo mal intencionado. já o de cá tá criando os laços, mas.. até que ponto a gente se deixa levar pela paranóia, pelo desejo de que algo aconteça? será que dá pra distorcer tanto essa dita realidade diante de um desejo, vertical, particular?
Já faz um tempo que eu me questiono sobre a veracidade dos acontecimentos. Uma vez me dei conta que não é só o álcool que me faz confundir sonho com realidade após uma festa. Nessa ocasião eu vi que meu estado de espírito é uma embriaguez na alma que lambuza tudo o que poderia ser discernido entre real e imaginário. Tá tudo suspenso e eu tenho medo de arriscar alguma coisa e depois me dar conta que o passo em falso foi dado em direção ao nada, ao vazio, àquilo que eu fantasiei e agora é esfarelado, sem corpo.

Esse assunto me enche o corpo de raiva e eu sinto que minha musculatura fica rígida só de pensar que Julio demonstra à Luiza que gosta dela, mas é só atenção exacerbada, carinho e muita implicância. Não passa disso.

Depois vejo a Claudia se iludindo com o avassalador e passageiro Marcelo, que tanto emitiu sinais e agora parece tão distante, até provocativo.

Olho pra dentro de mim e nada é diferente. Tem uma multiplicidade de Claudias, Saras, Fabis e Luizas à mostra de tudo, de todos. É uma ilusão misturada com masoquismo, um mix de desejo com uma pitada de carência. E o prato tá feito. Chef, pode servir.
O que fazer se der indigestão? Sabe-se lá o que fazer depois de perceber que as coisas podem não ser bem como elas pareciam ser. Se antes as meninas queriam uma atitude de seus parceiros, hoje talvez queiram mais cautela. Vai que tudo desagua corredeira abaixo? E se era tudo um teatro, um delírio? E se o espetáculo começa e a gente percebe que era um monólogo e não uma cena lotada? E se o personagem principal for você? E se, de fato, a cena estiver lotada, mas de diferentes vocês? Como falar com eles?
Como pedir que cada um reserve suas histórias para si? Cada diferente fantasia dentro mim pulsa como uma só... talvez, por tantas em uma só eu não consiga difereciar o que é paranóia e o que realmente tá acontecendo. São muitas em uma só, cada qual com sua história, todas concentradas em mim, que alimento caraminholas na cabeça.

domingo, 12 de dezembro de 2010

obj. 'a', 'b', 'c', ∞

dizem por aí que sonhar só é bom quando temos bons planejamentos para realizar o que queremos, assim evitaríamos a frustração. eu discordo.. alcançar o sonho, como diz carpinejar, não seria falta de ambição por não conseguirmos sonhos tão bons ao ponto de não serem alcançáveis?
se a Fabi tivesse me escutado naquela noite talvez tivesse grandes problemas pra levar à terapia agora.. ela não se rendeu à tentação de preencher, ilusoriamente, o vazio e parece que se orgulha disso, porque agora o que ela quer é tão mais emocionante quanto a trajetória que vem pela frente.
Nem envergonhada tampouco em terra firme Fabi soube que a partir daquela primeira conversa os papéis certamente seriam invertidos, como foi da primeira vez. Eles se olham, conversam, sorriem, riem, juntos. Todos juntos. Fabi sonha, e como sonha. Quero deixar um pouco mais compreensível ao leitor que Fabi costuma ser chamada de "típica mulher cheia de caraminholas na cabeça" por amigos, família, amores, desamores e até pelo porteiro do seu prédio, que já presenciou inúmeras despedidas de sujeitos diferentes que queriam é se escapar o mais rápido possível, deixando Fabi a suspirar.
O que ela quer, nem ela sabe. Aprendeu o que não quer mais, o que a desgasta e traz constantemente a sensação de vertigem. Fabi procura, acima de tudo, nunca se satisfazer, pois isto a faria desistir de buscar. Parece insano pensar que sempre buscamos algo que sabemos ser impossível de ser alcançado... mas é assim que o mundo roda e, teorias à parte, tudo sempre se resolve na busca incessante de algo que nos complete. Ilusão de fusão, igual àquela em que somos arrancados do ventre e posteriormente obrigados a disputar a mãe com um terceiro? Sabe-se lá o que se passa na cabeça de Fabi, mas que ela pretende não conseguir o que quer, isto é certo.
Pode ser que hoje ela invente uma nova filosofia de vida e se jogue nos braços de um conquistador qualquer, para que tão logo ela seja destroçada em suas fantasias e depois produza mais um de seus livros esplêndidos sobre a angústia constante de ser humano.
Pode ser. O que é, pra ela, sonhar então? É se deparar com o desejo insuficiente, com a renúncia da palavra cheia de significações, do recalque de algo insuportável aos olhos e coração, tão sensíveis depois de tantas tentativas?
O que é, pra ela, realizar o sonho? É aniquilar as expectativas? É concretizar o que tem de melhor na vida? É limitar todas as suas vontades? Ou, acima de tudo, é tornar finito o hall de possibilidades em que ela se vê para mudar?

