domingo, 27 de fevereiro de 2011

ensaios frustrados de uma técnica enferrujada

é sempre o homem que menos se interessa que mais interessa. o que mais desafia, o que mais seduz. depois de ter tanto esforço pra entender o que se passava em sua cabeça quando alguém se aproximava, Melinda entendeu, na prática, a condenação de seus desejos. Ela pediu, no tempo de marasmo, que encontrasse alguém pra finalmente colocar em prática tudo o que achou que tivesse aprendido. Pois bem, desejo lançado é, incondicionalmente, desejo alcançado.
Hesse falou disso, sexta, no meu ouvido. Sussurou que eu devia reler Demian, pois meu inconsciente tava lá naquelas de não saber mais como se usar. Não atendi ao seu pedido, mas pude entender o que ele queria dizer: quando a gente quer muito uma coisa, ela acaba acontecendo porque nós a provocamos, mesmo "sem saber". É como direcionar as ações, afunilar os pensamentos, preservar em si o que prospera pra isso, o que pede por isso; o que quer isso?

Melinda atendeu. Era Ben, um rapaz tão doce. Ele em sua frente parecia uma réplica dos estudos de Locke e Pinker. Querida, põe pra fora tudo o que você tava trancando! Ela via nele a possibilidade de se entender, de se testar, de esquecer o que se foi. Tanta expectativa pra um homem, que mal sabia se queria sexo ou conversa. Projetou nele a mais bela obra e esperava que uma folha em branco a respondesse à altura. Sim, ele parecia ali, presente, mas não necessariamente só pra ela. Ele tinha lá suas questões e ela, tolinha, entregou aos poucos. Mantenha o mistério, Melinda. A vida não é lá tão frágil assim.. ele não vai morrer daqui um minuto, então espere um pouco mais pra que ele faça alguma coisa.

Pedir que uma mulher espere é admissível. Que ela não pense, é exigência além da conta. Somos todas problemáticas, Guilherme, não perca seu tempo dizendo aos quatro ventos que não quer mais se relacionar com alguém problemático. Você teria que se abandonar.
Todas somos carentes, paranóicas, agitadas e desastradas. Todas sabemos seduzir, fazer mistério e impressionar. O que muitas vezs frustra mulheres como Melinda são justamente essas particularidades de cada uma. Nem tudo isso tem tempo indeterminado e às vezes o desastre é maior que a delicadeza. É do que se queixam, o encanto acaba.. ou a pessoa se mostra?

Ben a trata bem, mas permanece fechado num casulo que Melinda tenta furar. Talvez por curiosidade, talvez por idealização de que dê certo, talvez por frustrar-se em não realizar um grande feito, talvez por querer ajudar. O que ela precisa saber é que o tempo é mano velho e bem mais experiente que ela. Ouça, Melinda, ouça aquela serenidade que te soprou um vento geladinho na face um tempo atrás. Ouça que é bom se jogar, mas lembra da cautela que a Lorena se orgulhou em ouvir. Você sabe o que quer, não perca o foco.

O que Hesse queria me dizer não devia ser que eu lutasse pra alcançar, mas que eu pensasse se vale mais a pena esperar que as coisas "simplesmente" aconteçam. Direcionar é melhor?
Se é outra entidade que vai se responsabilizar, eu entrego as cartas.. assim é tão melhor!
Já me disse uma vez que é mais fácil jogar a culpa no outro. Pois bem, ela é toda sua, faça o que quiser, eu vou ali viver e já volto.

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