sexta-feira, 16 de outubro de 2009

We were fated to pretend

"(...)não existe demanda espontânea e natural, nem universal, nem eterna, mas pelo contrário, ela é produzida pela oferta". Pg 95.

Eu tenho pensado em escrever sobre isto há alguns dias, mas tenho também pensado em fazer outras diversas coisas que, juntas, não me deixam fazer nada. É tanto compromisso que eu me sufoco e me inutilizo. E digo que eu faço isto porque eu me ponho em uma posição de manter a relação com tudo e todos que, reciprocamente, assumem um compromisso. Fica prolixo demais? É apenas a tentativa de mostrar que se algo nos incomoda, parte da culpa é nossa, por deixar isto nos incomodar e mais: por ter criado isto. Não vou dizer que o aquecimento global foi criado só por mim, porque ele me incomoda, mas afirmo que parte da culpa é minha. A crise da economia também foi, em parte, culpa minha. Indiretamente, tudo o que acontece no Universo foi culpa minha. E haja senso autocrítico para entender isto e não se deprimir com mais um urso polar que morre por não ter o que comer.
Voltando ao que reconheço como tarefa (e não excluindo a possibilidade de que falar sobre as incomodações faça parte da tarefa), penso constantemente na MINHA demanda. Sei lá se o Lacan ou se o Guatarri criaram a demanda como sua ou minha, mas o fato é que eu estou falando disso agora com propriedade, então.. sim, é a minha demanda que me faz pensar agora.
Imaginem esta cena: um rapaz de estatura mediana, com os cabelos ondulados e claros e razoavelmente curtos, na atura das orelhas, vestido com um jeans e um moletom olha para o nada. Uns colegas chegam perto dele e um sorriso em sua face agora nós percebemos. É um sorriso leve, daqueles bem bobões, na categoria dos apaixonados até os chapados. Começam uma conversa e logo o rapaz se perde meio a gargalhadas.
Agora vejamos outra cena: um outro rapaz, alto e magro, de cabelos pretos e em pé em frente à um aparelho de som que toca, intencionalmente, Wraith Pined to the Mist. Ele se balança um pouco, bate um pé no chão e segura uma cerveja geladérrima ora com a ponta dos dedos da mão direita, ora repassa para a outra. Olha atentamente em volta as pessoas que estão curtindo o mesmo som e de repente avista uma colega que não vê há algumas horas. Em direção à ela, ele se mostra intencionado a conversar.

Não é querendo fazer uma análise de duas possibilidades -que são mais realidades, mas isto fica pra outra hora-, mas já fazendo isto, dá pra notar que o primeiro rapaz, que chamo de Paulo, estava mais na dele, mais 'neutro', e foi encontrado para que, em sua tábula rasa as pessoas depositassem seus blábláblá's. Não desconsidero, de forma alguma, que Paulo pensasse em algo importante antes de ser abordado, mas vamos visualizar este momento da chegada de seus colegas como o momento da ação. Antes da ação, tínhamos a inércia, o vazio, uma tábula rasa. Generalizo, claro, para tornar mais clara a minha análise.

No segundo caso, Frederico vai em direção à Roberta para travarem uma conversa e nele já visualizamos a intenção, a ação e a demanda. BINGO! Aqui eu vejo o oposto daquela tábula rasa que agora enrola uma seda do outro lado do pátio. Percebam, Frederico demandou e Paulo não.

Agora que cheguei aonde precisava, torno a vestir a capa de protagonista e penso que na real mesmo eu não sei é de nada. Eu só sinto. Aliás, eu nem sei se posso dizer que sinto.. quem sou eu pra entender toda a abstração de um sorriso, por exemplo? Sem mais firulas, eu abSINTO, pode ser?
E aqui trago mais uma metáfora psicanalíticalcoólica para que enxerguemos bem a minha capacidade (e a sua também, não adianta colocar o corpo fora) de dominar as coisas. Eu demando, como eu dizia, assim como Frederico. Não sei ser tábula rasa, não sei não pensar em nada, não sei como enxergar alguém e não ir em sua direção. Belchior(e aqui parece que eu mudo de saco pra mala, mas no fim vemos que todos falam da mesma coisa) bem disse: "O meu lugar é onde você quer que ele seja; não quero o que a cabeça pensa, eu quero o que a alma deseja; arco-íris, anjo rebelde, eu quero o corpo; tenho pressa de viver".

Ok, já admito que demando e o entendimento por trás disso é muito extenso, não tenho substrato suficiente ainda.. porém, pensando no primeiro verso, em que a demanda é gerada pela oferta, me pergunto: e de quem parte a oferta? é tão determinante assim: vem de alguém para alguém pretendendo algo? E o acaso, existe?
aaaaaaaah, raios. uma fatia de queijo minas e um copo de leite me tiraram dos trilhos, recomeço em outra primavera, colega.

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