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

pure merveille

não seria eu se não fosse desse jeito nervoso que eu faço as coisas. sempre pulando etapas, numa ansiedade e pressa de viver. parece um ar afoito, engolido mas nunca aliviado, é como se eu tivesse que garantir lá na frente algo que me traga segurança. poderia eu afirmar que a minha alta velocidade é, na verdade, um mecanismo de defesa?
penso agora, para além da resposta atravessada que eu poderia ter deixado passar, que talvez eu afirme algo e faça outra coisa completamente oposta. se eu quero que o outro arrisque, eu deveria arriscar também. ninguém assinou contrato e... se lá no fundo eu quero algo diferente de tudo o que eu já tive, não me custa nada dar mais um passo, até porque dizer que não quer projetar nada reduz-se à palavras. pequenas, palavras. apenas. se os planos mudarem de direção.. sairei no lucro?
ô raio, o que eu quero afinal? que ânsia incomensurável de manipular cada passo, que confusão que me entorpece e me vicia.
acho que se não tenho e nem quero remédio, remediado está. vou me enrolar na minha própria teia.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Virginiana

Maçãs na geladeira
Guardam teu desejo
O tempo é cinza
Não espero mais teu
Beijo

No muro
Um gato escuro
De olhar vagabundo
Observa tua calma

Mas nem ele sabe
Em que absurdo
Ocultas tua alma

(Elionaldo Varela)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

resgatando o conforto

Me contradigo; e acho que isto pode ser sério. Mudo de opinião com muita frequencia, não sei sustentar uma posição antes que ela me cause desconforto. Disse que nao ia correr, mas agora preciso fugir. Não suporto ficar, não suporto imaginar como vai ser.
O conhecimento que adquiri com o estudo da Psicologia me faz crer que o mais pertinente para diminuir o sofrimento psíquico é falar sobre o que incomoda, é suportar o desconforto, é desafiá-lo e combatê-lo.
Me vejo agora na sala com uma criaturinha que depende de mim, precisa de mim. Isso me desestabiliza. Não poder mudar de ideia, não poder fazer o que der vontade, voltar a ser dependente de alguém na medida em que esse alguém depende de mim parece ser uma ideia sufocante. Me dá náusea, tontura, crise de desespero.
A família dá uma risadinha disso e apóia a decisão de reverter as coisas e cortar o mal pelo tronco, até porque eles não entenderiam que a raíz é aquilo que a Psicanálise chama de recalcado.
Por outro lado, realmente permanecer com um bichinho tão lindo e pulguento agora não seria a melhor das ideias. Sair de casa, viajar e simplesmente nao querer sair da cama por um dia não seriam mais os meus melhores programas.
Ela é linda, mas o que ela supre aqui, na minha vida, não é a falta de um cachorro.
Ou até seja, se considerarmos a metáfora. O que ela supre não condiz com a presença de um amigo canino que faça companhia e bagunça. E XIXI NO TAPETE NOVO!
O que ela vem a tampar é o buraco da carência que fora desocupado sempre por eventuais casos sem permanência, que fora desocupado pela família que mora longe, que fora desocupado - às vezes desconfio - por mim mesma. Se me abandonei, ainda não sei.
Mas algo me leva a crer que se estou reagindo e me protegendo, por mais burro e lógico que isso possa parecer, ainda estou aqui, existindo dentro de mim.

Resta trabalhar.. e isso já sabemos que tenho feito bem;melhor do que amar, eu suponho.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

não vou correr. vou ficar.

O mundo, diz Bollnow, está lá fora, em toda sua vastidão, com seus pontos cardeais e regiões, com seus caminhos e estradas. Nesse sentido, como vias comunicantes, a porta representaria a liberdade para se abrir e se fechar com segurança, e as janelas, possibilitando a entrada de luz, seriam como olhos abertos para o exterior. A cama, em contrapartida, representaria o centro de máxima proteção, no qual o homem encontra calor e está em sua intimidade. Antes dela, a mesa teria sido o centro comum de uma família, reunida em torno das refeições. A atomização das relações familiares é o que levaria à busca de um centro correspondente para cada indivíduo, em que se encontrassem vinculados todos os caminhos interiores e exteriores à casa. A cama é, para o autor, esse centro, em que começam e terminam os dias de uma vida inteira. O dormir, a que ela se destina, é um abandono, um deixar-se cair em um espaço sem determinação. Ao dormir e ao despertar, perdemos e voltamos a ganhar consciência do espaço vivencial.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

show me what you got

"Se o observador está condicionando o fenômeno que observa, pode-se objetar que, nesse caso, não estamos estudando o fenômeno tal como ele é, mas sim em relação com a nossa presença, e, assim, já não se faz uma observação em condições naturais". (José Bleger)

Pergunto pra ele se é possível então observar algo sem que alteremos a naturalidade dos eventos. Ele me diz que toda intervenção altera a realidade do que é considerado, e a observação é uma intervenção na medida em que coloca-se na posição de poder modificar a percepção do observado. Exemplificando, vou observar um grupo de crianças numa creche afim de finalizar um trabalho sobre o exercício da autoridade na infância. Zequinha, Bruninha e Tiaguinho são birrentos e quando percebem que estou de "visita", passam a maltratar as crianças mais novas como forma de me mostrarem o quanto são populares e importantes. Evidente que este comportamento enriquece o meu trabalho, vendo ali a autoridade triplamente personificada. Mas.. e se foi só encenação?

