quinta-feira, 1 de outubro de 2009

"e agora, o que eu faço com tudo isso que eu sei?"

Caros colegas, antes de iniciarmos a reflexão de hoje, digo que o dia está bom e que o episódio anterior foi puro desabafo digno de uma tentativa de visibilidade. Para confirmar e reforçar o que tentei esboçar, recorto um trecho do texto 'a libido do psicanalista', de Daniel Kupermann. Ao esboçar a introdução ao que se diz Diário Clínico, o autor traz a perspectiva de Sándor Ferenczi, psicanalista húngaro que, segundo a Wikipédia, foi um dos colaboradores mais íntimos de Freud, então, pshiuuu, ele merece um tiquinho de respeito. Sobre o psicanalista, há a questão da distância que se tem, na prática da análise, do analisando. Traduzindo em suas próprias palavras: "(...) a insensibilidade do analista entendida como uma forma de hipocrisia, uma recusa, por parte do psicanalista, dos próprios afetos de amor e, sobretudo, de ódio, suscitados nas análises. Convém notar que a noção de sensibilidade, oriunda do campo da estética, é empregada por Ferenczi no seu sentido rigoroso como a capacidade de afetar e de ser afetado pelo outro, e não no sentido coloquial, que poderia nos remeter às idéias de plácida benevolência ou de compreensão ilimitada e passiva etc., que foram apressadamente associadas a sua figura. A insensibilidade ou a hipocrisia é, assim, a principal figura do álibi passível de ser empregado pelos analistas para escapar das duras conseqüências do ato analítico."

Firulas à parte, posso começar o que desejo hoje.
Meio à um almoço gastronomicamente aceitável para quem paga tão pouco dinheiro, escutei as seguintes palavras: 'a ignorância tem um porquê'.
Pensei.. pensei.. pensei e constatei que não sou ignorante quanto à isso. E que pena, às vezes gostaria de ser. Pra quem sabe, o cuidado é mais do que necessário, uma vez que se tem instrumentos nas mãos para driblar os obstáculos, bem como para se enforcar.
Repensando alguns anos atrás, eu andava na rua e meu universo era puramente local, focal. Aqui e agora. No máximo, pensava nos próximos minutos.
Hoje, penso no ontem, no agora como reprodução do ontem e no amanhã como dependente (ou não) do agora. À isso acrescentamos uma xícara de psicologia social com suas bagagens subjetivadoras, duas colheres de desenvolvimento humano e as incógnitas filosóficas da tábula rasa e do inatismo, alternando pinceladas da teoria construtivista. Quando a mistura borbulhar, leve ao fogo e acrescente uma pitada de psicanálise, pra mudar todo o gosto da gororoba. Uma pitada, eu ressalto, pois este tempero é forte e mesmo que se queira uma receita autêntica, é necessário dosar o quanto quer se queimar.
Depois de pronto, recalque, ops, digo, congele e sirva em muitas e intermináveis porções dos nossos atos falhos.

Imagina se colocássemos no liquidificador! Pois é bem assim que uma mente funciona. O que já tive, o que tenho e o que posso ter. Steven Pinker à parte, mas do que é feito o pensamento eu já descobri há tempos.. o problema é saber o que fazer com tudo isso que sei.

Castração, perversão, mediação simbólica, representações sociais, ética, niilismo, impostura, medos básicos, melancolia e instituição. Eu dava tudo isso aí e mais um kit de Obras Completas por um minuto de 'limpeza mental'. Sem Psicologia, sem ciência, sem essas coisas todas que me tiram da alienação.
Aham, é, peço ser ignorante por um minuto e respirar um pouco. Como não estamos no setting de Crônicas de Nárnia nem de Click, me conformo com 'a libido do psicanalista', ou 'álibi do psicanalista' e completo meu diário de campo.

é, senhores.. o que seria de nossos rabiscos vividos se não tivéssemos tantas estruturas pensantes?
cansei, durmo porque quando estou no inconsciente: [mode on], não sou responsável pelo que acontece. ufa, e eu achando que o impasse era em saber o que se faz com a tarefa do grupo quando se entende porque o medo aparece sempre e a procrastinação toma conta da galera.

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