sexta-feira, 5 de março de 2010

Entorpecentes esperados

Sabina foi pega de surpresa. Caiu na armadilha e agora já sabe que para sair, terá de usar boas molas pra alcançar a superfície do poço do amor em que se meteu. Ela sabia, já havia comentado anteriormente que sempre desconfiou que se houvesse insistência, ela cederia. Apesar de sua negação, primeiramente resistente, Sabina revelou-se permeável, pois bem, agora está perdida na mata escura e penetrante, que a engoliu bruscamente.
Quando dizemos, caros colegas, que as melhores surpresas da vida acontecem justamente enquanto surpresas, não falamos da boca pra fora. Sabemos que o inesperado seduz, nos pega pelo pescoço e nos faz gemer até que gritemos que concordamos que o que é proibido, inaceitável, impossível, é o que queremos.
Ô Lacan, brigada por mais uma vez descrever o objeto "a" enquanto central na minha vida, acho que eu estudo tanto Psicanálise pra depois aplicá-la em mim.
Quando Sabina abriu os olhos, sentiu-se revitalizada, sentiu-se confortável, sentiu-se livre. Há um aspecto intrigante meio à liberdade. Sabina sempre a desejou, nunca tomou gosto por prisão, compromisso e tanta estabilidade em sua vida amorosa. Porém, dadas as circunstâncias do destino, Sabina está livre, mas sente-se solta demais, desamparada demais, livre demais. Seria mais uma de suas armadilhas em que cai sempre ou seria sua mudança, tão esperada e temida?
Sabina está se tornando fiel, comprometida, estável. Isto a deixa instável, medrosa, temerosa.
Não sabendo como agir, torna-se agressiva, como um animal que fora maltratado e quando recebe carinho, afugenta-se. Tanto conversou com seu colega de filosofadas, a agressão nada mais é do que um mecanismo de defesa. Os brabinhos são carentes e não conseguem (não por incapacidade, mas por ignorância. Entendam o termo corretamente, como a ausência do saber, ausência da experiência) expressar quando amam. Estes, os raivosos, precisam é de carinho, amor e segurança.
Pois é, Sabina está recebendo isto e teme tanto perder este porto seguro que se esvai em conversas intermináveis madrugada adentro, desejando a presença de tal ausência.
Mas agora, acabo de notar que Sabina sente é vontade de ter mais carinho! É a evidência perfeita para que confirmemos o quanto ela é uma pessoa presa à terra firme. Sabina está conosco, apenas deixa por vezes sua face perversa tomar conta de si. E agora, colegas? Como tratamos deste caso?
Ela pretende ser sincera, mas não até as últimas consequências, pois isto a traria novamente ao fundo do poço do amor escuro e sombrio.
Será que, por revelar sua alternância obscura Sabina não gostaria de experimentar novamente tal situação?
Esperemos para saber, afinal de contas, não há de se esperar que ela mude tão bruscamente... se mudar, há a tênue esperança de que volte a ser como sempre foi.

Já dizia Nietzsche, pressupondo o que sinto agora: "O medo é o pai da moralidade".
Sabina, seja imoral.

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