Dá pra traçar uma comparação dessa situação com o que nos rodeia no cotidiano. E se estão todos forçando uma aparência pra socializar? É como se o real, o verdadeiro, o puro, estivesse e necessitasse estar escondido, assim como o Id na segunda tópica. Precisamos mesmo recorrer ao back to black para sermos quem somos?
Até onde conhecemos alguém e podemos nos sentir à vontade com elas? E se nunca pudermos estar à vontade com alguém que não nossos animais de estimação.. do que fala a liberdade humana? Liberdade agora soa mais convincente quando se trata de explicitarmos o que tanto nos cutuca implicitamente.
Não faço campanha e nem sei o que é melhor. Mas é a velha história do lassez faire: quem vai fazer primeiro? Ninguém? Alguém tem que fazer... eu não vou.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

pensar demais enlouquece. e revela

Todo o fantasma, toda a criatura de arte, para existir, deve ter o seu drama, ou seja, um drama do qual seja personagem e pelo qual é personagem. O drama é a razão de ser do personagem; é a sua função vital: necessária para a sua existência.

Luigi Pirandello


He's not gonna call. This is an fact that I should be learned since yesterday. But.. life is not perfect and I'll catch this bullshits that haunt my mind.

É fácil tirar o peso dos ombros e pensar que a culpa não é só nossa. Evidente que eu preciso de terapia, mas isso não significa que esta noite, assim, seja reflexo dos meus complexos. Se o Ghost fosse ao menos sincero, como deveriam ser todas as pessoas na minha utopia socialista, eu não ficaria tão frustrada. Sério, pra que prometer ligar e fazer alguém feliz com tanta antecedência? Qual é o medo em assumir as incertezas e limitações que todo mundo tem? Nos deparamos com a verdade e parece que não a aceitamos direito. Várias indiretas me enojam e eu suplico por respostas diretas. Depois, se eu falo com franqueza, sou a neurótica. Falar as coisas como elas são pra quem merece ouvir, hoje, é sinônimo de loucura. Acho que depois de tantas discussões sobre o cuidado na saúde mental em tornar o louco um cidadão com suas razões e princípios, apenas diferenciados, foi levada ralo abaixo.

Sozinha, e não é novidade. Antes só do que mal acompanhada? Não pensava assim no início da semana, quando esperava ansiosa por uma única ligação. Hoje, esmiuçando o que me é dado, realmente vale a pena repensar e querer o melhor.

Todas nós nos esforçamos e tentamos agradar, somos boas acompanhantes e fazemos os deveres de casa: estamos sempre depiladas, cheirosas, maquiadas, com unhas feitas e bom hálito. Somos educadas, gentis, discretas e devassas quando devemos. Qual é o problema? Não merecemos, então, uma boa companhia também, no mínimo?

Quando as relações deixaram de ser pontos de segurança e confiança e tornaram-se secas e vazias?

Quando se refere à duas pessoas e uma relação, muito cuidado deve ser tomado. A gente não sabe até que ponto vai conhecer alguém e, de repente, se deparar com um monstro disfarçado de conhecido. O Ghost se empolgou, disse o que disse pra agradar, conquistar e fazer uma menininha dormir pensando nele. Belo Ego, inventa frases, faz charminho e desdenha.

Francamente, até o Robô merecia mais do que isso!

Peço, suplicante, ao destino: se for pra enviar trouxas apenas, pode cancelar a conta.



quarta-feira, 9 de junho de 2010

the reason yelled

Perfeitos para uma refeição matinal, os cookies com glacê de Mercedes a fitaram por uma eternidade enquanto a garçonete corria pela cafeteria com uma xícara de chá borbulhante. Pediu dois cookies e quando os viu em seu prato, sentiu um berro estremecedor saindo de sua barriga. Outro de sua consciência.
"Moça, por favor, pode levar um? Não preciso comer os dois.."
"Desculpe, mas não posso mais colocá-lo na tigela, agora já está no seu prato, moça."
"Mas eu nem encostei neles. Estou de dieta."
"Senhora, me desculpe, são as normas.. poderia ter pensado na dieta antes de me pedir os cookies."

Uma vez lançada, a chance não volta? Da mesma forma com que Mercedes se comprometeu com os cookies e precisou comê-los, Theodoro sofria com seus múltiplos relacionamentos fracassados. Em algum momento, ele precisaria analisar o que andava acontecendo: sempre atraía os mesmos tipos de mulheres. E sempre era dispensado com as mesmas desculpas. Seria ele o problema? Existiria uma força cósmica capaz de dispensar o pleno uso da razão para escolhermos alguém? E se essa força existe e nos atrai sempre para os mesmos "tipos", porque é tão maldosa?

Theodoro sentou calmamente na mesa e a olhou com piedade: ela não sabia da missa a metade.
Ela refletiu durante o café da manhã.
Ele refletiu durante o passeio de ônibus.
Mercedes e Theodoro, em locais tão distantes na cidade, aproximavam-se no quesito número um para consciência pesada: a culpa.
Alice, namorada de Theodoro, sabia que mais dia menos dia a relação cairia ladeira abaixo, levando consigo as lembranças melindrosas do primeiro mês de namoro, com sorte. Se houve ilusão durante sete meses, Alice sabia que partia dela e que Theodoro sofria, mas gostava de sofrer. Na sua visão, ele era atraído por mulheres poderosas demais, que o obrigassem a ser submisso. Eu ouço ecoando da boca de qualquer leigo: ele é masoquista!
Mas não, não, não! Se ele é masoquista, então eu sou também! Então todo o meu grupo de amigas é também! Então todas as pessoas que eu conheço e posso supor que o mundo inteiro gosta, em alguma medida, de sofrer.
Parece uma suspensão proposital do hemisfério racional do cérebro, mantendo-nos dementes o bastante para nos atirarmos às cegas à uma história de amor que nos leva pra cima com violência e pra baixo com exatidão. Se todos somos neuróticos, como supunha Freud, então podemos admitir que em algum nível também portamos um masoquismo que se revela nas formas mais improváveis e nos relacionamentos mais impertinentes possíveis. Estou errada?

