quarta-feira, 3 de março de 2010

futricaram os baús da Babilônia

Meio à tanta psicologia borbulhante dentro de uma sala minúscula, percebo o quanto tenho que fazer nesta vida. São casos de abandono, depressão, cognição, euforia e entre outras preocupações, a minha centrava-se em ser uma profissional eficaz. Depois de tanto tempo (que às vezes sinto pouco) de devaneios teóricos, preocupações de leitura e desesperos acadêmicos, me vejo diante de seres humanos que precisam de ajuda. O que eu faço?
Olhinhos esbugalhados que me fitam durante toda a primeira entrevista, sorrisos disfarçados, que mais revelam a profunda e aniquilante inquietação da alma daqueles pobres infelizes que são como eu (fora do consultório) : humanos, demasiadamente humanos.

Me forço a prestar atenção em cada movimento, palavra, gracejo. Tudo hoje é importante. Tudo hoje é necessário. Tudo, menos o essencial. Eu acredito que o maior segredo da terapia encontra-se nos primeiros instantes desta. A apresentação de um paciente, sua auto avaliação, seu próprio diagnóstico, sua queixa. Palavrinha tão utilizada.. me fez pensar.
Por que nos queixamos? Lendo Freud eu entendo que há algo de prazeroso no desprazer.
Sendo mais clara..
Gostamos de sofrer; gostamos de passar por situações dolorosas para dizermos, pensarmos e sentirmos que PASSAMOS por elas.
Tio Sig dizia que há um ápice de tensão libidinal em que o indivíduo desloca a sua energia justamente pro que há de mais sutil na existência humana: o inanimado. O processo se dá como em uma montanha russa: de início estamos no plano, andamos devagar e a expectativa é o sentimento que reina. Quando estamos no alto, há algo inexplicável por parte de quem sente, uma excitação incomensurável que simplesmente toma conta de nós. A primeira reação, a princípio, seria acabar com a tensão (deixando-se cair e deslizar pela montanha russa). Ao cair, vem o alívio; porém, a sensação de poder e exaltação que sentiu-se lá em cima é lembrada com furor por uns, com pavor por outros.
Resumidamente Freud nos diz que nesse ponto alto da emoção é que "tomamos a poção mágica" do vício. A aventura instiga, o impossível atrai. Quando o temos, queremos mais é desfazer tudo o que fora feito para dirigirmos à outro objeto a nossa pulsão original.

Não só por isso admiro o título de tal obra, mas dizer que o que há Além do Princípio do Prazer é este gozo descrito por Lacan no inesperado é dizer-me que posso viver sem culpas, pois o que gosto é da renúncia mesmo.

Aprendizagem, silêncio, sono, medo, expectativas, atrevimento, ambição, angústia, euforia, apego e cansaço são as palavras do dia, já que o estágio está apenas começando.

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