domingo, 27 de fevereiro de 2011

ensaios frustrados de uma técnica enferrujada

é sempre o homem que menos se interessa que mais interessa. o que mais desafia, o que mais seduz. depois de ter tanto esforço pra entender o que se passava em sua cabeça quando alguém se aproximava, Melinda entendeu, na prática, a condenação de seus desejos. Ela pediu, no tempo de marasmo, que encontrasse alguém pra finalmente colocar em prática tudo o que achou que tivesse aprendido. Pois bem, desejo lançado é, incondicionalmente, desejo alcançado.
Hesse falou disso, sexta, no meu ouvido. Sussurou que eu devia reler Demian, pois meu inconsciente tava lá naquelas de não saber mais como se usar. Não atendi ao seu pedido, mas pude entender o que ele queria dizer: quando a gente quer muito uma coisa, ela acaba acontecendo porque nós a provocamos, mesmo "sem saber". É como direcionar as ações, afunilar os pensamentos, preservar em si o que prospera pra isso, o que pede por isso; o que quer isso?

Melinda atendeu. Era Ben, um rapaz tão doce. Ele em sua frente parecia uma réplica dos estudos de Locke e Pinker. Querida, põe pra fora tudo o que você tava trancando! Ela via nele a possibilidade de se entender, de se testar, de esquecer o que se foi. Tanta expectativa pra um homem, que mal sabia se queria sexo ou conversa. Projetou nele a mais bela obra e esperava que uma folha em branco a respondesse à altura. Sim, ele parecia ali, presente, mas não necessariamente só pra ela. Ele tinha lá suas questões e ela, tolinha, entregou aos poucos. Mantenha o mistério, Melinda. A vida não é lá tão frágil assim.. ele não vai morrer daqui um minuto, então espere um pouco mais pra que ele faça alguma coisa.

Pedir que uma mulher espere é admissível. Que ela não pense, é exigência além da conta. Somos todas problemáticas, Guilherme, não perca seu tempo dizendo aos quatro ventos que não quer mais se relacionar com alguém problemático. Você teria que se abandonar.
Todas somos carentes, paranóicas, agitadas e desastradas. Todas sabemos seduzir, fazer mistério e impressionar. O que muitas vezs frustra mulheres como Melinda são justamente essas particularidades de cada uma. Nem tudo isso tem tempo indeterminado e às vezes o desastre é maior que a delicadeza. É do que se queixam, o encanto acaba.. ou a pessoa se mostra?

Ben a trata bem, mas permanece fechado num casulo que Melinda tenta furar. Talvez por curiosidade, talvez por idealização de que dê certo, talvez por frustrar-se em não realizar um grande feito, talvez por querer ajudar. O que ela precisa saber é que o tempo é mano velho e bem mais experiente que ela. Ouça, Melinda, ouça aquela serenidade que te soprou um vento geladinho na face um tempo atrás. Ouça que é bom se jogar, mas lembra da cautela que a Lorena se orgulhou em ouvir. Você sabe o que quer, não perca o foco.

O que Hesse queria me dizer não devia ser que eu lutasse pra alcançar, mas que eu pensasse se vale mais a pena esperar que as coisas "simplesmente" aconteçam. Direcionar é melhor?
Se é outra entidade que vai se responsabilizar, eu entrego as cartas.. assim é tão melhor!
Já me disse uma vez que é mais fácil jogar a culpa no outro. Pois bem, ela é toda sua, faça o que quiser, eu vou ali viver e já volto.
esvaziou

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Correspondências. Até os títulos, até os títulos.

"é essa coisa de começo.. de começar alguma coisa. um estágio, que a gente já entra no meio do ritmo, na sessão, que eu tenho que buscar um assunto.. é meio complicado isso de começo pra mim eu acho."
"por que você acha que fica difícil começar?"
"sabe aquela coisa de lidar com o desconhecido? a gente lida, é natural, eu tô aprendendo isso e foi bom ter vivido tudo aquilo ano passado pra descobrir como eu encaro o meu desconhecido.. mas não é como se pra sempre eu conseguisse, naturalmente, começar alguma coisa sem uma pitada generosa de insegurança".