O que atrai na escuridão pode ser levado a mil e uma interpretações, mas com otimismo insisto na tecla de que pode ser uma forma de mostrar pra si mesmo o quanto podemos transformar a escuridão em algo claro, visível, controlado. Assim tornado, o objeto perde o interesse e é substituído por outro tão ou mais obscuro que o anterior. Assim foi e ainda é com Theodoro, que perde a sua essência misteriosa a medida que conquista as mulheres: torna-se tão palpável, que escapa. Ou melhor, é o escape.
E nesse vai e vem de histórias permeando a minha mente, traço o paralelo do comprometimento de Mercedes com a sua própria sentença, concomitante às relações fluidas de Theodoro, que busca o compromisso e a cada vez o vê mais longe.

Se saber sobre o assunto ajuda a combatê-lo? Não sei, mas dificilmente acredito que analistas estejam isentos de questionamentos. Assumo o contrário: fuçamos e esmiuçamos e espatifamos e metemos o bedelho em tantas patologias comuns do cotidiano que tornamo-nos não além de meros viciados em problemas. Nossos, deles.

sábado, 29 de maio de 2010

caos de vida no chão... why not in the air?

So, I'm waiting for the red umbrella.. and what do I do until this happen?

go read, sweetheart; go learn, go live your life... all this it's just a dream.

So, until he doesn't arrive, enjoy!

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Poemeto Irônico

O que tu chamas tua paixão,
É tão somente curiosidade.
E os teus desejos ferventes vão
Batendo as asas na irrealidade...

Curiosidade sentimental
Do seu aroma, da sua pele.
Sonhas um ventre de alvura tal,
Que escuro o linho fique ao pé dele.

Dentre os perfumes sutis que vêm
Das suas charpas, dos seus vestidos,
Isolar tentas o odor que tem
A trama rara dos seus tecidos.

Encanto a encanto, toda a prevês.
Afagos longos, carinhos sábios,
Carícias lentas, de uma maciez
Que se diriam feitas por lábios...

Tu te perguntas, curioso, quais
Serão seus gestos, balbuciamento,
Quando descerdes nas espirais
Deslumbradoras do esquecimento...

E acima disso, buscas saber
Os seus instintos, suas tendências...
Espiar-lhe na alma por conhecer
O que há sincero nas aparências.

E os teus desejos ferventes vão
Batendo as asas na irrealidade...
O que tu chamas tua paixão
É tão-somente curiosidade. (Manuel Bandeira)


seria eu desprovida e assim portadora de um "amor sensual comum", como diz o amigo Sig?

quarta-feira, 31 de março de 2010

metamorfose sem cerimônias

' Assim, com o nascimento, damos o primeiro passo de um narcisismo absolutamente auto-suficiente para a percepção de um mundo externo cambiante e para os primórdios da descoberta dos objetos. A isso está associado o fato de não podermos suportar o novo estado de coisas por muito tempo, de periodicamente dele revertermos, no sono, à nossa anterior condição de ausência de estimulação e fuga dos objetos. É verdade, contudo, que nisto estamos seguindo uma sugestão do mundo externo que, através da mudança periódica do dia e da noite, afasta temporariamente a maior parte dos estímulos que nos influenciam.' (Freud, S. - 1921)

pede pra entrar e já sabe que a casa é dela. chamem de borderline ou bipolar, mas o bom mesmo é poder mudar e sentir-se livre para isto.

sexta-feira, 26 de março de 2010

My black eye casts no shadow

Pra quem tinha passado um tempo cuidando de um celular como se fosse um filho, Izis está recuperada, mas ainda mostra o trauma inicial sempre que pode. Também pudera, ninguém é perfeito e ela sabe que isso é um alívio.
Andava de um lado para o outro com o aparelho nas mãos. Banheiro, cozinha, cama, sala, faculdade, academia, mercado e aonde mais pudesse monitorar os minutos em que não recebia ligações. O curtido dessa história eu antecipo: ela se frustrava tanto, mas tanto, que se acostumou, gostou e passou a pedir pra se frustrar mais. Foi tola, caiu e achou que tinha se safado de aprender mais sobre as limitações morais dos seres humanos.
Quando achou que pudesse se distrair, comeu pelas beiradas e acabou percebendo que se engana o tempo inteiro. Izis insiste que não quer tantos relacionamentos sérios, mas fica constrangida quando não ligam no dia seguinte. Não quer ser vista como gauche*, mas quer que alguém a observe. Será este o motivo de sonhar com um perseguidor que a amedronta? Quando o inconsciente grita é melhor deixar a coisa acontecer antes que ele se irrite e volte mais violento.
Ela sentiu então que Hugo não era sua melhor opção. Até pensou em não se envolver demais, e isso acabou acontecendo MESMO! Ele quis curtir e esta era a premissa inicial de Izis, mas, como disse, não quer ser apenas mais uma.

Ahá.. ela entende porque Jerônimo então lhe mandou uma carta de amor pedindo que não fosse só mais um em sua vida. Ele se apaixonou e ela só assistiu o espetáculo. Fria, mas viva.

