sábado, 14 de janeiro de 2012

a sua expressão enquanto nos misturamos era de força para extrair algo, era de esforço para intensificar o momento que logo se tornaria um campo liso e silencioso. pressionei os dedos sobre a face, contraí o abdômen e soprei pelo nariz e percebi que o que saía de mim era o que eu não queria mais por dentro, era o que me entupia e o que me impedia de respirar, permitir o fluxo indeterminado do entra e sai de partículas invisíveis do meu corpo. o que eu queria era expelir o que me impedia de ser livre e dona das minhas portas.
senti minha expressão de esforço sufocar meu peito e logo as rugas fizeram-se presentes, encolhi os olhos e transferi toda a vontade de me livrar da culpa para o meu rosto, que se igualava ao seu.
o que queremos colocar pra fora talvez seja o que de mais verdadeiro e moral exista dentro de nós. a sede da liberdade nos tenta a expelir o que nos acorrenta a qualquer móvel fixo.
você no ápice intenso do fazer gozar-se e eu fazendo meu corpo de vítima do escarro da gripe. nós dois tentando expulsar o que de mais conservador há dentro de nós. seria um esforço tão necessário uma vez que ambos temos a necessidade do contato humano no que há de mais essencial nele? será tão necessário que nos coloquemos à mercê do acaso e nos encontremos sem pretensão? o que há, nessa substância que sai de nós, de tão revelador que não possa nos mostrar quem somos juntos?