domingo, 26 de dezembro de 2010

“...será que um acontecimento não se torna mais importante e carregado de significados quando depende de um número maior de circunstâncias fortuitas?”


tenho pensado; seria o destino, Deus, livre arbítrio ou inconsciente? tudo junto, nada disso?

sábado, 25 de dezembro de 2010

concebendo conflitos

Hoje ele a cortou de todas as formas. Repreensão, olhares opressores, palavras secas e brincadeiras que declaravam explicitamente quem mandava ali. Obviamente, espera-se postura e autoridade de um pai, mas quando a ruptura é tão gritante há espaço para lágrimas e sensação de abandono. Marcel Rufo tanto me explica nesses últimos dias.. me diz que esta sensação é tida como natural, uma vez que toda separação machuca, porque estamos saindo de uma situação que até então nos proporcionava certo conforto. Pichón Riviere, quando elucida sua teoria acerca da técnica grupal, conta que o medo da perda é sentido pelos integrantes do grupo frente a resistência à mudança; este movimento representa o medo que temos de sair de situações em que já conseguimos estabelecer estratégias para lidar com o que nos angustia. Autores a mais e a menos, Carla se sentiu podada durante o dia, mas procurou aliviar, distrair, relevar. Não veio só de um lado.. parece que estar com pessoas em volta nos traz a sensação de acomodação, alianças, afetividade; em contraponto, perdemos nossa privacidade em sentidos amplos e importantes. Se digitamos rápido no computador, isso é irritante; se dormimos demais, somos preguiçosos; se dormimos de menos, somos ansiosos crônicos; se não comemos gordura, somos neuróticos; se comemos demais, somos sem noção. Sempre há uma falha, disso todos sabemos.. mas até que ponto o outro pode apontá-la incessantemente?

Tadeu foi muito claro nesta última cena: Carla brincava com o cachorro que corria pela casa. Outras pessoas assistiam a um programa na televisão. Carla não grita nem corre, só vai atrás do cachorro, mas parece que isso já provoca a incomodação de Tadeu. Ele cerra ela com os olhos e fala palavras secas, como se ordenasse algo. Ela sai de perto e sente o extremo oposto do que seria sentir-se acolhida. Começa a pensar e nisso se recorda que a idealização que criamos das pessoas que se relacionam conosco é em parte constitutiva, em parte prejudicial. Sabemos que sonhar é saudável e que muitas vezes alimentar um sonho exercita nossa capacidade imaginativa, desenvolvendo a habilidade de resolver problemas hipotéticos e a criar diferentes formas de se lidar com alguma situação.

Pausa. Retorno.

Construir a imagem de uma mãe suficientemente boa e um pai protetor requer uma idealização quase romântica para que criemos uma suposta proteção e segurança, um apego seguro. Falhas enxergamos no caminho, essas imagens ideais vão se tornando transparentes e fissuradas, até que saibamos adaptar a idealização à realidade. Pergunto-me como isso acontece, mas não de filho pra pai, e sim de homem para mulher. Me ocorre que Carla nutre um sentimento de idealização forte pelo pai, e que aos poucos enxerga que ele não corresponde à imagem que ela criara em seu universo particular. Cada pequena ruptura a machuca um pouco, é como se sofresse de uma desilusão amorosa; porém, de cura mais rápida e consciente. É como se cada luto fosse facilmente elaborado. Entretanto, quando se trata de Hugo, Carla percebe que nunca montou uma imagem bonita sua, algo que realmente a fizesse admirar sua presença, tampouco sua ausência. Era como uma forma de bolo vazia, ali caberia qualquer coisa, havia disponibilidade para isso. Opa, calma aí, Nem tanta disponibilidade assim.. ele já tinha cortado os naipes dela desde o início e ela continuou, por vontade de experimentar-se. Desde então, ela falava e repetia que ele tinha defeitos e que ela enxergava finitude naquele envolvimento. O que nos leva, então, à agonia de separação mesmo quando não criamos a tal sensação do apego seguro? Se com ele Carla não estava "segura", tampouco acolhida, por que sentiu-se abandonada?