Fico confusa se realmente os atos de Izis podem não ser levados à sério. Caiu na bebedeira e sabe-se lá se vão lembrar do que possa ter feito.
Imaginou também, como de praxe, que alguém próximo pode estar se aproximando mais, mas isto ela deve filtrar; afinal de contas, comida não pode ter tempero de menos, nem demais.
Percebam, Izis pode entorpecer-se o quanto quiser, mas continua sóbria moralmente, e livre no amplo sentido carnal. Esta é sua condenação: nunca se livrará de si própria, de seus pensamentos e receios.
Seja com quem for, Izis precisaria mesmo é de uma terapia de choque, ou do colo dos pais.

sábado, 13 de março de 2010

elixir da auto enganação

I'll be cold

segunda-feira, 8 de março de 2010

So why on earth should I moan?

Como um sopro de frescor, a chuva foi e veio e agora me sinto confortável se ela demorar a chegar.
Acho que o precisa-se mesmo é de peças substituíveis neste jogo manipulado por sei lá quem.
Sorrisos, abraços, carinhos, saudades. Sabe-se lá até quando vai durar.. dali a pouco escutamos críticas, deboches e reclamações de currículo e tudo o mais. Assim que é bom, é saudável, é renovável.

Mais um ponto pra caixinha de surpresas: não pensava que gostaria tanto de continuar a conviver com quem me cerca. Acho que a sensibilidade tomou conta e estou com bons humores.
Resta apenas saber se as outras parte da vida acompanharão esta boa maré.

domingo, 7 de março de 2010

de prata ou bijuteria?

Te vi hoje, e você foi a minha chuva. Foi bom te sentir em mim, disse Claudia, já embriagada do líquido que lhe ofereceram. Mal ela sabia que nunca deveria aceitar bebidas de estranhos; considerando que não conhecemos nem à nós mesmos, não deveria aceitar nada de ninguém. Mas... o ser humano é curioso.
Voltei, depois de um dia ocioso, esperando notícias, voltei, pro casulo que agora me protege. Voltei esperando que houvesse uma surpresa, fosse ela agradável ou não, a única coisa em que não tomo gosto em me apoiar é nessa incerteza que dá ânsias e vicia tanto. Se as situações fossem definitivas e claras, talvez o mistério não encantasse.
Pois bem, Claudia voltava para casa recebendo com carinho os pingos que a molhavam cada vez mais, num cenário de chuva e sol, que a entorpecia.
Pensou que talvez estes mesmos pingos que a faziam sentir-se mais jovem, fresca, alegre, poderiam ser os pingos que Juliot depositara desde o dia em que se cruzaram. Entendendo isto com conotação sexual ou não, ela não ligava: queria apenas refestelar-se em sua mais nova descoberta.
Disse, em uma noite com a lua quadrada:
"Você é a minha chuva; vem à mim delicadamente, mas sem pedir, como o que não esperei, mas desejei. Se instala em minha pele e vai penetrando em meu ser, até que tome conta de mim. Há más línguas que dizem que os acometidos pela sociopatia, em seus 'relacionamentos pessoais', armam o circo e depois vão embora, como se fossem vítimas. Você me provoca desconfianças que o colocam nesta posição. Estaria você plantando uma semente que não quer colher?
Devo sim estar desconfiada, isto já aconteceu antes e por mais que digas que não és igual aos outros, sinto medo."

A chuva ia caindo e ela deleitava-se num prazer singelo, pueril, mas nunca superficial. Claudia pensava que a chuva é a melhor das companheiras, pois não precisa aparecer todos os dias para que a apreciemos. Não nos viciamos nela, então podemos curtir quando chega sem pedir.
"Você foi minha chuva. Veio sem pedir e agora está grudado"
O que Juliot não entendia era que isto era um milagre, que deveria ser apreciado até as últimas consequencias do primeiro ato, da primeira palavra, do primeiro olhar.
Saudades eles sentem das épocas em que o compromisso era ignorado. Hoje vemos mais um típico caso de separações e desencantos vagarosos, em que um desabrocha antes do outro.

Ele foi sua chuva e ela gostou, até que ele se apresentasse apenas enquanto chuva. Pois a chuva é passageira e por mais que permaneça na lembrança eternamente como o momento de redenção das almas, não é necessidade de sobrevivência como o sol. Ele, portanto, era a sua chuva. Claudia pedia incessantemente para que Juliot não se tornasse o seu sol, pois a chuva refresca, prova a vida".