De começar o post nada seria mais oportuno. Hoje aconteceu muita coisa e nos últimos dias meus pensamentos, leituras e conversas tem sido guiados pro mesmo ramo de assuntos. Assusta, mas eu tô entendendo, eu sei que não é coincidência, eu sei que não é. Não pode ser.. é lógico e surreal demais pra ser um mero acaso.
E é justamente disso que eu falo, dessa forma de enxergar os acontecimentos: quem articula e puxa as cordas? será que tem alguém ali? quem será, quem será?

Dá pra pensar que quando a gente passa por alguma situação que nos cobra um tempo a mais de reflexão, os próximos eventos estejam envolvidos porque nós vemos dessa forma. É o viés daqui, dos meus olhos, pro mundo que me oferece uma série de possibilidades de interpretação.
Há dias que eu me queixo que o portal me diz a mesma coisa: 'todas as certezas são mutáveis, não se espante se as suas definições borrarem.'
Sempre assim, já desconfiava dessa repetição. Pois me surge a volta de algo que realmente estava me faltando, fosse a escrita, fosse a presença. Ao trazer isso em sessão, percebo que esse ânimo é muito derivado da minha própria forma de enxergar o mundo.

"Quando a gente tá seguro de si, olha pra frente de outro jeito.. vê as pessoas com outras caras e outros conteúdos pra aproveitar. É como se o flerte fosse mais divertido, é gostoso andar na rua e sentir que estão te olhando. E é tudo uma questão de saber se posicionar, de sentir. É algo indizível, Lorena, algo que a gente sente.. só transparece".

E assim foi. dá-lhe auto-estima recuperada depois de um turbilhão de absorsões tensas.

Voltando ao habitual rito que de alguma forma me alimenta o êxtase, percebemos que os relacionamentos partem, pra além da atração, de um egocentrismo declarado e insano, cá entre nós. Vemos ali no outro um mundo de possibilidades, várias vagas pra estacionar. Escolhemos aquelas que nos agradam e é aí que se forma a mais bonita e complexa projeção de todas - se é que existe uma variedade delas. Amamos no outro o que nos lembra, e isso tem explicações razoáveis, visto que as qualidades que nos atraem no outro são, já de alguma forma, escolhidas por nós. Os defeitos é que nos põe à prova; e pra mim, sempre foi mais verdadeiro apaixonar-se pelo peculiar.

Falamos também de tantas outras coisas leitor, que você não pode imaginar a minha felicidade em saber que tudo isso foi repetido hoje, de uma forma sensacional.

Quando eu voltei a ler o livro da libanesa, percebi no capítulo o risco de um trecho que muito me agradou. Nessa parte ela contava de coincidências.

"Quando conheci o Pensador, o fogo crepitou e me queimou durante um tempo, principalmente após sua partida. Teria sido esse o preço que eu tinha de pagar pela viagem de reconhecimento que vivi com ele? Teria sido esse o preço que tinha de pagar antes de voltar à vida? Antes que outros Pensadores viessem, para que eu pudesse continuar a ter minhas descobertas".

Foi isso aí, já nem sei mais como eu acrescento coisas, me dá um nervoso não conseguir entender porque as coisas estão acontecendo com tanta sincronia. Eu fico feliz, muito feliz, eufórica. Mas dá um medo. Do desconhecido talvez, né Lorena?

Com ela eu falei hoje desse limite que eu estabeleci nos últimos meses. O meu desenvolvimento pessoal, a minha singularidade, o meu território. Eu sei que o chamei de imbecil tempo atrás, mas não nego, ele é mesmo. O que acrescento é que a presença de alguém como ele, que pudesse escancarar as minhas fragilidades foi muito importante pra que esse processo de conhecimento e aceitação acontecesse.
"Mas o importante é pensar que não foi ele né? Podia ter sido qualquer outro, que como ele, abriu essas portas e te mostrou o que você não conseguia ou não queria ver. "

"E quando ele fez isso é óbvio que bateu a antipatia. Normal que a gente desgoste de quem nos esfrega um problema, mas eu entendo que eu sentiria isso por qualquer pessoa que estivesse no lugar dele.. é um treino porque com os próximos o meu comportamento e posicionamento mudaram".