Talvez a suposta resposta para esta pergunta resida no fato de que Carla não localizava em Hugo o homem que a preencheria, simbolicamente. Talvez tenha ficado tão restrito ao corpo que na alma nada se inscreveu dele. Talvez do que ele representara naquele momento, daí a sensação de abandono, por alguém ter abandonado, mas não especificamente Hugo.

Mudando de foco, uma vez que há desejo de sobra para que este assunto seja encerrado, Marisa se percebe repetindo os comportamentos de Carla em outras situações. Ela conheceu um rapaz que a atrai, de alguma forma misteriosa e divertida de se explorar. Ela sabia da idealização inicial; a pessoa não possui defeitos, ou pelo menos não os escancara. Ela até enumera algumas coisas que não gosta nele para que não caia de amores logo ( e aí recorro à paixão pelo que é perfeito. Se um homem é perfeito demais no início nos apaixonamos? por que muitas procuram defeitos? queremos destruir a possibilidade de que ele ocupe a posição do pai que até então era o perfeito? isso é freudiano demais? estou enlouquecendo?). Penso novamente que Carla e Marisa tem esta caractéristica em comum: querem ver defeitos para que a realidade seja posta na mesa. Mas.. será que não vale a pena nutrir a fantasia por um tempo?
E este novo rapaz, que - em sintonia - faz Marisa repensar em muitas coisas, tem a intenção de passar a imagem da perfeição?

Muitas perguntas, muitas divagações.. não quero encontrar respostas, isso limitaria e traria à tona justamente o que a minha natureza neurótica nao suporta sem sessões contínuas de análise. De férias, haja mencanismos de defesa!

A pausa se deu porque Tadeu pediu desculpas à Carla, disse - entre outras coisas - que quando estamos com outras pessoas devemos respeitar as vontades alheias também, muitas vezes abafando as nossas. Mais? Mais, Tadeu?
Ele disse que ela não o desapontasse, que não fosse grosseira e que ele a amava. Novamente, constrói-se uma ponte de idealizações e promessas divinas, laços que parecem inquebráveis.
É tudo lindo, saudável pelo perdão e consciência, mas será que Carla consegue continuar nutrindo esta imagem que tem de Tadeu? Será que de todas essas pontes, laços e imagens, nada foi quebrado ao ponto de não haver possibilidade de remendo?

E se não há como remendar.. como atravessar a ponte? Se atravessa a ponte?

Preciso de filmes, livros e tudo o mais que enriquecer esta discussão transposta da família ao mundo sem proteções e escudos.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

tecendo na folga

No estudo referente à clínica das psicoses, um conceito salta de imediato para compreender a realidade dos ditos loucos. A foraclusão, descrita literalmente como exclusão e prisão fora do território é entendida na Psicanálise como análoga à condição dos acometidos pela patologia que fez Freud se conter no estudo das neuroses. Os verdadeiros presos do lado de fora nos fazem pensar em sua intensa espontaneidade que por vezes nos assusta e resulta em camisas de força, sedações e estereótipos. Solal Rabinovitch conta que os psicóticos estão presos em seu inconsciente, não conseguem articular três elementos básicos para o compartilhamento da realidade neurótica. Três elementos esses que formam o nó borromeano (Real, Simbólico e Imaginário). Quando o nó é solto, não há correspondência possível que considere o psicótico inserido, inscrito. Diz-se, então, que sem a inscrição no nome-do-pai, o psicótico não simboliza e fala, faz, vive, ao pé da letra. Sua capacidade de metaforização é ínfima, senão inexistente. Ainda prefiro imaginar que há uma brecha.

Teorias à parte, o autor me traz um questionamento muito válido. Meio ao caos do shopping em compras de Natal, pensei em reler uns trechos do livro que acabara de ser adquirido pra que o tempo passasse mais rápido. Aí vem a ideia de que eles estão presos no mundo exterior, em um estranho exterior. Ora, se há então uma divisão que corresponde ao compartilhamento da realidade entre neuróticos e psicóticos, consideraria-se que internamente está a neurose e excluída a psicose, sem possibilidade de adentrar no outro mundo. Por que então condenar a psicose como taxada de loucura se na neurose também há uma realidade ímpar?
Tanto em Don Juan de Marco quanto em K-pax, nos deparamos com a dúvida acerca de quem fala o que é real, se considerarmos que existe uma verdade absoluta sobre todos os seres humanos. O paciente delira ou tenta nos convencer de que há vida para além do que até então compreendemos?