sexta-feira, 5 de março de 2010

Entorpecentes esperados

Sabina foi pega de surpresa. Caiu na armadilha e agora já sabe que para sair, terá de usar boas molas pra alcançar a superfície do poço do amor em que se meteu. Ela sabia, já havia comentado anteriormente que sempre desconfiou que se houvesse insistência, ela cederia. Apesar de sua negação, primeiramente resistente, Sabina revelou-se permeável, pois bem, agora está perdida na mata escura e penetrante, que a engoliu bruscamente.
Quando dizemos, caros colegas, que as melhores surpresas da vida acontecem justamente enquanto surpresas, não falamos da boca pra fora. Sabemos que o inesperado seduz, nos pega pelo pescoço e nos faz gemer até que gritemos que concordamos que o que é proibido, inaceitável, impossível, é o que queremos.
Ô Lacan, brigada por mais uma vez descrever o objeto "a" enquanto central na minha vida, acho que eu estudo tanto Psicanálise pra depois aplicá-la em mim.
Quando Sabina abriu os olhos, sentiu-se revitalizada, sentiu-se confortável, sentiu-se livre. Há um aspecto intrigante meio à liberdade. Sabina sempre a desejou, nunca tomou gosto por prisão, compromisso e tanta estabilidade em sua vida amorosa. Porém, dadas as circunstâncias do destino, Sabina está livre, mas sente-se solta demais, desamparada demais, livre demais. Seria mais uma de suas armadilhas em que cai sempre ou seria sua mudança, tão esperada e temida?
Sabina está se tornando fiel, comprometida, estável. Isto a deixa instável, medrosa, temerosa.
Não sabendo como agir, torna-se agressiva, como um animal que fora maltratado e quando recebe carinho, afugenta-se. Tanto conversou com seu colega de filosofadas, a agressão nada mais é do que um mecanismo de defesa. Os brabinhos são carentes e não conseguem (não por incapacidade, mas por ignorância. Entendam o termo corretamente, como a ausência do saber, ausência da experiência) expressar quando amam. Estes, os raivosos, precisam é de carinho, amor e segurança.
Pois é, Sabina está recebendo isto e teme tanto perder este porto seguro que se esvai em conversas intermináveis madrugada adentro, desejando a presença de tal ausência.
Mas agora, acabo de notar que Sabina sente é vontade de ter mais carinho! É a evidência perfeita para que confirmemos o quanto ela é uma pessoa presa à terra firme. Sabina está conosco, apenas deixa por vezes sua face perversa tomar conta de si. E agora, colegas? Como tratamos deste caso?
Ela pretende ser sincera, mas não até as últimas consequências, pois isto a traria novamente ao fundo do poço do amor escuro e sombrio.
Será que, por revelar sua alternância obscura Sabina não gostaria de experimentar novamente tal situação?
Esperemos para saber, afinal de contas, não há de se esperar que ela mude tão bruscamente... se mudar, há a tênue esperança de que volte a ser como sempre foi.

Já dizia Nietzsche, pressupondo o que sinto agora: "O medo é o pai da moralidade".
Sabina, seja imoral.

quarta-feira, 3 de março de 2010

futricaram os baús da Babilônia

Meio à tanta psicologia borbulhante dentro de uma sala minúscula, percebo o quanto tenho que fazer nesta vida. São casos de abandono, depressão, cognição, euforia e entre outras preocupações, a minha centrava-se em ser uma profissional eficaz. Depois de tanto tempo (que às vezes sinto pouco) de devaneios teóricos, preocupações de leitura e desesperos acadêmicos, me vejo diante de seres humanos que precisam de ajuda. O que eu faço?
Olhinhos esbugalhados que me fitam durante toda a primeira entrevista, sorrisos disfarçados, que mais revelam a profunda e aniquilante inquietação da alma daqueles pobres infelizes que são como eu (fora do consultório) : humanos, demasiadamente humanos.

Me forço a prestar atenção em cada movimento, palavra, gracejo. Tudo hoje é importante. Tudo hoje é necessário. Tudo, menos o essencial. Eu acredito que o maior segredo da terapia encontra-se nos primeiros instantes desta. A apresentação de um paciente, sua auto avaliação, seu próprio diagnóstico, sua queixa. Palavrinha tão utilizada.. me fez pensar.
Por que nos queixamos? Lendo Freud eu entendo que há algo de prazeroso no desprazer.
Sendo mais clara..
Gostamos de sofrer; gostamos de passar por situações dolorosas para dizermos, pensarmos e sentirmos que PASSAMOS por elas.
Tio Sig dizia que há um ápice de tensão libidinal em que o indivíduo desloca a sua energia justamente pro que há de mais sutil na existência humana: o inanimado. O processo se dá como em uma montanha russa: de início estamos no plano, andamos devagar e a expectativa é o sentimento que reina. Quando estamos no alto, há algo inexplicável por parte de quem sente, uma excitação incomensurável que simplesmente toma conta de nós. A primeira reação, a princípio, seria acabar com a tensão (deixando-se cair e deslizar pela montanha russa). Ao cair, vem o alívio; porém, a sensação de poder e exaltação que sentiu-se lá em cima é lembrada com furor por uns, com pavor por outros.
Resumidamente Freud nos diz que nesse ponto alto da emoção é que "tomamos a poção mágica" do vício. A aventura instiga, o impossível atrai. Quando o temos, queremos mais é desfazer tudo o que fora feito para dirigirmos à outro objeto a nossa pulsão original.

Não só por isso admiro o título de tal obra, mas dizer que o que há Além do Princípio do Prazer é este gozo descrito por Lacan no inesperado é dizer-me que posso viver sem culpas, pois o que gosto é da renúncia mesmo.

Aprendizagem, silêncio, sono, medo, expectativas, atrevimento, ambição, angústia, euforia, apego e cansaço são as palavras do dia, já que o estágio está apenas começando.

segunda-feira, 1 de março de 2010

eu liricando falando na poesia

(...) Cássio* de quê? Cássio, simplesmente Cássio. Não basta?

