sexta-feira, 9 de julho de 2010

Virginiana

Maçãs na geladeira
Guardam teu desejo
O tempo é cinza
Não espero mais teu
Beijo

No muro
Um gato escuro
De olhar vagabundo
Observa tua calma

Mas nem ele sabe
Em que absurdo
Ocultas tua alma

(Elionaldo Varela)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

resgatando o conforto

Me contradigo; e acho que isto pode ser sério. Mudo de opinião com muita frequencia, não sei sustentar uma posição antes que ela me cause desconforto. Disse que nao ia correr, mas agora preciso fugir. Não suporto ficar, não suporto imaginar como vai ser.
O conhecimento que adquiri com o estudo da Psicologia me faz crer que o mais pertinente para diminuir o sofrimento psíquico é falar sobre o que incomoda, é suportar o desconforto, é desafiá-lo e combatê-lo.
Me vejo agora na sala com uma criaturinha que depende de mim, precisa de mim. Isso me desestabiliza. Não poder mudar de ideia, não poder fazer o que der vontade, voltar a ser dependente de alguém na medida em que esse alguém depende de mim parece ser uma ideia sufocante. Me dá náusea, tontura, crise de desespero.
A família dá uma risadinha disso e apóia a decisão de reverter as coisas e cortar o mal pelo tronco, até porque eles não entenderiam que a raíz é aquilo que a Psicanálise chama de recalcado.
Por outro lado, realmente permanecer com um bichinho tão lindo e pulguento agora não seria a melhor das ideias. Sair de casa, viajar e simplesmente nao querer sair da cama por um dia não seriam mais os meus melhores programas.
Ela é linda, mas o que ela supre aqui, na minha vida, não é a falta de um cachorro.
Ou até seja, se considerarmos a metáfora. O que ela supre não condiz com a presença de um amigo canino que faça companhia e bagunça. E XIXI NO TAPETE NOVO!
O que ela vem a tampar é o buraco da carência que fora desocupado sempre por eventuais casos sem permanência, que fora desocupado pela família que mora longe, que fora desocupado - às vezes desconfio - por mim mesma. Se me abandonei, ainda não sei.
Mas algo me leva a crer que se estou reagindo e me protegendo, por mais burro e lógico que isso possa parecer, ainda estou aqui, existindo dentro de mim.

Resta trabalhar.. e isso já sabemos que tenho feito bem;melhor do que amar, eu suponho.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

não vou correr. vou ficar.

O mundo, diz Bollnow, está lá fora, em toda sua vastidão, com seus pontos cardeais e regiões, com seus caminhos e estradas. Nesse sentido, como vias comunicantes, a porta representaria a liberdade para se abrir e se fechar com segurança, e as janelas, possibilitando a entrada de luz, seriam como olhos abertos para o exterior. A cama, em contrapartida, representaria o centro de máxima proteção, no qual o homem encontra calor e está em sua intimidade. Antes dela, a mesa teria sido o centro comum de uma família, reunida em torno das refeições. A atomização das relações familiares é o que levaria à busca de um centro correspondente para cada indivíduo, em que se encontrassem vinculados todos os caminhos interiores e exteriores à casa. A cama é, para o autor, esse centro, em que começam e terminam os dias de uma vida inteira. O dormir, a que ela se destina, é um abandono, um deixar-se cair em um espaço sem determinação. Ao dormir e ao despertar, perdemos e voltamos a ganhar consciência do espaço vivencial.