Se eles estão presos do lado de lá, não estaríamos nós, presos do lado de cá? Será que o conhecimento humano pode ser pensado como objeto bitolado então? Estamos plenamente confortáveis com o que sabemos e controlamos? E se não controlamos, internamos? Diz ele:

"Porque os loucos são externados em seu confinamento fora, nós os internamos; é a nossa única maneira de reconhecer, no louco, o estranho ou o excluído que é o outro para cada um de nós, no clarão súbito de uma liberdade que nós lhe invejamos porque ela nos ofusca".

Somos tão egocêntricos assim? O que não é gual à nós e nos ameaça a integridade intelectual é julgado e separado? Há medo de contágio? Que realidade neurótica é essa que mostra-se tão frágil, então? Seria, a meu ver, uma fragilidade inerente à condição humana. Algo da ordem do desequilíbrio, algo insustentável, que o homem nunca conseguirá conter, deter, controlar. Na realidade psicótica existe uma exatidão e rigidez nas coisas que não é possível uma brecha ou uma curva que abra espaço para dúvida. Daí, o psicótico não duvida, ele crê.
Assumimos a nossa falta, a nossa dúvida, o nosso ciclo vicioso que é a vida e por isso o que não é nosso é tido como invasor. Parece natural se pensarmos na ordem da justiça e estabelecimento de leis em nossa sociedade. Prot, personagem que diz ter nascido em um planeta diferente da Terra, conta que em sua casa não há leis pois eles sabem, internamente, o que é certo e errado.
Quero ir além de questionamentos acerca da ausência da lei na psicose;
Ele diz que não é necessário que uma legislação e um bocado de homens se ocupem de algo que é de cada um.
Deveria ser assim? Olhando pra perfeição alheia é claro que tentaremos cobrir nossas fissuras, é o eterno vir-a-ser. Queremos tanto o desejo do outro que é imprescindível buscar sempre a perfeição para que estejamos sempre, desta forma, desejáveis. E é aí que mora o mistério, é uma busca incessante, e nós sabemos disso.

Estando em outra dimensão, outro planeta ou até em outra realidade, estamos isentos dos problemas alheios? Se a minha estrutura prega que sou desta forma e não posso mudar, será que isso me conforta? Penso no caso de Vera, que é problemática no sentido de ter problemas, criar problemas, gostar deles, ver estes problemas nos outros e ficar indignada dos outros não lidarem com seus próprios problemas como ela lida. É um labirinto que cansa ser percorrido. Por ela então, nem se fala. Vera sabe que é doente, seus companheiros de vida também o sabem e tentam confortá-la na vida cotidiana sem que maiores recursos pudessem vir a apaziguar seu sofrimento. Desta forma, ela evita entrar em contato com o cerne do problema e cria uma estratégia de vitimização, pois explicita que é doente e utiliza essa desculpa para conseguir o que quer. É uma espécie de apego à fragilidade que nos coloca na posição de afetados e portanto, dignos de receber afeto. Típico. Todos o fazemos, em graus diferentes. O fato é que Vera se protege em uma redoma criada e não quer nem saber de se tratar, pois isso a tiraria da posição de vítima e a colocaria na posição ativa de quem é autônomo e pode se virar bem sozinho.

Somos assim tão dependentes ou soltos de tudo? É sempre um radicalismo, um extremismo, um determinismo? E se estivermos errados e houver algo entre ser vítima e ser independente? E se de fato nossa realidade não for a única e assim, questionável em suas leis e determinações?
Podemos mesmo nos dar o benefício da dúvida?

Hoje pensei se o esqueci. Fiquei em dúvida; balancei a cabeça e me distraí.
De fato, duvidar revela, e revelar demanda compromisso na análise. E nem sempre é agradável. Como posso eu condenar Vera se eu também fujo do cerne? É preciso encará-lo? E agora, e agora?

sábado, 18 de dezembro de 2010

ínterim (?)

nada mais sobrou, então não vou fugir de nada, vou apenas dar um tempo pra que as coisas voltem a aparecer na minha vida como se fossem frescas, puras, quase virgens. assim, é bom se enganar um pouco achando que num novo ano vai ser como nas boas épocas de Malhação: tudo novo, com cheirinho de velho. ou seria o contrário?

