terça-feira, 4 de janeiro de 2011

cause i need more time just to make things right

eu não escolhi, eu juro, dessa vez eu fui pega de surpresa. e como chegar à esta conslusão é gostoso.. saber que alguma força agiu e conseguiu me fisgar de um jeito bacana, sem o meu controle. que bom isso! não é uma paixão doentia, tampouco uma indiferença.. posso dizer que se assemelha a ficar de olho, atenta, disponível.
Depois que Carlos partiu, Soraya chegou ao seguinte trevo: ou eu continuo fazendo do jeito que eu fiz e permaneço contendo lágrimas que deveriam sair ou resolvo mudar postura e daí, como diz platão, aprender. Ela soube desde o início que não seria algo duradouro, se colocou naquela poltrona da nave que parte para o infinito, sem nada definido. Foi e não se arrependeu, mas quando acabou a gasolina, Carlos surgiu com outra nave que estava acoplada sem que ela percebesse e se mandou, deixando ela no meio do espaço, sem formas rápidas de acabar com a ideia de nada que surgia e a sufocava. Era uma asfixia garantida: ela certamente encararia de frente o fantasma do buraco, do que ali faltou.
Foi pra terapia e descobriu muito desse tal buraco, esse que a gente tenta completar com compulsões, sejam elas quais forem.
A partir daí passou a valorizar a sua companhia. Deixou Carlos como referência e lembrará dele com ternura, mas não pode escapar de se sentir uma otária frente a algumas situações passadas.
Normal, se o passado fosse sempre agradável e digno de aprendizado, a gente não veria graça em tentar algo novo. O bom é sentir vergonha quando lembramos de um tombo, de nos arrependermos, de mantermos uma angústia pelo que foi ou não foi feito, pois assim permanece viva a ideia de que precisamos nos machucar um pouco pra não fazermos de novo. E olha que isso não é garantia.

Quando Soraya se deu por conta, já haviam outros figurões na parada.. ela sentiu que não queria se envolver com nenhum e disse 'não'. Simpático, porém certeiro 'não'. Ela sabia que não queria, só isso. O motivo, nem interessou. O importante é que ela soube se escutar.. e isso, caros leitores, é raro. Alguém que tenha sensibilidade e paciência suficientes para se escutar e fazer o que realmente precisa ser feito não é tarefa bonita. É árdua, porque nem sempre conseguimos descifrar nossos desejos, quem dirá realizá-los do nosso jeito. Soraya virou uma página, mas deixou marcada para poder voltar quando precisasse. E como precisou. Era um degrau de sua vida, se apagá-lo parece uma ideia confortadora, também condena a tropeçar numa nova subida.

Ela pôde dizer 'não' naquela noite e acabou descobrindo um universo de 'sim' em outra pessoa que nem era tão apariça assim. Não dá pra garantir que foi por acaso.. até porque uma atração já havia sido traçada e é óbvio que aquele primeiro olhar com um sorriso maldoso e chapado no canto da boca significam algo. Ela conseguiu ter paciência pra se descobrir, descobrir o outro, descobrir o 'entre'.

Está nessa e as vezes tem vontade de pular fora, mas aí ela se olha e pergunta: pular fora DO QUE? não estou nem dentro, são só pensamentos, hipóteses, riscos. Nada que fuja da eventual vida que vivemos todos os dias. Parece que espera algo grandioso acontecer quando na verdade já está acontecendo. O filme "poder além da vida" fala tanto disso. soc, brigada!

Soraya conversa com Paula e não consegue dizer como fazer pra se desprender.. é algo que faz parte da história dela, Paula não entenderia só por palavras. O negócio é ir e tentar, experimentar, pular, se jogar. É um risco que vale à pena. Cada segundo dos três meses, Carlos, foi uma página de aprendizado que hoje percebo ser indizível.

Gabito nunes confirmou o que Marcel rufo me disse outro dia: a gente só esquece um amor quando se vê noutro, meio que numa comparação do objeto ao qual destinamos o nosso afeto. Substituímos as pessoas que de alguma forma saem de cena. Podem continuar na peça em lembranças, podem continuar atrás das cortinas e fazer parte do elenco, mas a apresentação ao público já acabou, então há de se criar uma forma de lidar com o que não está mais ali. Substituímos os pais quando não estamos mais perto deles, por mais que nos falemos diariamente. Substituímos o melhor amigo quando nos distanciamos; por outro amigo, por comida, por namorada, por professor, por qualquer outra forma de investimento libidinal que tenha como destino um objeto. O objeto pouco importa, ele varia. O que realmente pode ser aproveitado é o que transita entre um e outro: o sentimento. Esse continua o mesmo e pode ser investido em qualquer um que se mostre como depositário.

O bom de estudar e se interessar por isso é que nós temos consciência de que esta substituição é necessária e que eventualmente ao fim de uma relação está dentro do "saudável" comer mais ou menos, correr mais ou menos, dormir mais ou menos, fazer algo excessivamente ou parar de fazer pelo simples fato de que estamos readaptando nossas vidas a outro molde de funcionamento. Pelo simples fato de que estamos preocurando compensar a angústia da separação com outra coisa que muitas vezes escapa à compreensão. O bom de estudar e se interessar por isso é que quando descobrimos o alvo da compulsão, não nos assusta mais. O que está encoberto é o que sentimos, e não por quem sentimos.

Sabendo o que sentimos e repetindo a pergunta do post anterior, o que fazer com isso?

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