E sabe o que é o melhor disso? É saber disso. É estar consciente de que deu pra mudar, deu pra entender. Disse pra ela que eu já não queria mais tanta pressa e promiscuidade assim, de mão beijada. Disse também que o fato agora não é ser difícil, é valorizar. É saber que eu mereço alguém que demonstre. E ela concordou, brilharam aqueles olhos tão cheios de paciência em tanto me ouvir.
Acho que existe um esquema bom pra isso. Antes de mostrar o esquema, falamos do filme da bailarina, que encara o "lago" negro. Por um ato falho eu pude falar dessas falhas que nos constituem. Já volto neste ponto*

O esquema, Lorena, são duas circunferências que tem um espaço em comum. A intersecção é o que, numa relação, se constrói de "nosso". Mas existem as partes individuais, que pra mim são essenciais e nunca podem ser aniquiladas, por maior que o amor seja. Pra saber como fazer o "nosso", eu preciso antes construir o meu "eu".

Os olhos dela brilhavam e ela balançava a cabeça demonstrando total concordância, orgulho até.

" E sabe de uma coisa? eu tô adorando esse meu espaço. Eu sei que já falei aqui daquele vazio que me incomoda, da solidão após um período de tanta fusão.. mas quem não sente? e não só por isso, mas eu sei que no momento em que eu cair, eu vou poder aprender. isso me basta"

Foi o que disse à ela. Eu gosto, eu quero, eu desejo. Jac, eu gosto, eu quero, eu desejo. Eu sinto que podemos construir um "nosso". Era isso que faltava antes, no ano passado. Não tinha a intersecção, estava eu na defensiva. Tanto tanto. Mas com Jac.. será que dá pra fazer um "nosso" no capricho pra viagem? Pago à vista! Eu gosto do nosso jeito, da nossa conversa, desejo aquele primeiro olhar.
"Eu quero conhecer aquele mundo, Lorena.. quero explorar esse desconhecido, quero realmente relacionar, envolver, criar".

Mas

Mas com cautela. Já me joguei, vi que sem gostar de alguém antes, o beijo já não vale, o sexo tampouco e a química é essencial. Tem que ter gostinho de conquista, de vitória, de roubo de olhares e intimidades que se fazem através do tempo. Só dele. Eu quero ir, Lorena. Eu vou, mas vou com o meu espaço da circunferência bem delimitado. Eu sou mais importante.

Quando ela falou do filme do cisne comigo, percebemos a importância dessa identidade. Título que me deu vontade de engolir em todas as livrarias, tão falado, tão falado. Não é coincidência. Eu sinto que não é.

Hoje encontrei uma amiga que, numa sintonia louca e que ainda me deixa atônita, me deu um conto a ler. Vou fazer o maior post da vida, mas hoje merece tudo.

"Por não estarem distraídos"
Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria e peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

Foi o que eu precisava ler. Ela me deu, ali, pra ler.

E aí falamos da minha relação com as palavras. Que eu também falei com Lorena mais cedo. Nomear, definir, limitar, perder. Nada mais. é isso, não se sente mais?

Depois de ter dito que era exatamente isso, abrimos a fotobiografia da Clarice e vimos algumas coisas. Fechou. Logo ela ficou inquieta e eu me dirigi até ela, sem que ela me chamasse. Senti que devia sentar ali. Ao que ela me diz:

"Vi, eu ia te chamar pra ver uma coisa do livro, mas nao lembrava a pagina.. aí abri o livro e foi nessa, era isso que eu ia te mostrar, foi na mesma pagina! Olha. Lê isso"

Aí ela senta ao meu lado e lemos juntas o que tantas vezes eu tirei trechos e não sabia a origem. É tudo o que em outra vida eu sussurei nos ouvidos da Clarice, tenho certeza disso.