(...) - Cássio de Tal - ele havia dito -, Mariana de Tal, o resto não interessa. Que mania vocês têm de sobrenome, do de antes do sobrenome, os antepassados importantes, as famílias que vem do tempo do Império, o apartamento na beira do mar, o carrão preto e luzidio com o motorista fardado a abrir a porta aos patrões; isso tudo não passa de perfurmaria e você sabe disso (...).


Simplesmente você. Ás vezes sem lenço, sem documento, sem frescuras, sem reservas, sem vergonhas, sem roupas. Só você. Se pudéssemos colocar cada ser humano lado a lado, cada qual com sua peculiaridade, sem maiores interferências de uma suposta moralidade, estaríamos diante do real espetáculo da vida. Veríamos sorrisos, veríamos o indivíduo em cena, indivíduos juntos que constróem... o que?
Juntos ou separados?
O budismo prega, dentre tantas filosofias interessantes, a arte do desapego material. É evidente que diversas outras doutrinas religiosas e de pensamento convergem no que diz respeito à ocupar-se da espiritualidade como forma de melhorar a qualidade de vida.
Recorrer à filosofia sempre foi um hobbie, e hoje eu peço que parem de rodar o planeta e entendam que só escrevo quando não vivo.
Estou hoje numa fase em que vivo pela metade, e por isto minha escrita não se mostra de qualidade como as demais, mas aqui estou eu, regressando.

Quando estou sem fôlego, quando estou dentro do movimento repetitivo que o mundo proporciona, eu percebo as coisas, eu capto as coisas, eu me transformo nas coisas. Quando a vida passa, eu escrevo. Eu deságuo, eu evacuo os sentimentos que afloraram durante a minha primavera emocional.

Quando me desapego da escrita, sinto que algo falta, que algo se perde. A escrita é, por via das dúvidas, a forma mais certeira de se registrar algo. Mas aí me pego no paradoxo de imaginar a cena de um casal sentado na grama quente do sol com um vento gelado acariciando seus rostos. Eles se abraçam e apreciam a vista.
Isto eu registro em descrição, mas nunca será um registro absoluto, pois o cheiro, o olhar, o toque, todos estes, são transcendentais.
Penso hoje em ti, Cássio, desapegado dos teus costumes, largado dos teus princípios, separado do teu passado. Estás certo de que nada disso voltará? Não te induzo a pensar que desconfio de ti. Jamais, confio como jamais confiei.
Mas te desafio a pensar, em liberdade - a qual combinamos - que penses se o que há é algo que em ti borbulha.

Digo que acho esplêndido o desapego, mas assumo que sou apegada e sou materialista. Não como Freud costumava se auto denominar, ou como pensamos no radicalismo da expressão. Sou zen e constantemente espirituosa. Tenho lá minhas supertições e manias, assim como todos, e torço para que tu, Cássio, descubra-as, comente-as, ame-as.
Torço para que tu te entregues, quero te conhecer por inteiro, quero te roubar do teu corpo, quero te manter leve, quero desbravar todos os mares que um dia se mostrarem turvos.

Só preciso, Cássio, que voltes da Itália e aterrise em terra firme.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

chutando a arte da prudência

E como saber se estamos fadados ao fracasso?

Quando começar a invejar a felicidade alheia, sentirás...

domingo, 14 de fevereiro de 2010

if

... e ela continua esperançosa. Não é uma esperança otimista, de sentir as coisas dando certo, ou imaginar com um sorriso o que há por vir. Sabina preenche a sua falta imaginando como seria seu futuro caso coisas boas e ruins acontecessem. Ela não quer o tempo presente...desdenha ele. O passado ela enterra e tem náuseas ao recordar. E o futuro.. ah! O futuro para Sabina é o seu passatempo preferido. Imaginar sem o compromisso tem dois aspectos vantajosos, mas perigosos.

(1) Pensa, imagina, cria, sonha, goza com essa possibilidade que tem em não precisar se comprometer; caso faça algo errado, pode recriar sem sofrer consequências.

Porém, (2) Sabendo que é só imaginação, o quão distante está do que realmente quer?Ora, vamos pensar... se ela imagina as coisas com um desejo vindouro, é porque quer que isto aconteça, em alguma instância. Se Sabina também sabe que em imaginar não se compromete, fica na iminência de fazer/não fazer.

Ela prefere o futuro, pois por mais que em seu corpo a sensualidade esteja estampada, por mais que suas palavras corroam ao fundo suas vítimas, ainda por mais que ela seja, diante de todos os fatos, uma egocêntrica altruísta, Sabina teme que fique só. Seus atos e devaneios a entrelaçam, enrolam sua consciência da mesma forma como Taylor a acolhe na cama após uma noite sem fôlegos.
Infinitamente desorientada, Sabina irradia seu encanto e faz um espetáculo frente os olhos de todos. Agrada, mas por dentro está corroída, pois sofre do pior infâmia que pôde ser acometida: a dúvida.Comenta-se que os medrosos preferem o futuro, pois podem passar o presente planejando e nunca fazer nada.
Ela teme e psicossomatiza sua angústia pois a tentação chega muito perto, encosta e a espera. Seguí-la seria confirmar a existência de um gozo esperado, o ápice das realizações camufladas em singelas conversas virtuais.
Ponderar, considerando as partes envolvidas a faria, provavelmente, abrir mão da tentação, evitar a mordida da maçã e assim, continuar em suas ilusões nunca concretizadas. Até aonde a nossa moral nos impede de realizar nossos desejos? Como sanar um impasse que consome dia e noite, enoja, machuca, prende a respiração?
Se o fizer, ficará com medo, arrependida por alguns momentos, com a consciência pesada. Mas nada que nunca tenha acontecido com Sabina.. ela já agiu, em menor grau, de tal forma.
Se não o fizer, algum dia sentirá remorso por não saber apreciar a vida. E o conflito entre a marca registrada em seu corpo e sua filosofia de vida entrará em cena, intensificando mais ainda sua náusea.Dadas as cartas, restamos a concluir que agir seria a melhor opção. Mas como? Sabina, apesar de tudo, é uma lebre perdida no escuro, tem medo e isto a impede.


