domingo, 27 de setembro de 2009

I've been long.. a long way from here.

Os últimos acontecimentos andaram surrupiando a minha leveza vital de uma maneira cruel. Quando eu tinha grandes preocupações e compromissos à curto prazo, sabia que eu precisava organizar o meu tempo e fazer tudo dando o máximo de mim. Parar algo concreto pela metade pra pensar em algo que angustia e se mostra tão abstrato ao ponto de ser insustentável era loucura - e entenda este momento como pleno de sanidade.
Acontece que quando a gente se desocupa e se propõe a "pegar pesado" pra "ficar leve", as coisas mudam de figura. Radicalmente.

Quando entramos em um quarto escuro, não enxergamos nada. Se houver uma fresta de luz, conseguimos nos localizar, mas os objetos estão completamente invisíveis aos nossos olhos. Eles estão ali, mas se camuflam e nos emprestam um pouco de paz.
À medida que o tempo passa, neste quarto escuro os objetos voltam de sua condição flutuante e se mostram novamente, já denunciando um intuito de nos equilibrar e localizar.
Há quem ache que isso é bom e ver as coisas no claro é melhor que viver na incerteza.
Eu discordo... tem muita coisa que não precisa vir à tona. Como pensadora e em constante contato com a psicologia e todo o seu kit de viagem para outras galáxias peculiares eu devo defender que cutucar a ferida faz ela ela cicatrizar mais cedo. E isso contradiz a minha opção (se isso fosse opção...) de preferir a camuflagem. Porém, existem certos assuntos e significações que são violentos demais, e muitas vezes nós não estamos preparados para lidar.
Minutinhos estão passando e o quarto já está estruturado com o básico: uma cama, uma janela, cômoda, armário...todos os pedaços, objetos separados por suas dimensões e cada um desempenhando uma função. O sentimento de unidade que o escuro me dava agora se esvai.

Eu me sinto segura agora, fechada no escuro, coisa que à noite não acontece. E só é assim porque eu sei quem tem alguém lá fora que está acordado e que de alguma forma, me cuida. Eu sei que tem luz lá fora e que se eu quiser fugir do medo, é só abrir a janela. Eu sei, eu tenho segurança e agora sim, uma opção.
No claro, as coisas reais te dão tapas para acordar e fixam seus pés no chão só pra você sentir que não pode sair dali.
Não me impressiona que alguns casais gostem de fazer amor às escuras... se passamos grande parte dos relacionamentos calcados no que nos parece real, por que deixar um momento de tanta imensidão ser regido por toda a moralidade e visível aos nossos olhos e mentes julgadores?
Apagar a luz é deixar-se levar pelo seu lado mais livre e espontâneo. Apagar a luz é uma metáfora que nos tenta dia após dia e nos serve de escape.
Não há como não pensar que no momento de maior espontaneidade os atos intrínsecos apareçam e nos denunciem, mas a grande diferença entre este estado de vigília ( e já explico o porquê de sentir-se em uma vigília ) e o estado de estar, de ser, é que no primeiro você se permite, o meio te permite. Nesse estado, você pode tudo. No escuro, você pode fazer caretas sem repercussão. No claro, sempre há consequências mais duras.

É um estado de vigília porque mesmo com toda a liberdade e abstração permitidas ainda existe uma brecha de censura ou realidade, como quiserem, que nos localiza, que nos orienta. Não perdemos completamente os sentidos quando apagamos as luzes. Sabemos como andar, quem somos e aonde estamos. O fim é o mesmo, o que muda são os meios que nos colocamos. Em que estrada eu sigo? Eu sei aonde vou parar, eu sei qual é o destino da viagem, isto eu não posso mudar. Mas a maneira com que eu vou me deslocar e me desenvolver até lá cabe a mim escolher. C'est la vie?

Se acender a luz facilita cutucar a ferida e a ajuda cicatrizar, então temos aqui uma solução parcial de todos os problemas. Temos mesmo?
Solução ou método paliativo, o que importa é o que te faz bem. E por ora, estar no escuro parece "mais tranquilo".

'If it makes you happy, then why the hell are you so sad?'

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