"
A Tania Kaufmann


Berna, 6 janeiro 1948


Minha florzinha,

Recebi sua carta desse estranho Bucsky, datada de 30 de dezembro. Como fiquei contente, minha irmãzinha, com certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há muita coisa viva em mim. Mas não, minha querida ! Você está toda viva! Somente você tem levado uma vida irracional, uma vida que não parece com você. Tania, não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso, nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. Nem sei como lhe explicar, querida irmã, minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. Depois que uma pessoa perder o respeito de si mesma e o respeito de suas próprias necessidades, depois disso fica-se um pouco um trapo.Eu queria tanto, tanto estar junto de você e conversar, e contar experiências minhas e de outros. Você veria que há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Eu mesma não queria contar a você como estou agora, porque achei inútil. Pretendia apenas lhe contar o meu novo caráter, ou falta de caráter, um mês antes de irmos para o Brasil, para você estar prevenida. Mas espero de tal forma que no navio ou avião que nos levar de volta eu me transforme instantaneamente na antiga que eu era, que talvez nem fosse necessário contar.
Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi ? assim fiquei eu...., em que pese a dura comparação....Para me adatar (sic) ao que era inadatável (sic), para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus guilhões, cortei em mim a força que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante.Espero que o navio que nos leve de volta, só a idéia de ver você e de retomar um pouco minha vida, que não era maravilhosa mas era uma vida, eu me transformei inteiramente. Mariazinha, mulher do Milton, um dia desses encheu-se de diferente, não era? Ela disse que me achava ardente e vibrante, e que quando me encontrou agora e disse: ou esta calma excessiva é uma atitude ou então ela mudou tanto que parece quase irreconhecível. Uma outra pessoa disse que eu me movo com uma lasidão de mulher de cinqüenta anos. Tudo isso você não vai ver nem sentir, queira Deus.
Não haveria nem necessidade de lhe dizer, então....Mas não pude deixar de querer lhe mostrar o que pode acontecer com uma pessoa que fez pacto com todos, e que se esqueceu de que o nó vital de uma pessoa deve ser respeitado. Minha irmãzinha, ouça meu conselho, ouça meu pedido: respeite mesmo o que é ruim em você – respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você – pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita – não copie uma pessoa ideal, copie você mesma – é esse o único meio de viver. Eu tenho tanto medo de que aconteça com você o que aconteceu comigo, pois nós somos parecidas. Juro por Deus que se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia – será punida e irá para um inferno qualquer.
Se é que uma vida morna não será punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo aquilo que sua vida exige. Parece uma moral amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Espero em Deus que você acredite em mim. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber – pois somente saber de sua presença me transformaria e me daria vida e alegria. Isso seria uma lição para você. Ver o que pode suceder quando se pactuou com a comodidade de alma. Tenha coragem de se transformar, minha querida, de fazer o que você deseja – seja sair nos week-end, seja o que for. Me escreva sem a preocupação de falar coisas neutras – porque como poderíamos fazer bem uma a outra sem esse mínimo de sinceridade ?
Que o ano novo lhe traga todas as felicidades, minha querida. Receba um abraço de muita saudade, de enorme saudade de sua irmã

Clarice."

Disse a ela o quanto eu estava surpresa. Meus olhos só encheram de lágrimas. Ela falou a expressão que eu estava a ponto de falar e ali eu vi que a sintonia não é brincadeira
Ei, você, que puxa as cordinhas aí em cima, vem aqui me acalmar, me explicar que a vida é assim mesmo, que as coisas acontecem desse jeito meio desordenado e que eu posso continuar que o plano tá indo pro lugar certo.