Estamos em outra discussão, a que traz à tona todas as trancas que nos impedem de darmos um passo no escuro.Quem trará as respostas meio à tanto fogo aceso?

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Reconhecer-se

Sabina pede desesperadamente para ser notada. Peço que aguardem alguns instantes marcianos para que eu volte a trazê-la à tona.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Dance, Dance

Clara me contou que a vida deve ser aproveitada porque é um rascunho, e que não temos tempo para apagarmos o que não nos agrada. Apesar de sua idade, senti aquelas palavras penetrarem em meu crânio e cutucarem os inquietos neurônios que por alguns instantes raros, estavam descansando. Será que eu tô aproveitando?

Foi assim que André chegou ao meu consultório. Extremamente preocupado com o que faz e com o que diz. Se está perdendo tempo se questionando tanto, ele nem se importa. Diz ele que quanto mais tenta não pensar nisto, mais o labirinto se estreita e mais vigilante ele fica. O que André não percebe é que a vigilância é consigo mesmo, e que isto muda as coisas pra um cenário muito mais delicado. Pensar em si é complicado, afinal de contas, não estamos, de forma alguma, imparciais. E devemos?

Para melhor entendê-lo, procurei em minha biblioteca um alguém que sempre ajuda de alguma forma em todos os casos que estudo: Foucault. Diz ele que
os gêneros de expressão estão divididos em quatro famílias:

  • Os atos do conhecimento: cuidar-se de si, voltar seu olhar para si, examinar-se a si próprio
  • A idéia de movimento: conversão do olhar, vigilância necessária a si, “movimento global da existência que é levada, convidada a girar, de alguma maneira, sobre ela mesma e a se dirigir ou voltar-se para si.";
  • O vocabulário médico, jurídico e religioso: cuidar-se, sarar-se, amputar-se, abrir seus próprios abscessos, reivindicar-se a si mesmo, liberar-se, render-se culto, honrar-se;
  • A relação de controle: dar prazer a si mesmo, satisfazer-se, etc.


Tentando entender que Foucault buscou na filosofia muitos subsídios para sua extensa pesquisa e obra, tomei um chá de autonomia e pensei que talvez André não entendesse ainda que o preceito 2 (vigilância necessária de si) não precise de tanta ênfase em seu cuidado consigo. É natural se preocupar com o fim da própria existência, até porque não conhecemos o que virá "do outro lado". A morte ainda desperta interesse e horror aos vivos.; e isto tem motivos claros: temos medo dela, mas ao mesmo tempo fomos arruinados (e vale dizer que afortunados também!) com a curiosidade, o que nos aproxima cada vez mais do fim.

Às vezes eu penso se eu tô realmente aproveitando o tempo com a Marina e fico tão preocupado com isso que não acompanho o que ela fala, muito menos o que ela faz... eu fico viajando, sabe?
Outro dia ela me disse isso, que eu viajo demais quando tô com ela. Ela fica muito chateada, briga sempre que a gente se despede.. que que eu faço?
...
A nossa vida sexual anda fadada ao fracasso. Enquanto ela espera uma performance revolucionparia eu ofereço apenas o casual e fico pensando, durante o sexo, em como melhorar. E não melhoro, porque só penso!

Olha, é difícil encarar a verdade quando ela se apresenta para nós. E isso não é clichê, é a pura verdade mesmo.. talvez seja por isto que é mais difícil ainda admitir que é difícil. Acompanham-me, caros colegas?
Yalom nos traz por vezes a reafirmação, na terapia, do aqui e agora, como formas de se aproveitar ao máximo o que aparece durante uma sessão, tentando "aterissar" o pensamento e trazê-lo ao plano consciente. Será que deveria então ler novamente este tipo de abordagem para melhor orientar André? Na dúvida..

Me recordo do pequeno documentário "Dance Monkeys, Dance!", que revi várias vezes esta madrugada, e que me fez pensar nas grandes preocupações que ocupam o nosso tempo, nos impedindo, muitas vezes, de desfrutar o aqui e agora. Seria pedir demais para dançar e, metaforicamente, despreocupar a consciência, proporcionar à espontaneidade, à inconsciência e inconsequência momentos de liberdade? Sem mais discussões acerca dos porquês, vamos ser crianças um pouquinho? Esquecer os extratos do cartão de crédito, ignorar o rejunte que falta no banheiro, simplesmente apertar o botãozinho DESLIGAR do celular... pare um pouco!
Diego Araújo me alertou, dentro do ônibus :
" Pare
Olhe
Escute
A vida está passando..."

Agradeço ao Diego e à prefeitura, que me deram a oportunidade de ler isto.

André vai voltar para casa mais aliviado, sem dúvida. Falou, desabafou, pelo menos chegará em casa com menos "material" para pensar.. assim espero. Mas como fazer para detonar a paranóia?