O Freud sempre vem à minha mente quando penso nisso e não é à toa, pois ele tanto me ensinou sobre a repetição. A gente conhece pessoas novas e se envolve em relações que parecem únicas, cheias de aventuras e novidades. Engano nosso se pensarmos que seremos completamente diferentes.. no fundo a nossa intenção é a mesma, só está sendo revelada de uma forma diferente.
Pensa, com seus pais, tios, primos, irmãos, professores, namorados, amigos, conhecidos, nós sempre encenamos da mesma forma quando se chega a uma situação-limite. Fugimos? encaramos? ficamos bravas e travadas? Choramos? Rimos? Um roteiro bem escrito daqui pra frente seria quase o mesmo do que tecer uma retrospectiva. Nós continuamos os mesmos, só não sabemos o que há por vir, e é aí que reside a diferença entre passado e futuro.
Diz ela, muito sábia, que tornando as coisas conscientes, dizíveis, elaboramos uma forma de não continuar repetindo comportamentos que nos fazem mal. De fato, e daí eu bato palmas de pé para a psicanálise. Porém.. será que sempre vale tirar o pano e mostrar a sujeira? Saber dos pormenores de cada relação que estabelecemos é necessário? Se ela quiser construir uma barsa de como é com cada um que encontra, pode ser que o esforço valha à pena.

Falo muito e às vezes sinto que não digo nada. Andando em círculos, voltando pro mesmo ponto, parece que não houve avanço.. talvez esta seja a época para que não haja avanços. Talvez seja a hora de armazenar, aquietar, sentir, reservar. Se fevereiro e março estão agitados, assim como o resto do ano, o melhor é colocar janeiro em banho maria.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

when the roof came in, the truth came out

but if you can make through the first weeks and months ..
if you believe that healing is possible ..
then you can get your life back
but that's a big "if "

E é um grande abismo, uma grande condição, um grande compromisso consigo próprio, com os valores e princípios que foram estebelecidos naquele momento em que a confiança quase alcançava o céu. "Enviar", e a sentença está lançada. Não há arrependimentos, o que tinha que ser foi mesmo... mas quanto tempo demora pra cicatrizar? E depois que cicatriza, os pensamentos ainda assombram, os sonhos ainda incomodam, os elementos que nos fazem recordar e reviver certas coisas ainda dão enjôo?
E o que dizer dos ditos sinais que trazem pro presente coisas e pessoas que deveriam estar no passado, ou mesmo nem deveriam estar? Seria uma tentativa esperta de alguma força que eu costumo chamar de destino querendo resignificar alguma coisa?
E por que enjoa tanto e dá tanto medo e por que é tão custoso?
Retomo a minha infantilidade fresca da vida e me dá vontade de pegar uma borracha gigante e apagar os erros do passado. Aí vem minha psicóloga mirim e diz " mas se tu apagasse o passado será que tu teria aprendido o que tu aprendeu?"
pimba.
eu sei que serviu pra alguma coisa, e de fato não foram erros, foram momentos, foram acertos se eu considerar que o objetivo era aprender.
mas e se o objetivo não era só aprender, mas também se apaixonar? e se o ponto crucial foi tampado e agora eu tenha que convivver com a aprendizagem útil e a dor desnecessária?

e se?



terça-feira, 14 de dezembro de 2010

save yourself if you can

pois é né, porque o outro lá parecia um bambi inofensivo que depois se mostrou um lobo mal intencionado. já o de cá tá criando os laços, mas.. até que ponto a gente se deixa levar pela paranóia, pelo desejo de que algo aconteça? será que dá pra distorcer tanto essa dita realidade diante de um desejo, vertical, particular?
Já faz um tempo que eu me questiono sobre a veracidade dos acontecimentos. Uma vez me dei conta que não é só o álcool que me faz confundir sonho com realidade após uma festa. Nessa ocasião eu vi que meu estado de espírito é uma embriaguez na alma que lambuza tudo o que poderia ser discernido entre real e imaginário. Tá tudo suspenso e eu tenho medo de arriscar alguma coisa e depois me dar conta que o passo em falso foi dado em direção ao nada, ao vazio, àquilo que eu fantasiei e agora é esfarelado, sem corpo.