Repeti tanto tudo o que tinha conversado com Lorena, com Jac e agora com ela, que me escutou, deu sua opinião, me falou do autor do livro que eu procurei hoje, que conversei com Jac ontem e que Lorena lia antes da sessão. Não é coincidência. Eles todos me dizendo um algo que não me desce, que me inquieta. O mesmo autor! Quatro pessoas, o mesmo autor!
Me arrepia e me dá esperanças saber que ele está nesse mesmo emaranhado de acontecimentos. Com ou sem insanidade, enquanto ele permanecer, escrevo.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

don't be like this

Blog - Login - Nova Postagem - espaço em branco.

todas as ideias parecem ter sumido e agora só vem a mensagem: fake fake fake. Santos meses intensivos que me fizeram perceber que o mais importante é fazer as coisas por si mesmo, e não esperar tanto a reação dos outros. Sim, os meses fizeram perceber.. porque é o tempo que corrige e conserta. Sabe-se lá quanto dura, ou se ele é justo conosco.
Depois de uma tempestade daquelas eu pude perceber o quão imporante é ter sabedoria. Isso não significa ser inteligente ou charlatão. Eu acredito que a sabedoria advém, em grande parte, da humildade e da sensibilidade. Pessoas sensíveis ao ponto de sentir o indizível e humildes o suficiente para admitir que possam estar erradas sem se ressentir, na minha opinião, são sábias.

E não é um estado de espírito. Pode ser que cá ou lá a gente esteja num estado retardado de esperteza e realmente faça muita merda por aí.. mas, no fundo, olhando pra dentro, o sentido existe. Eu sei que existe. E a belle também.

Leva uma vida luxuosa, com clientes que exigem pouco: sexo. Ela pede por isso porque não se esforça tanto, é algo que parte dela em direção ao outro naturalmente. Dá dinheiro, a auto estima quase sempre está elevada. Claro que existem os inconvenientes; e não se trata de dignidade, pois ela é muito bem resolvida com sua profissão. Acho que é algo muito bonito e grandioso pra ser entendido com as palavras.

Depois de tanto tempo, preciso voltar a dizer que odeio as palavras, mas mantenho um relacionamento fixo com elas. É um relacionamento aberto, na verdade. Elas sabem que não conseguem capturar tudo o que eu sinto e que nesse quesito, não me satisfazem. Em contraponto, também sabem que são as únicas que me ajudam a expressar algo que à distância só se resolve assim. Cara a cara com alguém, eu definitivamente dispensaria as palavras. O olhar bastaria.

Pois bem, o inconveniente da profissão de Belle deve ser o mesmo que acomete a todos que se prestem a pensar na existência como sábios. Não necessariamente o são, mas se já tentam o resultado gradualmente aparece. Ela percebe que é um trabalho simples, lógico. Pagamos, obtemos, nos satisfazemos. Outras pessoas, esposas de seus clientes por exemplo, discordariam dela. E é aí que o bicho pega, pois Belle acredita no amor. Gosta do melhor amigo, que é noivo e compreende a profissão da amiga, que também é ex namorada.

O que belle tenta me fazer entender é que tudo o que fazemos na vida tem um preço. Não necessariamente algo monetário, financeiro, concreto. Tem consequencias, por melhor dizer. As nossas ações aqui podem determinar um estilo de vida que sempre vai ter prós e contras, e a sabedoria disso tudo é saber disso. Redundancia, aí vou eu. É isso aí, é saber que existem bons e maus momentos e tentar lidar com eles. Aproveitar e valorizar os bons, mas não deixar os maus pra trás. Eles também precisam de um pódio, pois sem eles quem valorizaria um sorriso sincero?
Sábia, belle cria regras do seu mundo e estabelece prioridades que a atendam. E é aqui que eu queria chegar, caro leitor.

O que muitas vezes não sabemos é que grande parte dos relacionamentos acabam porque as pessoas criam expectativas demais com relação ao parceiro e comumente se deixam levar pelo que recebem. Parece contraditório, mas não é. Veja só, Márcia e Rômulo ficam há seis semanas. Ela quer um namoro sério, com compromisso, carinho e fidelidade. Ele, no fundo deseja isso, mas não sabe se está preparado para corresponder à tantas expectativas criadas por.. Márcia!
O medo, aqui, está em não preencher o formulário que ela criou antes mesmo de tentarem namorar e ir experimentando as sensações. O "pré" ocupa muito o ser humano e isso ferra as coisas. Não digo que nos livremos disso porque é impossível e em parte se preocupar até é útil, previne muita desgraça.

