domingo, 7 de março de 2010

de prata ou bijuteria?

Te vi hoje, e você foi a minha chuva. Foi bom te sentir em mim, disse Claudia, já embriagada do líquido que lhe ofereceram. Mal ela sabia que nunca deveria aceitar bebidas de estranhos; considerando que não conhecemos nem à nós mesmos, não deveria aceitar nada de ninguém. Mas... o ser humano é curioso.
Voltei, depois de um dia ocioso, esperando notícias, voltei, pro casulo que agora me protege. Voltei esperando que houvesse uma surpresa, fosse ela agradável ou não, a única coisa em que não tomo gosto em me apoiar é nessa incerteza que dá ânsias e vicia tanto. Se as situações fossem definitivas e claras, talvez o mistério não encantasse.
Pois bem, Claudia voltava para casa recebendo com carinho os pingos que a molhavam cada vez mais, num cenário de chuva e sol, que a entorpecia.
Pensou que talvez estes mesmos pingos que a faziam sentir-se mais jovem, fresca, alegre, poderiam ser os pingos que Juliot depositara desde o dia em que se cruzaram. Entendendo isto com conotação sexual ou não, ela não ligava: queria apenas refestelar-se em sua mais nova descoberta.
Disse, em uma noite com a lua quadrada:
"Você é a minha chuva; vem à mim delicadamente, mas sem pedir, como o que não esperei, mas desejei. Se instala em minha pele e vai penetrando em meu ser, até que tome conta de mim. Há más línguas que dizem que os acometidos pela sociopatia, em seus 'relacionamentos pessoais', armam o circo e depois vão embora, como se fossem vítimas. Você me provoca desconfianças que o colocam nesta posição. Estaria você plantando uma semente que não quer colher?
Devo sim estar desconfiada, isto já aconteceu antes e por mais que digas que não és igual aos outros, sinto medo."

A chuva ia caindo e ela deleitava-se num prazer singelo, pueril, mas nunca superficial. Claudia pensava que a chuva é a melhor das companheiras, pois não precisa aparecer todos os dias para que a apreciemos. Não nos viciamos nela, então podemos curtir quando chega sem pedir.
"Você foi minha chuva. Veio sem pedir e agora está grudado"
O que Juliot não entendia era que isto era um milagre, que deveria ser apreciado até as últimas consequencias do primeiro ato, da primeira palavra, do primeiro olhar.
Saudades eles sentem das épocas em que o compromisso era ignorado. Hoje vemos mais um típico caso de separações e desencantos vagarosos, em que um desabrocha antes do outro.

Ele foi sua chuva e ela gostou, até que ele se apresentasse apenas enquanto chuva. Pois a chuva é passageira e por mais que permaneça na lembrança eternamente como o momento de redenção das almas, não é necessidade de sobrevivência como o sol. Ele, portanto, era a sua chuva. Claudia pedia incessantemente para que Juliot não se tornasse o seu sol, pois a chuva refresca, prova a vida".

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