Esse assunto me enche o corpo de raiva e eu sinto que minha musculatura fica rígida só de pensar que Julio demonstra à Luiza que gosta dela, mas é só atenção exacerbada, carinho e muita implicância. Não passa disso.

Depois vejo a Claudia se iludindo com o avassalador e passageiro Marcelo, que tanto emitiu sinais e agora parece tão distante, até provocativo.

Olho pra dentro de mim e nada é diferente. Tem uma multiplicidade de Claudias, Saras, Fabis e Luizas à mostra de tudo, de todos. É uma ilusão misturada com masoquismo, um mix de desejo com uma pitada de carência. E o prato tá feito. Chef, pode servir.
O que fazer se der indigestão? Sabe-se lá o que fazer depois de perceber que as coisas podem não ser bem como elas pareciam ser. Se antes as meninas queriam uma atitude de seus parceiros, hoje talvez queiram mais cautela. Vai que tudo desagua corredeira abaixo? E se era tudo um teatro, um delírio? E se o espetáculo começa e a gente percebe que era um monólogo e não uma cena lotada? E se o personagem principal for você? E se, de fato, a cena estiver lotada, mas de diferentes vocês? Como falar com eles?
Como pedir que cada um reserve suas histórias para si? Cada diferente fantasia dentro mim pulsa como uma só... talvez, por tantas em uma só eu não consiga difereciar o que é paranóia e o que realmente tá acontecendo. São muitas em uma só, cada qual com sua história, todas concentradas em mim, que alimento caraminholas na cabeça.

domingo, 12 de dezembro de 2010

obj. 'a', 'b', 'c', ∞

dizem por aí que sonhar só é bom quando temos bons planejamentos para realizar o que queremos, assim evitaríamos a frustração. eu discordo.. alcançar o sonho, como diz carpinejar, não seria falta de ambição por não conseguirmos sonhos tão bons ao ponto de não serem alcançáveis?
se a Fabi tivesse me escutado naquela noite talvez tivesse grandes problemas pra levar à terapia agora.. ela não se rendeu à tentação de preencher, ilusoriamente, o vazio e parece que se orgulha disso, porque agora o que ela quer é tão mais emocionante quanto a trajetória que vem pela frente.
Nem envergonhada tampouco em terra firme Fabi soube que a partir daquela primeira conversa os papéis certamente seriam invertidos, como foi da primeira vez. Eles se olham, conversam, sorriem, riem, juntos. Todos juntos. Fabi sonha, e como sonha. Quero deixar um pouco mais compreensível ao leitor que Fabi costuma ser chamada de "típica mulher cheia de caraminholas na cabeça" por amigos, família, amores, desamores e até pelo porteiro do seu prédio, que já presenciou inúmeras despedidas de sujeitos diferentes que queriam é se escapar o mais rápido possível, deixando Fabi a suspirar.
O que ela quer, nem ela sabe. Aprendeu o que não quer mais, o que a desgasta e traz constantemente a sensação de vertigem. Fabi procura, acima de tudo, nunca se satisfazer, pois isto a faria desistir de buscar. Parece insano pensar que sempre buscamos algo que sabemos ser impossível de ser alcançado... mas é assim que o mundo roda e, teorias à parte, tudo sempre se resolve na busca incessante de algo que nos complete. Ilusão de fusão, igual àquela em que somos arrancados do ventre e posteriormente obrigados a disputar a mãe com um terceiro? Sabe-se lá o que se passa na cabeça de Fabi, mas que ela pretende não conseguir o que quer, isto é certo.
Pode ser que hoje ela invente uma nova filosofia de vida e se jogue nos braços de um conquistador qualquer, para que tão logo ela seja destroçada em suas fantasias e depois produza mais um de seus livros esplêndidos sobre a angústia constante de ser humano.
Pode ser. O que é, pra ela, sonhar então? É se deparar com o desejo insuficiente, com a renúncia da palavra cheia de significações, do recalque de algo insuportável aos olhos e coração, tão sensíveis depois de tantas tentativas?
O que é, pra ela, realizar o sonho? É aniquilar as expectativas? É concretizar o que tem de melhor na vida? É limitar todas as suas vontades? Ou, acima de tudo, é tornar finito o hall de possibilidades em que ela se vê para mudar?