Mas ele não pode prender! sacou?

O próximo passo é que Márcia e Rômulo não se acertam muito porque Márcia percebeu que Rômulo está enrolando.. e por gostar muito mais dele do que dela própria, ela faz o que?
vou te dar uma chance de adivinhar que ela com certeza vai aceitar a situação e "ignorar" o fato de que não está satisfeita. Fará birra, doce, manha. Isso tudo por não conseguir se comunicar consigo mesma. é isso aí, a comunicação não falhou só com ele.

O que é mais importante pra Márcia agora é se sentir. se ouvir. se entender. Precisamos da vida inteira pra isso e olhe lá, mas o começo já é virtuoso. Não precisa chutar o Rômulo, mas adapar o que ele quer com o que ela quer. E se um dos dois estiver mal com isso, que sejam sábios o suficiente pra entender que não deu certo e que outra pessoa ali na esquina o espera. E não é a belle. é o destino.


você acredita nisso?

domingo, 13 de fevereiro de 2011

tempos insossos, paciência

as coisas mudaram de figura. só fico com uma coisinha na cabeça: até que ponto eu aguento ficar na transição? ou melhor, o que precisa acontecer pra que algo mais concreto apareça? quando eu sei que o que acontece não é fruto da minha imaginação? o que é a realidade? ela é única, absoluta, particular? como se faz isso tudo? Deus do céu, desaprendi?

o marasmo não chega a me incomodar.. só me inquieta saber que já foi diferente.
aceitar com sabedoria o que acontece e entender que as coisas acontecem quando e da forma que devem acontecer eu já aceitei, já entendi. só que.. e quando a gente QUER que aconteça de um jeito? vira birra contra o destino? será que não se tem autonomia pra decidir o próprio caminho?

já nem sei mais, tô entregando os pontos aos poucos, eu sinto. já não tem aquela graça toda.. que eu queria que tivesse ainda.

desabafo, acho que eu passei bastante tempo armazenando pensamentos, agora quero dar aquela esvaziada pra poder produzir alguma coisa útil com o que for regurgitado.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

dona flor?

já faz um tempo que eu nao escrevo. só penso, teço articulações, falo e assim me dei por satisfeita por um longo período. é bom dar um tempo de tudo pra que a saudade dê uma incomodada, e aí a gente volte com todo o gás e tenha a sensação gostosa de redescobrir algo tão banal.
há tempos que se tem como senso comum que a gente só dá valor quando perde, e no vocabulário psicanalítico isso se transforma em "o desejo advém da falta", o que de certa forma, é bom e ruim.
sofremos, perdemos, e o luto se instala. logo logo a gente supera, cada um tem seu tempo, mas um dia ele chega... a gente só precisa aceitar e levar a vida. considerando que a elaboração do luto tem tempo e duração particulares, não cabe estabelecer uma regra para sacar qualé que é a de sofrer tanto quando se perde algo.
realocar o desejo no início parece cruel, frio, desanimado. se o objeto antigo voltasse talvez houvesse a sua maior valorização, uma vez que em sua ausência, notamos sua significação no imaginário. e é aí que a coisa aumenta, no imaginário mesmo!
é a ilusão de que a coisa é maior do que realmente é. é sentir saudades de alguém que quando aparece se mostra tão ou menos importante do que achamos que fosse. é sentir vontade de comer um doce de morango e quando comemos, até apreciamos, mas logo ele perde a graça e queremos outra coisa. ou seja, elegemos outro objeto de desejo.
caros leitores, disso eu já sabia. mas será que só saber e entender, aplicar a tudo na vida basta?

canso eu de sentir saudades e me iludir com expecativas e pensamentos que são extremamente absurdos de tão disconectos da realidade.. e olha que eu sei disso, imagina se eu não soubesse.

não sei mais o que dizer.. senti sua falta, mas quando você fantasmagoricamente voltou, não era mais a mesma coisa. nem sei se eu queria que fosse a mesma coisa, mas ao menos queria que fosse melhor. e não tá sendo. então, vocês dois, caguem ou desocupem a moita. e me façam perceber isso.